Como é um treinamento de falcoaria?
O treinamento da falcoaria exige que a ave se acostume com a presença de humanos, seja condicionada a receber comandos verbais e, depois, aprenda a caçar
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É um longo processo que envolve acostumar a ave a receber comandos e ensiná-la a caçar. Na verdade, a técnica mudou relativamente pouco desde que essa tradição surgiu, há mais de 4 mil anos, na Ásia Central (provavelmente entre a China e a antiga Pérsia).
A falcoaria se tornou particularmente popular na Idade Média, já que a posse de um falcão selvagem era um símbolo de status. Mas mesmo os camponeses também a praticavam, para obter alimentos. Hoje, é mais encarada como um hobby e um método de reabilitação do animal.
No Brasil, como a caça é proibida, a falcoaria é usada principalmente no controle de pragas em aeroportos, hospitais e galpões.
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Escola de caça
Recomenda-se começar o treino aos 60 dias de vida
1) Primeiro, o falcoeiro deve preparar o bolso. No Brasil, o valor de uma espécie de rapina varia de R$ 1.000 a R$ 10 mil. Os equipamentos saem por cerca de R$ 500, mas um transmissor para rastrear a mascote (caso fuja) pode elevar o total a R$ 5 mil. Para a alimentação, é preciso desembolsar entre R$ 50 e R$ 300 por mês. E ainda rolam as consultas com veterinários.
2) A primeira lição da ave é se acostumar com a presença do treinador e não se incomodar com movimentos, barulhos ou outros estímulos. É o amansamento, que pode durar entre sete e 15 dias. O bicho deve passar o máximo de tempo possível no punho enluvado do dono. Mesmo quando o dono dorme ou faz atividades cotidianas, como ir à padaria!
3) Agora que o treinador conquistou a confiança da ave, ele passa a segurar pedaços de carne, oferecendo-os ao animal, que deve “saltar” até seu punho para pegá-los. O objetivo é condicionar o falcão a entender que a luva equivale a alimento e, portanto, estimulá-lo a sempre voltar para ela. Inicialmente, esses saltos são simples – do poleiro até o punho, mas podem ir ganhando distância.
4) Preso a uma fina corda de aproximadamente 15 m, é o momento de o bicho fazer seus primeiros voos controlados – novamente, rumo ao punho e recompensado com carne. Mas, desta vez, a oferta de comida é acompanhada do soar de um apito. O falcão começa a associar o barulho com o alimento e a autorização do voo. Com o tempo, a extensão da corda é ampliada.
5) Quando já está voando cerca de 30 m do poleiro até a luva, a ave ganha um novo desafio: voar na direção de uma isca. Geralmente, é um objeto de couro, com a aparência de uma presa e um pouco de carne acoplado. Ele é preso ao fim de uma corda e rodado no ar até o falcão agarrá-lo. Para o treino de águias ou gaviões (vide boxe), a isca é arrastada pelo solo.
6) Após o período de cerca de 20 a 40 dias de treinamento, a ave enfim está pronta para realizar o tão aguardado voo livre. Em um local mais amplo, ela é liberada da corda que a prendia e deve novamente “abater” uma isca rodada no ar (ou arrastada pelo chão).
7) Independentemente da etapa do treinamento, após concluir os exercícios o falcão é pesado em uma balança especial, que conta com um poleiro para apoiá-lo. Assim, o dono pode controlar melhor sua alimentação e sua saúde.
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Estranhos no ninho
Treino pode ser feito com quatro tipos de aves
FALCÕES
Altura do voo Até 1.500 m
Velocidade 80 km/h, chegando a 320 km/h em um mergulho
Expectativa de vida De 15 a 20 anos
Peso 720 g (macho); 1,2 kg (fêmea)
GAVIÕES
Altura do voo Até 2.000 m
Velocidade 40 km/h, chegando a 250 km/h em um mergulho
Expectativa de vida 40 anos
Peso 5 kg (macho); 9 kg (fêmea)
CORUJAS
Altura do voo 20 m
Velocidade 10 a 15 km/h
Expectativa de vida De 15 a 20 anos
Peso 100 g (coruja-buraqueira) a 3,5 kg (coruja águia asiática)
ÁGUIAS
Altura do voo até 3.000 m
Velocidade média 50 km/h; mergulhos podem atingir 240 km/h
Idade 40 anos
Peso 6 kg (macho); 10 kg (fêmea)
FONTES Sites abfpar.org e apfalcoaria.org
CONSULTORIA João Paulo Diogo Santos, presidente da Associação Brasileira de Falcoeiros e Preservação de Aves de Rapina (ABFPAR), Bruno Silveira, secretário da ABFPAR, e Gustavo Trainini, biólogo da associação Hayabusa Falcoaria e Consultoria Ambiental