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Qual é a origem da astrologia? Quem ajudou a criá-la?

Com a astrologia, povos aprenderam a observar os planetas e movimentos celestes. Tal conhecimento ajudou a desenvolver a agricultura e a própria ciência

Por Marcelo Testoni
Atualizado em 22 fev 2024, 10h08 - Publicado em 19 dez 2017, 16h29
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Os seres humanos nunca precisaram de tecnologia de ponta para estudar os astros. O Stonehenge, aquele famoso círculo de rochas do Reino Unido, é a maior prova disso: erguido há mais de 3 mil anos, está de pé até hoje, feito só de pedra sobre pedra. A grande sacada do dominó gigante é marcar a posição do Sol ao longo do ano. Assim, os bisavós dos ingleses puderam definir a hora certa de plantar ou colher a lavoura. Bastava interpretar as sombras.

Já no Neolítico, 10 mil anos atrás, sociedades primitivas faziam uso de relógios cósmicos. As ferramentas ajudavam as tribos nos preparativos para o inverno e orientaram as primeiras plantações da História. Quando ficou claro que sabedoria celeste era sinônimo de abundância de comida, agricultura e astronomia passaram a crescer juntas.

Na Mesopotâmia, atual Iraque e berço das primeiras grandes lavouras da humanidade, arqueólogos descobriram tabuletas de argila com previsões de eclipses lunares e solares datadas de 1.000 a.C. Também encontraram mapas astrais que relacionavam mudanças no céu a intempéries terrenas, como tempestades e secas severas. Essas primeiras previsões foram feitas pelos assírios e babilônios que logo se estabeleceram na área.

Pouco a pouco, observações relativamente simplórias deram lugar a um sistema padronizado, que repartia o céu em 12 faixas, correspondentes aos 12 signos do zodíaco conhecidos até hoje. O esquema cruzava os ciclos da Lua e do Sol com os dos demais astros, anotava suas repetições e assim marcava a passagem do tempo. Mais tarde, viria o calendário detalhado, com 365 dias.

ECLIPSE, O GRANDE

O que os mesopotâmicos descobriram logo foi vazado para seus vizinhos. Quem primeiro usou os estudos foram os egípcios e os gregos. Depois, os persas aprimoraram o conhecimento pelas mãos de seus magos. No século 4 a.C., as conquistas de Alexandre, o Grande, formaram um bloco único de território onde o saber foi padronizado e o troca-troca cultural e científico teve ainda mais impulso.

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No apogeu de Roma, a astrologia era bem recebida pela nobreza. O imperador Adriano, por exemplo, que reinou até o ano 138, não tomava uma decisão sem antes consultar seu astrólogo particular. Foi mais ou menos nesse período que o matemático grego Cláudio Ptolomeu lançou a teoria do Almagesto, de que todo o Sistema Solar girava em torno da Terra.

Embora estivesse totalmente errado, seu estudo foi o primeiro a tentar explicar as engrenagens do Cosmos. O projeto impulsionou a criação de outras obras, como o Tetrabiblos, uma coletânea de quatro livros sobre como interpretar cada um dos planetas e, a partir daí, traçar um mapa astral e calcular a longevidade individual de alguém.

Com tantas publicações surgindo sobre o assunto, não demorou para que Ptolomeu e um séquito de novos experts repartissem a astrologia em quatro correntes fundamentais. De estreia, a “mundana” buscava prever clima, guerras e eventos capazes de decidir o rumo da sociedade. Na sequência, a “natal” se concentrava nos desdobramentos após a data de nascimento de alguém ou de algo; a “horária” era calcada na hora como fator determinante para a elaboração do mapa astral; e a “eletiva” era a busca por eleger o melhor momento para tomar decisões.

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MAPEAR É PRECISO

Segundo os historiadores, os três reis magos – famosos pela mitologia em torno de Jesus – foram inspirados em sacerdotes do zoroastrismo, uma religião persa ligada à astrologia. Daí a importância da “estrela de Belém” que os guiou à manjedoura do Messias e o trecho “vindos do Oriente”, do Evangelho de Mateus, na Bíblia, que faz alusão à sua origem, a antiga Pérsia (hoje Irã).

Com Roma saindo de cena no ano de 476, data em que o tirano Rômulo Augusto foi deposto, o conhecimento astrológico ocidental estagnou. O mundo adentrou a Idade Média e o Islã ascendeu ao trono global, tomando para si um a um os territórios gregos e persas e encontrando neles os principais livros sobre o tema, que foram transcritos para o árabe.

Com as Cruzadas, os cristãos descobriram que os muçulmanos haviam avançado a partir da astrologia rumo à matemática e às artes. Até a alquimia, precursora da química moderna, se beneficiou, pois as pesquisas sobre a relação entre metais e planetas se intensificaram.

Eis que o Renascimento surge na Europa na virada dos 1500 e, com ele, a disciplina torna-se a queridinha da vez. Alguns dos principais nomes da época, como Girolamo Cardano, pai da álgebra moderna, Cristóvão Colombo, descobridor das Américas, e Fernão de Magalhães, responsável pela primeira volta ao mundo pelo mar, devem muito à astrologia. Afinal, todos encontraram o sucesso por meio de tabelas e mapas planetários.

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Foi também no tempo dos descobrimentos que o matemático polonês Nicolau Copérnico desenvolveu a teoria heliocêntrica, que desbancou a tese de Ptolomeu ao sugerir que o Sol, e não a Terra, estaria no centro do Universo. No entanto, por ser contrário aos ensinamentos bíblicos, a Igreja vetou o estudo.

Continuando o trabalho iniciado por Copérnico, o nobre dinamarquês Tycho Brahe tentou juntar as ideias do predecessor com as de Ptolomeu e, sem querer contestar os dogmas cristãos, criou uma teoria em que o Sol e a Lua giravam ao redor da Terra, enquanto os demais planetas orbitavam o Sol. Tamanha criatividade permitiu a Brahe construir um imenso observatório (bem antes da criação do telescópio), onde, às escondidas, professava astrologia para alunos e desenvolvia mapas astrais para clientes poderosos.

XEQUE-MATE DO UNIVERSO

Tycho Brahe manteve como assistente o alemão Johannes Kepler até o dia de sua morte. O auxiliar é, inclusive, o principal suspeito de assassinar o mestre e se apoderar de suas pesquisas. Mas, apesar das muitas especulações, Kepler foi aceito como sucessor natural de Brahe e usou seus cálculos e dados para afirmar que certo mesmo era o modelo proposto por Copérnico. Ponto para o heliocentrismo, ainda em 1601.

Ele também provou que as órbitas dos planetas não formavam círculos, mas elipses, ou “círculos” com pontas alongadas. Apesar de tratar a astrologia de maneira científica e consciente, Kepler foi ao extremo de prever a própria morte em um mapa astral, em 1630 – estava convencido da interação entre planetas e almas individuais.

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Sua carreira foi um divisor de águas para a astrologia, pois marcou tanto o ápice da disciplina quanto o início de seu racha com a ciência. Copérnico também é culpado disso: ao propor o Sol no centro do Universo, difundiu o pensamento de que a vida humana é uma parte ínfima num sistema voltado, na verdade, a outro astro que não a Terra. O golpe acadêmico final foi dado pela astronomia moderna, criada no século 18.

Em 1990, a Nasa revelou uma foto da Terra tirada do espaço por uma sonda espacial a uma distância de 6,4 bilhões de quilômetros, provando o quão pequenos somos diante da magnitude do Cosmos. Cabe acreditar que, sem a astrologia, talvez a ciência nunca tivesse avançado tanto.

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FONTES Livros Ombros de Gigantes: A História da Astronomia em Quadrinhos, de Jane Gregorio-Hetem, Annibal Hetem Junior e Marlon Tenório; A Bruxa de Kepler, de James A. Connor; e Rumo ao Infinito, de Salvador Nogueira.

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CONSULTORIA Irineu Rabuke, teólogo da PUCRS

Ombros de gigantes: a história da astronomia em quadrinhos

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