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Algumas pessoas são imunes ao HIV. Seriam elas a chave para uma cura?

Conheça a mutação no gene CCR5, o mecanismo por trás dos únicos 7 casos de cura definitiva do HIV.

Por Bruno Carbinatto
8 set 2025, 12h30

Em 1995, o americano Timothy Ray Brown descobriu que tinha HIV. Onze anos depois, em 2006, ele também foi diagnosticado com leucemia mielogênica aguda, um tipo de câncer no sangue. As duas notícias trágicas, paradoxalmente, culminaram numa conclusão histórica: em 2007, Brown se tornou a primeira pessoa a ser totalmente curada da infecção por HIV. Como isso foi possível?

Algumas pessoas são naturalmente resistentes – ou até imunes – ao vírus HIV. Esse antivírus natural é fruto de uma mutação no gene CCR5, que codifica uma proteína de mesmo nome. 

O HIV é um vírus que infecta as células do sistema imunológico dos humanos, e exatamente por isso é tão difícil de combater. Hoje, há tratamentos que conseguem controlar muito bem a infecção, impedindo o desenvolvimento da AIDS e garantindo uma vida perfeitamente normal aos tratados, mas é preciso tomá-los para a vida inteira. Curar definitivamente a doença, porém, ainda é um passo difícil. Mas não é impossível.

Para entrar nos glóbulos brancos e começar a infecção em um humano, o vírus precisa se ligar a dois receptores – a molécula CD4 e a proteína CCR5. 

Algumas pessoas, no entanto, possuem uma mutação no gene que traz a receita do CCR5, chamada de CCR5-Δ32 ou delta-32. Nessa variante, 32 pares de bases são excluídas do gene, e as proteínas fabricadas pelo indivíduo são defeituosas. Suas células possuem versões distintas dessa “fechadura”, e o HIV não consegue se ligar a elas e começar sua infecção. O resultado é que a pessoa fica altamente resistente ao vírus.

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Quando o americano Timothy Brown precisou de um transplante de medula óssea – tecido responsável por fabricar as células sanguíneas como os leucócitos (glóbulos brancos) e as hemácias (glóbulos vermelhos) – para tratar seu câncer, os médicos tiveram a ideia de procurar um doador que possuía a mutação CCR5-Δ32. Dessa forma, Brown passou a produzir glóbulos brancos mutantes, que o HIV que já existia em seu corpo não conseguia mais parasitar. Depois de anos de acompanhamento, os exames confirmaram: não havia mais vírus em seu corpo. Ele estava curado.

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Brown entrou para a história como o “paciente de Berlim”, já que sua identidade ficou anônima por alguns anos antes de ele escolher se apresentar ao mundo. Desde então, pelo menos outras seis pessoas também foram curadas do HIV, passando pelo mesmo protocolo: para tratar leucemia, esses indivíduos receberam transplantes de medula óssea de pessoas imunes ao HIV, e se livraram de vez da infecção.

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O número total de pessoas curadas é baixo, no entanto, porque aplicar o passo a passo em grande escala é inviável. O transplante de medula óssea é um procedimento agressivo e arriscado, só indicado quando realmente é a única opção – como em casos de câncer, por exemplo. Não vale a pena utilizá-lo apenas para tratar o HIV, ainda mais considerando que, hoje em dia, medicamentos antivirais já conseguem controlar a doença com alta eficácia. Além disso, o mero transplante não é garantia de cura: é preciso analisar o paciente por anos para verificar se não houve recorrência da infecção, e, em alguns casos, o vírus continua ativo.

Além disso, a mutação do CCR5-Δ32 é muito rara. Só fica imune à doença quem é homozigoto, ou seja, quem tem duas cópias do gene mutante, uma herdada da mãe e outra do pai. “Essas pessoas praticamente não têm a ‘porta’ CCR5 funcional”, explica Daniela Santoro Rosa, professora associada de Imunologia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Já os heterozigotos ainda produzem um pouco dessa proteína, então podem ser infectados, mas o HIV encontra mais dificuldade para entrar nas células. Por isso, heterozigotos frequentemente apresentam uma progressão da doença mais lenta.”

A mutação da imunidade ao HIV é mais comum em pessoas do norte da Europa, especialmente nos países nórdicos. Estima-se que nessa região, cerca de 10% a 15% das pessoas tenham pelo menos uma cópia da variante, mas só 1% a 2% são homozigotos, ou seja, de fato imunes. A maior prevalência desse superpoder está nas Ilhas Faroe, um território da Dinamarca, onde 2,3% da população tem o antivírus instalado. Em populações com pouca ou nenhuma herança genética europeia, a mutação é muito mais rara.

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Apesar disso, há pesquisas que tentam explorar esse mecanismo para tratar – e quem sabe curar – o HIV. Um exemplo é o medicamento maraviroque (vendido sob o nome comercial Celsentri ou Selzentry), um antiviral que funciona como um bloqueador da proteína CCR5, tornando a entrada do vírus na célula mais difícil. Atualmente, ele é usado em combinação com outros remédios para controlar a infecção e não é a cura definitiva. Outros medicamentos parecidos, como o leronlimabe (PRO 140), também estão em estudo.

Há ainda a ideia de se usar ferramentas de edição genética, como o CRISPR-Cas9, para alterar o gene CCR5 e assim “apagar” as proteínas das células do portador. 

Tudo isso, no entanto, ainda está em fase de teste. E ainda há um último porém: “Essa resistência serve apenas para os tipos de HIV que dependem do CCR5”, explica Daniela Santoro. “Existem variantes, mais raras, que conseguem usar uma ‘porta alternativa’, chamada CXCR4.” 

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