Alexandre Versignassi, editor
Era um plano bem racional. Tinha ido visitar uns amigos em Berlim e, para me vingar dos preços altos dos bares de São Paulo, decidi beber toda a cerveja que a Alemanha fosse capaz de produzir durante a minha estada. Tenho credenciais para isso.
E justamente por ter credenciais desse naipe achei que não ia aguentar a bronca quando me chamaram para uma volta de bicicleta pela cidade. Eu não pedalava desde a última vez que andei de pedalinho. E achava que andar de bicicleta não era “que nem andar de bicicleta”. Tinha desaprendido. Certeza. Meu amigo Cigarro também era contra a ideia. Mas o pessoal prometeu parar numa cervejaria no caminho. Beleza, então. Passa a bike.
Duas horas depois e… Caramba. Já tinha cruzado a cidade toda. E continuava pedalando. Mérito meu não era. Nem das weissbier de 1 euro. Foi tudo graças a Berlim: as ciclovias são tantas e tão bem planejadas que a sensação é de estar sempre num parque – mesmo no meio das avenidas mais abarrotadas. Fui andar de novo no dia seguinte, no outro… Quando voltei, não teve erro: comprei uma bicicleta.
E ela ficou encostada dois meses 🙁
É que moro num bairro cheio de morros. Praticamente um enclave suíço numa cidade que já não prima pela platitude. Na primeira ladeira, o maço diário bateu, e meu fôlego caiu no vermelho. Disputar território no asfalto contra adversários de uma tonelada também não ajudou. E a vontade de andar de bicicleta escafedeu-se.
Aí, lá do meu sofá, soube que tinham ampliado a ciclofaixa de São Paulo. Para quem não conhece, é uma ciclovia improvisada aos domingos, quando impedem o trânsito de carros em uma das faixas de várias avenidas. Opa. Agora, talvez, daria pra fazer um passeio berlinense de verdade: sem se preocupar com carros, passando pelos lugares bacanas do centro, pela Avenida Paulista… Não me frustrei. Quando vi, já tinha andado mais de 20 quilômetros. E foi tranquilo voltar, já que no fim de semana deixam colocar bicicleta no metrô. Não é que São Paulo virou uma Berlim?
Claro que não. Falta chão para qualquer cidade grande do Brasil virar uma Berlim, uma Amsterdã, ou mesmo uma Bogotá, que tem 340 quilômetros de ciclovias. Mas a ciclofaixa foi um primeiro passo respeitável. E é por isso que ela está na nossa reportagem de capa. A iniciativa mostrou que até uma cidade célebre por “não ter solução” pode virar um lugar melhor. E transformar seus habitantes em pessoas melhores – mais ativas, mais saudáveis, mais engajadas com o lugar onde moram. E menos propensas a esperar por mudanças sentadas no sofá.
PS. Falando em mudanças, estou me despedindo deste espaço. Eu estava à frente da SUPER como interino. Em janeiro, chega o novo diretor de redação: um jornalista e amigo que já ocupou o cargo, e foi um dos responsáveis por tornar esta revista o que ela é hoje. Bem-vindo de volta, Denis Russo. Um abraço.