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…As pessoas respirassem debaixo d'água?

Aquaman, Pequena Sereia, Bob Esponja... Esses têm sorte. Saem mergulhando mar afora sem se preocupar. Para nós, personagens da vida real, a evolução não foi tão bacana. Ficou no quase: descendentes de seres que viviam na água, até hoje desenvolvemos fendas branquiais como as de peixes e anfíbios. Mas só quando embriões. Logo elas desaparecem para dar lugar a partes da laringe e ossos do ouvido e garganta.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h00 - Publicado em 22 set 2010, 22h00

Fernando Brito

Uma revolução e tanto aconteceria se as fendas continuassem lá. O principal: poderíamos respirar debaixo d’água. Contaríamos com os pulmões para respirar em terra e as brânquias (ou guelras) para a água. Com um sistema respiratório como esse, seríamos parecidos com os anfíbios. Parentes de sapos e salamandras. Nosso corpo precisaria estar sempre úmido – ou a pele, acostumada à água, desidrataria. Por isso viveríamos mais na água do que na terra, sempre circulando por regiões costeiras e rios. Mas não daria para mergulhar tão fundo, porque a pressão da água aumenta com a profundidade e começa a esmagar nosso corpo. Poderíamos chegar até uns 500 metros, como leões-marinhos, que também vivem no seco e no molhado. Isso já estaria de bom tamanho: hoje só descemos até 40 metros em mergulhos com cilindro e precisamos de vários dias de adaptação para chegar a no máximo 300 metros. A terra firme não seria abandonada por completo. Ela nos daria alimentos e espaço para atividades que ninguém gostaria de ver debaixo d’água, como o despejo de lixo. Mas o mar seria o nosso principal habitat. E uma grande fonte de energia. Veja como seria esse mundo de glub glub.

Mar, doce lar

Neste mundo, carne é para poucos. E ninguém precisa de pente
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Só rico no raso
Na terra funcionariam principalmente os serviços, como aterros sanitários. A área residencial ficaria na água. Todo mundo que fosse alguém moraria perto da superfície – lá, o metro cúbico seria mais caro por causa da pressão menor. Aos pobres e miseráveis, restaria o fundão.

Alga no dente
O nosso arroz com feijão viraria um prato de peixe e algas. A agricultura prosperaria com vegetais aquáticos. E esqueça rodízios de carne. Como criar animais para abate em terra não seria fácil, carne de boi ou porco viraria uma iguaria refinada. No lugar, iríamos a rodízios de lagosta nos almoços de domingo.

Vida longa e úmida
No ar, respiramos pelo menos 25 vezes mais oxigênio que na água. Essa falta de O2, ao contrário do que parece, faria bem – viveríamos mais. Ao respirar, produzimos radicais livres que danificam células e aceleram o envelhecimento. Com um organismo adaptado a menos O2, esse processo perderia força.

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Não vá pro seco, meu filho
Avançar terra adentro não seria nada recomendável. Fora da água, precisaríamos de recursos que hidratassem nossa pele o tempo todo. Os países ficariam limitados ao litoral e a zonas do mar pouco profundas. E surgiria uma nova opção para as férias: o turismo radical no seco.

Energia das profundezas
70% da superfície da Terra está submersa. Com o corpo adaptado à água, exploraríamos com mais facilidade as reservas de petróleo e minérios como manganês e cobalto. Só teria um problema: com maior acesso às reservas, é provável que o petróleo se esgotasse mais cedo.

Lisinhos
Membranas nos dedos das mãos e dos pés funcionariam como nadadeiras, facilitando a nossa movimentação. (Lembre-se, a água é mais densa que o ar.) E pode esquecer aquela cabeleira da sereia Ariel – seríamos lisinhos, sem quaisquer pelos que pudessem aumentar o atrito com a água.

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Homens-piramboia
Nossas brânquias funcionariam em conjunto com os pulmões, para que pudéssemos absorver oxigênio enquanto nadássemos. Nada de outro mundo: acontece com a piramboia, um peixe amazônico que respira dentro e fora d’água. Seria o fim das mortes por afogamento – pelo menos 7 mil por ano só no Brasil.

Fontes: Vinícius Alves Ribeiro, instrutor de mergulho profissional; Maurício C. Forlani, pesquisador do Museu de Zoologia da USP; Colombo Tassinari, professor de geologia da USP; Ministério da Saúde.

 

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