Existe uma frase que resume a história da civilização. Ela foi escrita há 240 anos, com bico de pena, sob a luz de uma lamparina de óleo de baleia. E continua tão atual quanto no dia em que foi escrita, numa cidadezinha gelada da Escócia por um professor de filosofia aposentado: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que nós esperamos o nosso jantar, mas da consideração deles com seus próprios interesses”.
Essa sentença está no segundo capítulo de A Riqueza das Nações, que Adam Smith publicou em 1776. O livro vendeu que nem pão quente e cerveja gelada, esgotando-se em seis meses. Natural, porque ninguém, antes ou depois de Smith, conseguiu resumir tão bem a essência do capitalismo. Ele mostrou que o sistema é basicamente um caldeirão de intenções egoístas, mas que, dessa maçaroca de interesses individuais, emerge pão, cerveja, bife, remédios, estradas, universidades. Riqueza, enfim – porque riqueza não é dinheiro, é a produção de coisas que podem ser compradas com dinheiro: alimento, educação, anos a mais de vida (que é o que você leva quando compra um antibiótico da nem sempre escrupulosa indústria farmacêutica).
Só tem um problema. Entre as intenções egoístas que produzem riqueza, algumas são mais egoístas, e só produzem aberrações mesmo. O Brasil está cheio delas: são os juros de 400% ao ano que a gente paga no cartão de crédito – contra meros 40% no Peru, 24% no México ou 20% nos EUA. São desvarios do nosso comércio, como os juros ocultos e as Black Fraudes. É a malandragem oficial do Estado, com suas gambiarras para arrancar cada vez mais impostos.
A reportagem de capa desta edição, que começa na página 30, traz um panorama dessas monstruosidades. Nosso interesse egoísta aqui foi produzir uma bela matéria, que chame a atenção e atraia ainda mais leitores para a SUPER. Mas que a leitura dela enriqueça a sua mente, porque, no fim, é para isso que a gente trabalha.