Significado de mural assírio é desvendado 3 mil anos depois
Imagens de um leão, pássaro, touro, árvore e um arado estão estampadas na antiga cidade de Dūr-Šarrukīn. Agora, um pesquisador revelou seu significado.
Desde que foram encontrados por pesquisadores franceses em uma escavação do fim do século 19, os murais da cidade de Dūr-Šarrukīn, na antiga Assíria e atual Iraque, intrigam pesquisadores com símbolos misteriosos. As escavações da época revelaram paredes de ladrilhos com uma mesma sequência de cinco imagens: um leão, um pássaro, um touro, uma árvore e um arado. Arqueólogos, historiadores e linguistas discutem há décadas os possíveis significados desse padrão.
Agora, um especialista em cultura assíria diz ter encontrado a resposta.
Dá para contar nos dedos quantas pessoas no mundo falam acadiano, uma língua assíria que desapareceu por volta de 2.500 anos atrás. O pesquisador irlandês Martin Worthington é uma delas. Além de ter escrito um guia para quem quer aprender o idioma extinto em casa, Worthington também foi consultor e tradutor para os roteiros de filmes como Eternos, da Marvel, e Godzilla II: Rei dos Monstros.
Debruçado sobre o estudo das civilizações babilônicas há décadas, o professor da Escola de Linguagens, Literaturas e Estudos Culturais da Trinity College, em Dublin, afirma que as imagens nos murais representam o nome do rei Sargão II e constelações que reforçam o poder imperial.
Ele argumenta que, se colocadas nas sequência correta, as palavras assírias para os cinco símbolos soam como a forma assíria do nome “Sargão” (šargīnu). Dessa forma, cada imagem funcionaria como uma sílaba, uma representação do som.
A interpretação funciona mesmo nos murais “resumidos”, que só exibem os símbolos do leão, da árvore e do arado. Ao ler em voz alta, o resultado é o mesmo: o nome do rei.
Não é só isso: existem indícios de que os murais também representam constelações específicas. Algumas são familiares, como as constelações de Leão e de Touro. A ave representa Áquila, uma constelação do hemisfério norte. Já o arado dava nome a uma constelação babilônica antiga, epinnu, que hoje faz parte das constelações de Andrômeda e Triângulo Boreal.
Já a árvore é mais polêmica: Worthington defende que a pronúncia de árvore em acádia, isu, é semelhante à de iṣu, a antiga constelação da Mandíbula. O trocadilho já foi encontrado em outros documentos e, nesse caso, pode ter sido usado para evitar a estranheza de estampar os murais do reino com imagens de uma mandíbula solta.
Além disso, as imagens douradas sobre o fundo azul remetem a um céu estrelado e são diferentes do padrão de cores dos outros murais vizinhos. “O efeito dos cinco símbolos foi colocar o nome de Sargão nos céus, por toda a eternidade – uma maneira inteligente de tornar o nome do rei imortal. E, é claro, a ideia de indivíduos extravagantes escreverem seus nomes em edifícios não é exclusiva da antiga Assíria”, diz o Worthington. De um jeito babilônico, o rei arrumou uma forma de escrever pelas paredes de todo o reino: “Sargão esteve aqui”.