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A armadilha psicológica do “no meu tempo que era bom…”

Esse viés cognitivo mexe com o jeito como você consome música, TV e até a própria Super. E é tão antigo quanto a própria civilização.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
21 jun 2024, 14h00

Esta é carta ao leitor da edição 464 da Super, de junho de 2024. 

Minha mãe é fã de Lana del Rey aos 56 anos. Essa é uma feliz exceção. Em geral, nós perdemos a capacidade de gostar de música nova por volta dos 30.

Um experimento publicado em 2022 analisou as preferências de 1.064 pessoas entre 18 e 84 anos e descobriu que as canções favoritas de cada uma, em média, saíram quando elas tinham 17.

A maior parte de nós gosta dos hits da nossa infância, ama os da juventude e odeia (ou só ignora) boa parte do que é lançado depois. É o famoso “no meu tempo que era bom”.

Esse bug cognitivo não se limita à música. Afeta toda a cultura. Somos mais permeáveis às novidades na adolescência e juventude, e resistentes às mudanças que vêm depois.

Existe uma placa de argila suméria de milênios antes de Cristo, cunhada pouco após a invenção da escrita, cujo autor já reclama que os jovens da época não sabiam mais escrever direito.

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A Super, claro, também é vítima disso. Volta e meia alguém resmunga no Twitter (sou saudosista demais para chamá-lo de “X”) que a revista era boa nos anos 1990, mas que agora “só falamos de maconha e Jesus”.

Apesar disso, não há uma única matéria de fôlego sobre maconha no arquivo da revista impressa desde 2016 – e olha que esse seria um texto relevante em 2024, já que a droga é assunto na medicina. Já o último conteúdo com a palavra-chave “Jesus” no nosso site, de 2021, é sobre a trupe de comédia Monty Python.

Felizmente para nós, também há uma porção de gente Brasil afora que, embora ame a revista há anos ou décadas, mantém a vontade de torná-la cada vez melhor. Não à toa, nossa equipe é cheia desses esperançosos crônicos, mestres no ofício vintage de imprimir matérias, mas sempre com um olho no futuro. Esse pessoal tem com a Super o que o LinkedIn chama de “fit cultural” – e que eu chamo de “o santo bateu”.

Meu santo bate, por exemplo, com o da designer gaúcha Cristielle Luise. A Cris não impressiona só quando propõe as ideias mais deliciosamente estapafúrdias para ilustrar o Oráculo. Ela também é excepcional fora do expediente: foi uma das alunas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) que encabeçaram o voluntariado em sua cidade durante as enchentes recentes. A Cris moveu toneladas de comida, roupa e outros suprimentos ao longo do último mês – seu coração é tão grande que tropecei nele aqui em São Paulo. É bom demais tê-la conosco.

Meu santo também bate com o do paulistano Dudu Lima, que começou a estagiar aqui em maio. Seu primeiro contato com o jornalismo profissional foi na Turma do Fundão (TdF) – um clube de jovens leitores que colaboravam com a produção da revista Mundo Estranho, a irmã mais nova da Super, publicada pela Abril entre 2001 e 2018. Prata da casa.

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Pouco após chamar o Dudu para dentro, tropecei na belo-horizontina Bela Lobato – que já “lia” a Super com dois anos de idade, em geral de ponta–cabeça (rs). Aos 22, ela já escreveu em jornalão, roteirizou um podcast de peso, trabalhou com educação ambiental… Agora em junho, começa seu estágio conosco. Seja bem-vinda, e mantenha o ímpeto de virar a revista de cabeça para baixo.

É claro que fit cultural, por si só, não enche barriga. Esses três já são profissionais hábeis antes mesmo de saírem da universidade, eu nem imagino as carreiras que os aguardam. Por ora, fico feliz que estarão conosco pelos próximos anos, e que poderei compartilhar dias e páginas com eles. Que bom que o santo bateu.

 

Foto de um homem branco com barba preta, cabelos pretos, camiseta listrada vermelha e branca, jaqueta jeans azul clara em um fundo rosa.

Bruno Vaiano
Editor-Chefe
bruno.vaiano@abril.com.br

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