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Como era uma viagem marítima no tempo dos descobrimentos?

Não era nada fácil...

Por Roberto Navarro
Atualizado em 22 fev 2024, 11h08 - Publicado em 18 abr 2011, 18h51

Extremamente desconfortável, insalubre e perigosa. Em média, a cada três navios que partiam de Portugal nos séculos 16 e 17, um afundava. Cerca de 40% da tripulação morria nas viagens, vítimas não só de naufrágios, mas também de ataques piratas, doenças e choques com nativos dos locais visitados. Quem sobrevivia ainda tinha que aguentar o insuportável mau cheiro a bordo e as acomodações precárias. “Nas cobertas inferiores (onde as pessoas dormiam), o ar e a luz eram escassos, sendo fornecidos apenas por fendas entre as madeiras, que deixavam passar também a água do mar, tornando os porões abafados, quentes e úmidos”, diz o historiador Fábio Pestana Ramos, da Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban). Se o alojamento era ruim, a dieta era pior ainda. As caravelas nunca levavam a quantidade ideal de comida, o que estimulava um mercado negro a bordo. Os oficiais mais graduados controlavam o negócio, vendendo produtos, como frutas, por exemplo, a quem pagasse mais.

Quem não tinha dinheiro e via os alimentos se esgotarem caçava ratos e baratas, que infestavam os navios, para sobreviver. Nesse ambiente de luta pela sobrevivência, os motins se tornavam comuns e eram reprimidos com brutalidade pelos oficiais, que andavam com espada, adaga e pistolas. A falta de segurança ainda era agravada pela má conservação dos barcos, que em muitas ocasiões tinham cascos apodrecidos e velas desgastadas. Mesmo com tantos problemas essas embarcações valiam fortunas. “Em meados do século 16, uma caravela aparelhada para 120 tripulantes custava em torno de 75 quilos de ouro, o equivalente à compra de 758 mil escravos africanos”, afirma Fábio. A caravela se tornou o mais famoso tipo de navio usado nas jornadas dos descobrimentos, mas havia também a nau, embarcação mais lenta, mas que possuía maior capacidade de carga e podia levar um número maior de canhões e tripulantes.

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Pesadelo em alto-mar
Numa nau do século 16, cerca de 500 pessoas conviviam sem banheiro, havia estupros e crianças dormiam no convés

1. Camarote VIP
Em geral, o espaço para acomodar tripulantes e passageiros numa nau era de apenas 50 cm2 por pessoa! Já o capitão do navio normalmente tinha direito a um camarote individual, com 2,2 m2. Oficiais e membros da alta nobreza não tinham esse privilégio, embora pudessem contar com um espaço maior que os apertadíssimos 50 cm2

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2. Muvuca infernal

Uma nau comportava cerca de 500 pessoas. Tripulantes e passageiros dormiam no mesmo espaço, em estreitos beliches com até quatro andares. Pior viagem faziam os grumetes, crianças entre 7 e 16 anos que formavam o grosso da tripulação. Alistados à força pelos pais (por causa dos salários), os aprendizes de marinheiros dormiam no convés

3. Banheiro perigoso

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A higiene a bordo era bastante precária. Banho, nem pensar, o que fazia proliferar pulgas, piolhos e percevejos. Os mais ricos usavam penicos, esvaziados no mar por criados. A maioria dos homens e mulheres, porém, tinha que se aliviar à vista de todos, debruçando-se no costado da embarcação, com risco até de cair no mar

4. Saúde à deriva

Ter um médico a bordo era raridade e os doentes eram tratados no improviso — principalmente com sangrias, que podiam transformar uma indisposição em anemia mortal. A falta de vitamina C na alimentação provocava escorbuto, doença que apodrecia as gengivas e fazia cair os dentes. Era comum a disenteria, a febre tifóide e a varíola

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5. Para passar o tempo

A lotação do barco, as suas más condições e o excesso de tempo livre faziam surgir tensões entre os viajantes. Para aliviá-las, os oficiais organizavam, com a ajuda de religiosos, missas, procissões e encenações de peças contando a vida dos santos. Mas a distração predileta dos marujos era mesmo um bom jogo de cartas a dinheiro

6. Sexo forçado

Havia uma proporção média de uma mulher para cada 50 homens numa embarcação. Grupos de marinheiros ficavam à espreita e, quando surgia uma oportunidade, podiam estuprar algumas mulheres, mesmo as casadas. Às vezes, prostitutas embarcavam, mesmo assim o homossexualismo costumava ser freqüente entre os marujos

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7. Saber é poder

Instalado numa cadeira na popa (parte de trás do navio), o piloto era quem realmente comandava a embarcação e sua autoridade técnica não era contestada nem pelo capitão, que tinha um comando mais político da tripulação. O piloto trabalhava ao lado do timoneiro, fazendo cálculos de navegação com instrumentos como astrolábios e bússolas primitivas

8. Dieta restrita

A quantidade de comida era reduzida e a dieta pobre em vitaminas. Um cozinheiro fazia pão e preparava a carne salgada, servida esporadicamente. As provisões incluíam biscoitos, bacalhau, lentilha, alho, cebola, açúcar, farinha, água (muitas vezes contaminada) e vinho. Para garantir algo fresco, eram levados uns poucos animais vivos, em geral galinhas

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