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A bola fora bilionária do craque Donald Trump

Ao xingar atletas publicamente, o presidente americano ofendeu bilionários com muito peso no jogo político do país

Por Tiago Jokura Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
27 set 2017, 15h40

Donald Trump é um craque dos esportes americanos. O grosso de sua torcida, de seus eleitores mais apaixonados, tem no coração o Partido Republicano, a Star-Spangled Banner (a “bandeira estrelada” dos EUA), o hino nacional e o esporte mais patriota de todos, que leva o nacionalismo até no nome: sim, falo do football deles, o futebol americano. E esse valores todos não são apenas simbólicos. Valem muita grana também.

Alguns dos grandes patrocinadores da campanha de Trump rumo ao título de 45º presidente dos EUA são donos de times da liga profissional de futebol americano, a National Football League (NFL). Listo apenas três deles:
• Robert Kraft, dono da Kraft Heinz (segunda empresa alimentícia do planeta) e do multicampeão New England Patriots, que doou US$ 1 milhão para a cerimônia de posse de Trump em 2017;
• Shad Khan, dono do Jacksonville Jaguars, que também doou US$ 1 milhão para o comitê organizador da cerimônia de posse;
• Jerry Jones, dono do Dallas Cowboys, time mais valioso do mundo entre todos os esportes (US$ 4,2 bilhões), também doou, indiretamente, para a badalada posse.

Pois Trump conseguiu ser vaiado publicamente pela maioria desses magnatas torcedores no último fim de semana. Kraft, Khan, Jones e mais de uma dezena de donos de times – cujos valores somam quase US$ 35 bilhões – apoiaram protestos de seus atletas e treinadores durante a execução do hino nacional americano, uma cerimônia que, por lei, abre qualquer evento esportivo nos EUA.

A mobilização dos profissionais do futebol americano se deu após um discurso de Trump no Alabama na sexta-feira, dia 22. O presidente gosta de visitar o Sul do país – de maioria republicana, conservadora e nacionalista – quando o Twitter não é o bastante para despejar suas controversas opiniões sobre política internacional, ambiental, racial etc. No Sul, ele pode desabafar sem culpa. Descansar os dedos e soltar o verbo para um público que torce por ele e o aplaude de pé. Mas nessa de jogar para a torcida, Trump escorregou feio.

Para resumir bastante a história, Trump sugeriu que donos de time demitissem ou suspendessem os jogadores que protestassem durante o hino nacional que precede os jogos. A onda de protestos começou com uma andorinha só na temporada de 2016. O jogador do San Francisco 49ers Colin Kaepernick ajoelhou durante o hino nacional no primeiro jogo do campeonato, em protesto contra o racismo nos EUA. A manifestação causou estardalhaço na mídia e entre os fãs do esporte e foi repetida por outros poucos jogadores ao longo do ano. Até que Colin foi pego para Cristo e demitido por supostas questões técnicas – desde então, segue sem emprego na liga, sendo preterido por jogadores de capacidade inferior. Os protestos, porém, continuaram presentes, mas de maneira discreta. Até Trump mexer com a torcida – e com os donos do esporte. “Você não amaria ver um desses donos de time da NFL, quando alguém desrespeita nossa bandeira, dizer ‘Tire esse filho da p* do campo agora. Fora. Ele está demitido! Ele está demitido!'”, bradou o presidente, confiante.

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Foi o suficiente para ofender profundamente a liga inteira, do roupeiro ao proprietário. No domingo, 24 de outubro, todos os times do futebol americano profissional protestaram durante a execução do hino nacional. Os mais moderados fizeram uma corrente humana, com atletas, treinadores e demais membros da equipe entrelaçando os braços enquanto cantavam. O intuito era demonstrar união entre os jogadores e o apoio de todos os profissionais da liga aos que decidem protestar ajoelhados antes de cada jogo.

Alguns outros times mais ousados tiveram a maioria dos jogadores ajoelhados ou sentados enquanto o Star-Spangled Banner (sim, a bandeira também nomeia o hino americano) era entoado, caso do New England Patriots e do Oakland Raiders. E para radicalizar ainda mais a oposição ao intrometimento de Trump nas liberdades individuais dos atletas, três agremiações nem subiram a campo na hora do hino. Pittsburgh Steelers, Seattle Seahawks e Tennessee Titans ficaram no vestiário até o fim da canção – e só então foram para o jogo.

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Engrossando o coro dos atletas, os proprietários mencionados no início do texto e muitos outros se manifestaram. A maioria, por notas oficiais dos clubes nas redes sociais, mas alguns, como Shad Kahn e Jerry Jones, protestando junto com o time, à beira do campo, para todo mundo ver.

Por causa dessa bola fora doméstica – e bilionária –, jogada despretensiosamente no quintal de casa, Donald Trump é mais um craque dos esportes americanos ameaçado de ficar sem patrocínio e sem contrato – para a próxima temporada presidencial.

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