Avisos de advertência em refrigerantes detêm compradores
Estudo mostra que alertas sobre doenças em rótulos de bebidas açucaradas podem mudar a mente das pessoas – semelhante ao que se faz com cigarro
Imagine a cena: na seção de refrigerantes, achocolatados e outras bebidas com muito açúcar, todos os rótulos possuem fileiras de dentes podres. Advertências como a incidência de doenças (desde cáries até diabetes) também estão lá. Isso impediria você de comprar uma Coca-Cola? Independentemente da sua resposta, um estudo no Reino Unido mostrou que essa medida mudaria, sim, a mente de muita gente.
A epidemia de obesidade é alimentada por produtos com alto teor de açúcares. No Reino Unido, o açúcar foi taxado com a expectativa de que as vendas caíssem. Mas especialistas em obesidade afirmam que é preciso ainda mais, e daí veio a ideia das advertências.
Para testar como as pessoas reagiriam aos produtos com rótulos assim, foi feito um experimento. Os participantes foram convidados a simular uma compra em uma seção com 15 bebidas possíveis de escolha (umas bem açucaradas e outras sem açúcar). Algumas opções não possuíam rótulos, outras carregavam estrelas indicativas de saúde, e por último havia as com advertências. Foram usados tipos diferentes de avisos: desde textos simples, sobre o risco de doenças ou o número de colheres de chá de açúcar usadas, até as famigeradas imagens de dentes podres. A ideia foi da professora Anna Peeters, da Universidade Deakin, na Austrália, e de sua equipe.
Os resultados: todas as unidades com advertências foram menos compradas, e a redução chegou a 20% para os exemplares com imagens de dentes podres. Peeters comenta que se houvesse permissão política para o uso de advertências gráficas, que possuem um efeito bem mais forte, seria a medida ideal. Uma advertência por escrito sobre o risco elevado de diabetes tipo 2 como resultado da obesidade não teria o mesmo impacto que uma imagem, disse ela, “a menos que você opte por amputações”, que podem ser consequência da doença.
Esse teste comprova o que a psicologia já afirmava com cigarros. A opção por imagens chocantes como advertência torna o produto menos atraente para jovens e motiva fumantes a procurarem tratamento para a dependência. Se nos rótulos dos maços tivesse apenas avisos por escrito sobre possíveis doenças, o efeito certamente não seria o mesmo.
O importante é que o estudo com bebidas açucaradas mostrou o poder desses alertas no comportamento das pessoas. No Brasil, já se consome quase o dobro da quantidade de açúcar recomendada pela OMS (18 kg por ano é o ideal; o brasileiro consome cerca de 30 kg), e os índices de obesidade só crescem. Uma medida única não reverterá a crise, mas até que a introdução desses rótulos poderiam dar uma mãozinha para o problema. Ao menos não vão poder dizer que ninguém avisou.