Como é feito um dragão digital para filmes e seriados?
Veja como é o trabalho dos estúdios de animação que criam feras fantásticas a partir de modelos e referências
1. Para criar um animal fantástico digitalmente, a equipe começa metendo a cara nos livros e pesquisando referências históricas e biológicas. Na hora de pensar na textura e no movimento, por exemplo, alguns animais servem de modelo e são observados pelos animadores. No caso do dragão, morcegos, lagartos e jacarés são as principais inspirações
2. A segunda etapa é a parte criativa do trabalho. A partir de briefings dos personagens, surgem ilustrações conceituais. Esses esboços ajudam a imaginar as características de cada um e os cenários com os quais vão interagir. Também é uma maneira de fazer um estudo de cor e estrutura dos dragões antes de começar a modelagem
3. Para dar um ar mais realista, estúdios grandes optam pela modelagem manual dos personagens da ficção. Tudo é feito nos mínimos detalhes em argila do tipo clay, que não deforma e tem uma secagem mais lenta. Esse processo, que antecipa o 3D, permite ter uma visão mais detalhada do que se quer: o tipo das escamas, o degradê de cores, a proporção das pernas e dos músculos etc.
4. Os artistas então começam a esculpir o dragão no computador em programas como 3DS Max, Maya e ZBrush. Eles precisam criar todas as expressões básicas (olhos abertos e fechados, cara de bravo, de triste, etc.). Para um personagem simples, são até 50 expressões. Já os mais complexos exigem, em média, entre mil e 2 mil movimentos diferentes. É por isso que o roteiro deve ser bem detalhado previamente.Estúdios grandes, como a Pixar, conseguem fazer um vídeo de cinco minutos em apenas uma semana
5. O próximo passo é criar a pele do animal. É nessa hora que os estudos feitos lá no começo são requisitados. O artista 3D usa referências visuais de animais reais (como o lagarto e o morcego) para dar uma textura parecida para a pele do dragão e para a consistência de suas asas. A modelagem manual também ajuda nos detalhes menores, como cavidades e poros
6. Em um processo chamado rigging, o dragão ganha uma estrutura interna com pontos de articulação interligados. É isso que vai permitir que o modelo realize movimentos, como dobrar uma perna ou piscar um olho. O rigger, profissional que faz esse tipo de trabalho, coloca esses pontos em cada parte do rosto e do corpo do personagem para que o animador consiga fazê-lo se mexer adequadamente
7. Os dragões de Daenerys em Game of Thrones são criados do zero. Mas nem sempre é assim: o rosto de Smaug, de O Hobbit, foi feito usando a técnica de motion capture, assim como rola com muitos outros personagens digitais. Veja como o processo acontece:
a – O ator veste uma roupa especial, na qual sensores são posicionados em pontos estratégicos – articulações, músculos faciais, etc.
b – As tecnologias variam – há sensores que informam sua posição refletindo luz para câmeras, enquanto outros têm seu movimento rastreado dentro de um campo magnético
c – Com os pontinhos sendo rastreados na tela do computador, os animadores possuem um esqueleto em movimento. Sobre ele, será possível aplicar o personagem criado em 3D
Curiosidade:Veja Benedict Cumberbatch atuando como Smaug em abr.ai/Smaug e a criação de Drogon na quarta temporada de GoT em abr.ai/GoT
8. Com o modelo 3D finalizado, entra a etapa da animação em si. Seguindo o roteiro e o storyboard, os animadores criam os movimentos do personagem cena por cena. Eles usam as marcações dos cenários e dos objetos para recriar o animal nas proporções exatas e fazer com que ele se mova no momento exato
9. Nas cenas com animais fantásticos, os atores contracenam com painéis e objetos verdes ou azuis. Após a gravação, um software elimina esses objetos coloridos e funde o animal criado em 3D com a imagem recortada do ator. Os dragões são inseridos no filme na pós-produção com programas específicos, como o Foundry Nuke e o Adobe After Effects. Eles também recebem um tratamento de cor, luz e movimento – assim a cena parece real, sem diferenças de iluminação entre ator e criatura
CONSULTORIA Xiaonan Zhang, professora de mandarim e cultura oriental do Centro Cultural China Brasil Yuan Aiping, Johnni Langer, professor de história da Universidade Federal da Paraíba, Vinícius de Paula Ferreira, biólogo, Francisco Tripiano Filho, diretor da Cadritech, Roberta Regalcce de Almeida Santos, professora de modelagem clay, desenho, animação 2D e fotografia do Senac SP, e Daniel Correa da Cunha Cintra, professor de modelagem em ZBrush, animação 3D em Maya e tratamento de imagem do Senac SP
CRÉDITOS DAS IMAGENSCássio Yoshiyaki (artes conceituais), Rick Fernandes Studio (modelagem manual), Marcus Penna (modelagem digital), divulgação
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