As origens reais de 8 superstições populares
Elas não têm validade científica, mas crendices de toda sorte resistem até hoje. Veja como surgiram.
Quem nunca bateu na madeira três vezes para afastar o azar que atire a primeira figa, patuá, ferradura ou outro amuleto que o valha! As superstições existem desde que o homem se entende por homem. Embora não haja comprovação científica de que realmente funcionem, crendices de toda sorte resistem até hoje. E, acredite, elas podem não só ter influenciado como garantido a própria evolução humana. “Nos primórdios, indivíduos que faziam associações entre causa e efeito, mesmo sem embasamento racional — ou seja, eram supersticiosos —, tinham mais chance de sobrevivência”, diz o biólogo americano Kevin Foster, da Universidade Harvard. “Algumas dessas associações acabaram protegendo esses indivíduos de certos perigos.”
Por exemplo: sempre que ouvia um barulhão na floresta, um grupo que imaginava se tratar da aproximação de predadores ou de demônios acabava fugindo dali. Na maioria das vezes, era apenas um estrondo qualquer, como o som de trovões. Porém, quando se tratava de fato da aproximação de um bando de leões, os “supersticiosos” já não estavam ali para virar comida. Veja a seguir como surgiram algumas das superstições mais populares do mundo.
1) QUEBRAR ESPELHO DÁ AZAR
Entre os antigos gregos, um popular método divinatório consistia em usar uma tigela com água para refletir a imagem da pessoa que queria saber sobre seu destino. Se, durante a consulta, o recipiente caísse e quebrasse, era sinal de que a pessoa morreria ou teria dias nebulosos pela frente. Os romanos adaptaram o oráculo grego e acrescentaram que o infortúnio se prolongaria por sete anos, tempo que duraria cada ciclo da vida. Quando os primeiros espelhos de vidro surgiram, ainda na Idade Média, a superstição passou também a ter função econômica: como eram objetos muito caros, os empregados eram avisados de que quebrá-los dava azar. Leia uma explicação mais detalhada na matéria que fizemos para a edição 13.
2) TREVO DE QUATRO FOLHAS DÁ SORTE
Acredita-se que os primeiros a usar o trevo-de-quatro-folhas como talismã tenham sido os druidas, antigos sacerdotes celtas, ainda no primeiro milênio a.C.: quem tivesse uma dessas plantinhas conseguiria enxergar demônios na floresta e, assim, escapar deles. O poder do trevo viria de sua raridade na natureza — em geral ele tem apenas três folhas. Além disso, o quatro era tido como um número cabalístico: são quatro as estações do ano, os pontos cardeais, os elementos alquímicos (água, ar, fogo e terra) e as fases da Lua.
3) NÃO PASSAR DEBAIXO DE ESCADA
De acordo com uma das teorias sobre a origem desta superstição, ela viria da associação entre o dogma cristão da Santíssima Trindade, que jamais deveria ser violado, e o triângulo formado pela sombra de uma escada encostada numa parede. Passar debaixo da escada seria como profanar o triângulo sagrado, um pecado gravíssimo e de consequências funestas. Outra hipótese é a de que a crença tenha surgido na Europa medieval, por causa dos ataques aos castelos. Como os invasores utilizavam escadas encostadas nos muros para invadir as fortalezas, a principal defesa era derramar óleo fervendo sobre os inimigos. Ou seja, quem estivesse debaixo da escada podia receber um banho fatal.
4) ORELHAS ESQUENTAM QUANDO FALAM MAL DE VOCÊ
Não se sabe ao certo quando surgiu a crença de que, se alguém estiver falando mal de você, suas orelhas “pegarão fogo”. Mas, ainda em meados do século 1, o historiador romano Plínio, o Velho, tentou achar uma explicação. Para ele, a origem da superstição estaria ligada à ideia, difundida na época, de que no ar existiria uma espécie de “mercúrio universal”, substância que permitiria a transferência de energia entre pessoas. Assim, quando alguém fala de você, mesmo estando a léguas de distância, as palavras acabam chegando a seus ouvidos. Seja como for, caso sinta as orelhas quentes, não custa nada saber qual a receita para contra-atacar o falatório alheio: basta morder de leve o dedo mindinho da mão esquerda para que o fofoqueiro dê uma baita mordida na própria língua!
5) GATO PRETO DÁ AZAR
Devido a seus hábitos notívagos, os gatos, principalmente os negros, eram associados às forças ocultas e à feitiçaria na Europa medieval: para muitos, os felinos seriam o disfarce usado pelas bruxas em suas andanças noturnas. Os bichanos pretos eram tão malvistos que, no século 15, o papa Inocêncio VIII — pasmem! — os incluiu na lista dos perseguidos pela Inquisição. Birutices à parte, um estudo realizado no ano 2000 pelo Hospital de Long Island, em Nova York (EUA), revelou que pessoas que têm gatos pretos em casa são quatro vezes mais vulneráveis a sintomas de alergia do que os que criam felinos de cor clara. Isso porque os bichanos pretos têm na pele maior quantidade de um tipo de proteína que pode agravar as reações alérgicas em humanos. Leia uma explicação mais detalhada na matéria que fizemos para a edição 2.
6) LEVANTAR COM O PÉ DIREITO
Entre os povos da Antiguidade, o lado direito era mais bem-visto que o esquerdo, considerado maldito. Os romanos, por exemplo, faziam previsões observando a trajetória dos pássaros: se voassem à esquerda, trariam dias de mau agouro. Com a difusão do cristianismo, a fama do lado esquerdo piorou ainda mais, já que, segundo a tradição cristã, os eleitos de Deus permaneciam sempre à Sua direita. Com isso, passaram-se os séculos e começar o dia levantando com o pé direito virou sinônimo de boa sorte. “Trata-se de um típico caso de autossugestão. Caso levante com o pé esquerdo, a pessoa já se sente vulnerável, acha que vai acontecer algo ruim e, com isso, acaba se atrapalhando ao longo do dia”, diz o professor de psicologia Antônio Carlos.
7) BATER NA MADEIRA
O costume de dar umas pancadinhas na madeira para espantar o azar já existia entre vários povos antigos, como os índios do continente americano. O hábito devia-se à crença de que as árvores eram a morada dos deuses: sempre que alguma culpa os afligia, os homens batiam no tronco para pedir perdão. Outra possível origem para a superstição liga-se aos druidas, os sacerdotes celtas, que davam seus toques-toques nos troncos para afugentar os maus espíritos por crer que as árvores mandavam os demônios de volta às profundezas.
8) A MALDITA SEXTA-FEIRA 13
A má fama da data está ligada a dois mitos nórdicos. Segundo o primeiro, Loki, o deus do mal, penetrou na morada dos deuses, onde rolava um banquete para 12 divindades, e acabou matando o amado deus Balder. A partir daí, o número 13 virou sinônimo de desgraça. Outro mito conta que, quando os nórdicos se converteram ao cristianismo, a formosa deusa do amor, Friga — cujo nome deu origem à palavra Friday (“sexta-feira”, em inglês)— foi transformada em bruxa e exilada numa montanha. Para dar o troco, ela passou a se reunir às sextas-feiras com 11 bruxas e o demônio — num total de 13 participantes — para amaldiçoar os homens. Para reforçar a crença, a Bíblia fala da reunião de 13 pessoas na Última Ceia, às vésperas da crucificação de Jesus, que se deu numa sexta-feira. A urucubaca em torno da data é tão grande que, segundo estudo da seguradora britânica Norwich Union, o número de acidentes nas sextas-feiras 13 é maior do que em qualquer outro dia: temerosas com a data, as pessoas ficariam mais nervosas ao volante. Detalhe: o aumento no índice de batidas é de — adivinhe — 13%! Leia uma explicação mais detalhada na matéria que fizemos para a edição 2.
O MAPA DA SUPERSTIÇÃO
As crendices para se dar bem mundo afora
• 1) Nos EUA, quando alguns sujeitos veem um gato caolho, cospem no dedo polegar, o esfregam na palma da mão e fazem um desejo. Eles garantem que funciona
• 2) Na Islândia, se uma mulher grávida beber de um copo trincado, está correndo sérios riscos de ter um filho com lábio leporino
• 3) Em Roma, na Itália, cruzar com um grupo de freiras é sinal de extrema má sorte. Para superar o azar, as pessoas tocam as próprias partes íntimas
• 4) Na virada do ano, é costume na Rússia queimar um papel com um desejo escrito, colocar as cinzas num copo de champanhe e, então, tomar a bebida
• 5) Na Bolívia, bonecos de argila recheados com dinheiro ou outras coisas atrairiam esses objetos para os donos. Basta que um cigarro colocado aceso na boca dos bonecos seja “fumado” até o final
• 6) Em Malta, as igrejas com duas torres têm um relógio afixado em cada uma delas, só que os dois mostram horários diferentes. Isso é feito para o Diabo não saber a hora certa da missa
• 7) Na Tailândia, quase todas as lojas são enfeitadas com um pênis de madeira, símbolo de fertilidade e riqueza. Os objetos — alguns com até 2 metros de comprimento! — também decoram templos
• 8) Para ter namorado no Japão, as moças escrevem o nome do sujeito no braço esquerdo e cobrem com um pedaço de esparadrapo por três dias. Após uma semana o cidadão estaria caído de amores pela garota