Dante Alighieri: “A razão vos é dada para discernir o bem do mal”
O poeta que descreveu o inferno como ninguém havia feito - e nele incluiu os padres de conduta imoral, gerando revolta na Igreja
Dante é mais conhecido por sua obra poética do que por suas teorias filosóficas — um traço comum entre os pensadores renascentistas. O poeta-filósofo viveu entre a transição da Idade Média e do Renascimento, ou seja, um limbo entre a religiosidade extrema e o início do humanismo secular. Sua obra principal, A Divina Comédia, marca o início do movimento renascentista, que reuniu na Itália uma concentração inédita de artistas, intelectuais, filósofos e cientistas. A repercussão da Divina Comédia foi tão acachapante que ajudou a consolidar o dialeto de Florença como a base da língua italiana.
A obra narra uma viagem imaginária e póstuma de Dante. Do começo, quando se encontra em uma “selva negra”, Dante é guiado pelo pagão Virgílio e depois por Beatriz, sua musa, que o leva ao paraíso. No livro, o autor visita o céu, o inferno e o purgatório, encontrando personagens históricos pelo caminho. Apesar da temática religiosa, A Divina Comédia faz uma crítica à Igreja. O autor condena pontífices às trevas por considerar sua conduta imoral, uma das críticas que geraram revolta nos altos escalões eclesiásticos. Depois da morte de Dante, seus restos mortais foram procurados para que pudessem queimá-lo como herege — ainda que depois de morto. Mas a importância do livro resistiu aos ataques e até hoje é usada por padres como referência teórica. A obra se chamava originalmente apenas Comédia. O adjetivo foi incorporado por Giovanni Boccaccio, um poeta e crítico literário italiano do século 14, especializado na obra do filósofo.
Dante também ocupou cargos importantes no governo florentino, o que lhe rendeu inimizades políticas. Exilou-se em Ravena, após a vitória dos seus inimigos, apoiados pelo papa Bonifácio 7º. Escreveu Monarquia, obra menos conhecida, em que defendia a separação entre funções do Império e da Igreja. Para Dante, o imperador teria poder executivo, e o papa atuaria como mestre espiritual. E os dois precisam se respeitar.
Nas horas vagas, era um romântico incurável. Era membro do grupo secreto “Os fiéis do amor”: trovadores líricos que idealizavam a figura feminina.