Pergunta do TdF Pedro Grego
Ilustra Marcos de Lima
Edição Felipe van Deursen
Depende. Antes de mais nada, é importante entender uma diferença: prótese é todo equipamento artificial que substitui um membro perdido. Ela é diferente de implante, um mecanismo que é acrescentado a algo que já existe. Silicone nos seios ou marcapasso no coração são implantes. Já as próteses podem substituir dentes, joelhos, olhos, nariz, ossos do rosto, partes dos quadris… As dentárias são as próteses mais comuns no mundo, mas as de pernas e mãos estão em alta e vão se multiplicar nos próximos anos. A culpa é da obesidade, que provoca diabetes, a causa mais comum para a amputação de extremidades, principalmente a área abaixo do joelho.
Novos movimentos
O passo a passo da construção e da colocação de um membro artificial
PROCESSO ARTESANAL
Um médico ortopedista lidera o time, que tem também um engenheiro elétrico especialista em próteses, que tira medidas do paciente (se possível, antes da amputação) e projeta o molde. A peça precisa ter o mesmo comprimento do membro original, mas alguns detalhes podem ser diferentes: mãos artificiais com dedos um pouco maiores, por exemplo, são mais fáceis de construir e de aprender a usar
MOTORES A MIL
A equipe instala um sistema de sensores e motores para a área do antebraço ou da panturrilha, fazendo ajustes necessários. Quanto mais motores, mais natural o movimento. O esqueleto do novo membro é formado por feixes de aço inox ou titânio. Nos implantes de braços, as mãos são um desafio, pois o sistema de articulações é complexo. Há modelos de mãos robóticas ou, simplesmente, botões que o paciente aciona para fazer movimentos pouco complexos
DUAS OPÇÕES
Há dois modelos de prótese: nas cirúrgicas, irremovíveis, os nervos próximos ao membro amputado estão mortos, então uma operação é feita para ligar os nervos do tórax à área da prótese. Já as próteses externas podem ser retiradas sempre que o paciente quiser. Ela possuem um bolsão na extremidade e são encaixadas no corpo. A desvantagem é que possibilitam menos movimentos
PELE SOB MEDIDA
Sobre a estrutura de esqueleto metálico, motores e microprocessadores, vem a cobertura, feita de cerâmica, polímeros ou silicone. Em geral, os especialistas não recomendam que a cor seja parecida demais com a da pele, para que o paciente se adapte mais facilmente e não tente encarar a peça como algo de carne e osso. Em todo caso, há capas de silicone que dão à prótese um aspecto natural
UNIDOS PARA SEMPRE
A ligação de nervos a sensores do braço mecânico deixa os movimentos mais naturais. Implantado cirurgicamente, o braço ou a perna se movimenta de acordo com o desejo do usuário. Mas o preço é alto: uma mão biônica pode custar R$ 320 mil, fora a mão de obra do médico (cerca de R$ 80 mil). Ainda não é possível recuperar o sentido do tato, mas há pesquisas promissoras na área
Recuperação dolorosa
Os novos membros requerem muito mais do que apenas a cirurgia
No caso do implante definitivo de membros artificiais, a cirurgia é só o começo. Depois de se recuperar do processo cirúrgico em si, tanto o da amputação quanto o do implante, o paciente começa um longo processo de adaptação, que inclui tomar medicamentos para diminuir a rejeição do organismo. Há também meses de fisioterapia para aprender a usar o novo membro. Se a rejeição emocional for forte demais, será preciso ir a um psicólogo. No caso de crianças, é preciso trocar as próteses com frequência, para acompanhar o crescimento do paciente
Um mundo de amputados
Diabetes é a grande causa. Mas ainda há as guerras
- Nos Estados Unidos, o número de vítimas de amputação deverá dobrar até 2050. Serão mais de 3,6 milhões sem partes das pernas ou dos braços
- De todas as amputações realizadas todos os anos no Brasil, 70% são provocadas por problemas vasculares decorrentes da diabetes
- De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 2 milhões de pessoas têm pernas ou braços amputados todos os anos por culpa de guerras e conflitos
- Dependendo do tipo, as próteses podem durar até 20 anos. O acompanhamento médico é necessário para conferir se as peças não precisam ser trocadas antes
Consultoria Grant McGimpsey, vice-presidente de pesquisa em bioengenharia da Universidade Estadual de Kent (EUA)
Fontes Ministério da Saúde, Associação Brasileira da Indústria Médica, Odontológica e Hospitalar (Abimo) e Advanced Platform Technology Center (APTC)