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Afinal, por que estão espionando o Brasil?

Primeiro os EUA, agora o Canadá. Como nosso país tropical, abençoado por Deus e pacífico por natureza entrou na mira internacional? A resposta pode estar, ou melhor, passar pelo fundo do mar

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h00 - Publicado em 24 fev 2014, 22h00
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    Alexandre Rodrigues

    Primeiro, foi a revelação de que a NSA, a agência de segurança interna americana, espiona e-mails e comunicações dos brasileiros, do governo e até da presidente Dilma Rousseff. Em outubro, outro escândalo: o Canadá também monitora mensagens brasileiras. Os dois casos deixaram muita gente curiosa. Afinal, qual o interesse dos dois países no Brasil? Por que justamente ele, parceiro das potências ocidentais e sem tradição recente de extremismo político ou religioso?

    Talvez não seja bem no Brasil. Nosso litoral é uma das principais conexões (os chamados hubs) da rede de cabos submarinos de fibra ótica que transmite grandes quantidades de dados entre os países. É essa rede que permite a existência da internet. Atualmente, são 900 mil quilômetros de cabos conectando todos os continentes – muitos dados que partem do Oriente Médio para a África, por exemplo, passa pelo nosso pedaço do Oceano Atlântico. Espionar o Brasil poderia ser um jeito de xeretar toda a troca de mensagens entre alguns recantos antiamericanos. Esse seria o real interesse das agências de inteligência.

    Caiu na rede é dado

    Uns 80% das conexões de internet ainda passam pelos Estados Unidos, onde ocorre o grosso da espionagem. A América Latina depende muito dos cabos dos EUA – um e-mail de Buenos Aires para Montevidéu pode passar por Miami (e ser grampeado) antes de chegar ao seu destino. Mas o Brasil não depende tanto assim dos americanos: devido à sua posição geográfica, se tornou um dos principais hubs do Hemisfério Sul.

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    Este ano, por exemplo, foi inaugurada a Seabras-1, primeira rede a conectar São Paulo a Nova York. O cabo Atlantis-2, em funcionamento desde 1999, reúne as 25 principais operadoras de telecomunicações do mundo e, indo da Argentina à Espanha, conecta a América do Sul, África e Europa, passando pelo litoral de Natal e do Rio de Janeiro. Fora a geografia, a estabilidade política é uma vantagem brasileira. No momento, por exemplo, há preocupação com os cabos próximos ao Egito, que atravessa um terremoto político.

    Não há números precisos, mas em janeiro o Brasil, entre os países espionados pela NSA, estava atrás apenas dos EUA, onde 2,3 bilhões de telefonemas e mensagens foram monitorados. A coleta é feita direto nos backbones, as vias principais por onde passam os dados, aos quais os governos têm acesso com a ajuda das empresas de telecomunicações. Os dados recolhidos vão de telefonemas gravados ao conteúdo de e-mails corporativos e pessoais, posts no Facebook e o histórico de navegação de todo mundo.

    Mas não se preocupe: provavelmente ninguém estava ouvindo aquele telefonema bêbado para a ex de madrugada. Softwares da NSA e da GCHQ (a NSA britânica) olham para os metadados, as informações sobre outros dados. Por exemplo: quem andou ligando para quem ou se comunicando com um determinado endereço de e-mail. Se suspeitam de algo, aí sim os analistas têm tudo gravado para olhar o conteúdo.

    Ainda que seja deplorável gravar a vida privada de inocentes para deter criminosos, o escândalo diplomático não fará a coleta de dados parar. Em janeiro, a NSA e o FBI afirmaram que a espionagem evitou 50 atentados terroristas nos EUA. O próprio Brasil, com a realização de eventos importantes como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada em 2016, certamente recebe informação de agências estrangeiras sobre suspeitos.

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    Cinco olhos

    Mas e o Canadá? Segundo Edward Snowden, o ex-analista da NSA que vazou o escândalo de espionagem, o país não está sozinho. Junto com os EUA, Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia, faz parte dos “Cinco Olhos”, uma aliança entre as inteligências para troca de informações. O Canadá poderia não estar realmente interessado no Brasil, e sim coletando dados para outras agências. Mas, como apontou a imprensa canadense, também há a denúncia de que o Communications Security Establishment Canada (CSEC), o órgão principal de inteligência do país, espionou o Ministério das Minas e Energia, responsável pelos leilões do Campo de Libra, do pré-sal, que deverá gerar um milhão de barris de petróleo por dia.

    Aí fica a suspeita de espionagem industrial, principalmente depois que o jornal inglês The Guardian revelou que as empresas de energia canadenses e a agência de inteligência do país têm relações próximas. O intrigante é que o governo brasileiro esperava a participação das 40 maiores empresas petrolíferas do mundo no leilão de exploração do Campo de Libra, em setembro, mas na última hora só 11 confirmaram o interesse. Nenhuma empresa de qualquer país dos “Cinco Olhos” quis participar. Provavelmente, coincidência. Com certeza, um motivo para alimentar teorias da conspiração.

    *Alexandre Rodrigues é jornalista, escritor e mestre em relações internacionais pela UFRGS.

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    Foto: gettyimages.com

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