Por que pessoas que testemunham uma tragédia nem sempre ajudam?
Conheça a síndrome que "impede" testemunhas de intervir em um crime, cujo nome foi inspirado num caso real ocorrido em Nova York nos anos 60
PERGUNTA Gabriel Aniceto, São Paulo, SP
Elas podem estar sofrendo de uma síndrome conhecida na psicologia como Efeito Genovese – atualmente, mais chamada de Efeito Espectador. Ela acomete testemunhas de atos de violência, impedindo-as de intervir.
O nome vem do assassinato de Kitty Genovese, uma garota de 28 anos, em 13 de março de 1964, em Nova York. Durante meia hora, ela foi estuprada e esfaqueada. O criminoso ainda voltou à cena, dez minutos depois, para terminar de matá-la. Segundo os registros, 38 pessoas testemunharam o ataque – e não fizeram nada.
Quatro anos depois, os professores de psicologia John Darley e Bibb Latané analisaram o caso para tentar definir que causas e condições levam o indivíduo a decidir não ajudar o próximo. Em um dos experimentos, em uma sala fechada, um ator fingia passar mal diante da “cobaia”. Quando a cobaia estava sozinha, ela ajudava em 70% das vezes. Mas, se estava num grupo (com outros atores que sabiam do teste), a taxa de socorro caía para 40%. Ou seja, quanto mais pessoas testemunhando o problema passivamente, maior a chance de a passividade continuar.
Em 2007, investigações retomaram o caso de Genovese e concluíram que a apatia não foi tão intensa assim. A quantidade real de testemunhas era, no máximo, metade do que havia sido registrado. A maioria apenas escutou o ataque, sem conseguir definir onde ele estava acontecendo e, por isso, não pôde ajudar. E ao menos uma pessoa chamou, sim, a polícia.
O Efeito Espectador, porém, segue sendo estudado na teoria – e ocorrendo na prática. Estudiosos acreditam até que celulares ampliaram o problema: agora, as pessoas preferem fotografar e filmar, em vez de ajudar.
Existem seis fatores que criam o Efeito Espectador, exemplificados na ilustração acima:
1) Suposição de ajuda
A ideia de que outras pessoas que estão observando o acontecimento ajudarão a vítima
2) Tendência de interpretação equivocada
A percepção de que a situação não seja tão séria, já que asoutras pessoas não estão reagindo
3) Difusão de responsabilidade
Se for possível “dividir” a responsabilidade pelo ocorrido com outros espectadores, a pressão para intervir cai consideravelmente
4) Sensação de inadequação social
É a crença de que, caso você seja o único a ajudar, se sentirá esquisito diante dos outros
5) Busca por pistas sociais
A decisão inconsciente de “não desafiar o grupo” leva o indivíduo a, antes de auxiliar, checar como os outros estão se comportando
6) Ambiguidade das situações
É a incerteza na avaliação do risco e das consequências para o indivíduo, caso ele preste socorro
FONTES Revistas Journal of Personality and Social Psychology (artigos The Kitty Genovese Murder and the Social Psychology of Helping: The Parable of the 38 Witnesses e Bystander Intervention in Emergencies: Diffusion of Responsibility) e Journal of Learning Sciences (artigo The Bystander Effect: A Lens for Understanding Patterns of Participation)