Que alimentos estão em risco de extinção?
Mais de 750 produtos alimentícios estão ameaçados de sumir
Mais de 750 produtos alimentícios, de 48 países, estão ameaçados de sumir. O levantamento, batizado de Arca do Gosto, é feito pela ONG internacional Slow Food desde 1996. “Além do risco de sumir do mapa, para estar na lista, o alimento deve ter excelência gastronômica (rico em cheiro, sabor e textura), estar ligado ao contexto e à memória de uma comunidade, ser feito de modo artesanal e, de preferência, sustentável”, diz a nutricionista Neide Rigo, membro da comissão brasileira que analisa a entrada de produtos na lista negra. As principais razões que levam um alimento à zona de risco são: perda da tradição no modo de preparo; produção complexa; coleta não sustentável; localização do produto em área devastada; e desinteresse mercadológico, que faz com que produtores desistam de cultivar determinadas espécies.
BRASILEIROS EM RISCO
Dentre os 23 alimentos nacionais ameaçados estão: umbu – fruta do Nordeste -, arroz vermelho, néctar de abelha, castanha de baru, palmito-babaçu e pirarucu – peixe amazônico
Natureza (quase) morta
Aprecie algumas das centenas de plantas, animais e alimentos processados que podem virar peça de museu
MARMELADA DE SANTA LUZIA
PAÍS – Brasil
AMEAÇAS – Perda da tradição e desinteresse mercadológico
Surgiu em comunidades de descendentes de escravos na região de Luiziânia, Goiás. Desde o século 17, a receita é passada de geração a geração, e hoje está nas mãos de 30 famílias. O volume de produção é pouco, atendendo regiões vizinhas
ARATU
PAÍS – Brasil
AMEAÇAS – Coleta não sustentável e devastação ambiental
O caranguejo vermelho está cada vez mais raro nos mangues de Sergipe. Isso se deve à captura de aratus pequenos e fêmeas em fase reprodutiva. Toxinas liberadas pela ração dada a camarões criados na região também dizimam os aratus
PALMITO-JUÇARA
PAÍS – Brasil
AMEAÇA – Coleta não sustentável
A variedade de palmito mais ameaçada cresce em áreas de mata Atlântica no Sul e no Sudeste do país. Extraído de modo predatório há décadas, o alimento só não desapareceu por causa do plantio de palmeiras juçara em reservas indígenas
ASPARGO VIOLETA DE ALBENGA
PAÍS – Itália
AMEAÇAS – Produção complicada e desinteresse mercadológico
Esta variedade demora para ser colhida e requer técnicas de cultivo e colheita que a encarecem, diminuindo o interesse dos produtores. Em 1930, chegou a ser cultivado em mais de 300 hectares. Nos anos 2000, a área não passa de 10 hectares
HIDROMEL
PAÍS – Polônia
AMEAÇAS – Perda da tradição e produção complexa
A bebida caseira, feita com uma parte de água e duas de mel, se parece com um vinho licoroso. Apenas um produtor segue a antiga receita, aprendida com a mãe. O hidromel deve envelhecer por até sete anos antes de ser servido
MAÇÃ ESPERIEGA
PAÍS – Espanha
AMEAÇA Desinteresse mercadológico
A partir dos anos 70, o comércio local passou a lucrar mais com maçãs vindas dos EUA e as Esperiega foram sumindo. Graças a um grupo de jovens agricultores, a variedade está sendo reintroduzida no mercado
CACAU BARLAVENTO
PAÍS – Venezuela
AMEAÇAS – Devastação ambiental e desinteresse mercadológico
Além da concorrência dos cacaus da Indonésia e da Malásia, uma enchente destruiu um terço de sua área produtiva. De importância histórica para comunidades indígenas venezuelanas, o alimento ainda é produzido em pequena quantidade
CEBOLA SAPPOROKII
PAÍS – Japão
AMEAÇAS – Produção complexa e desinteresse mercadológico
O cultivo requer colocar sementes em uma estufa, transplantá-las na terra e colhê-las após sete meses. Além do longo e custoso processo, a variedade é vulnerável a doenças. Dos 70 mil hectares cultivados nos anos 70, restam 20 mil
MELÃO DE MONTREAL
PAÍS – Canadá
AMEAÇAS – Desinteresse mercadológico e produção complexa
Até meados dos anos 90 achava-se que a fruta estivesse extinta. Como o cultivo requer cuidados intensivos e transporte especial para frutas grandes e frágeis, o mercado passou a preferir espécies menos complicadas e mais baratas
CHEDDAR ARTESANAL SOMERSET
PAÍS – Inglaterra
AMEAÇA – Perda da tradição
Este cheddar esbranquiçado é feito com leite cru e uma bactéria típica de Somerset. A procura começou a cair nos anos 50, com o uso de leite pasteurizado na produção local de queijos. Só 5% dos produtores seguem a tradição no preparo
MERKEN
PAÍS – Chile
AMEAÇA – Desinteresse mercadológico
Esta pimenta vermelha defumada já foi muito popular entre os chilenos. As novas gerações não dão mais tanto valor ao produto por enxergá-lo como sinônimo de pobreza e de influências indianas no país
Consultoria – Neide Rigo, nutricionista e membro da comissão brasileira da Arca do Gosto; Cenia Salles, pesquisadora e consultora gastronômica, líder do Convivium São Paulo da Sloq Food Brasil