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Quem foi Susan B. Anthony, a mulher que está sendo perdoada pelos EUA depois de 148 anos

A líder do movimento sufragista nos Estados Unidos foi presa por votar nas eleições presidenciais de 1872. Conheça sua história.

Por Maria Clara Rossini
20 ago 2020, 17h08

As eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos marcam os 100 anos do voto feminino no país. Até 1920, nem todos os estados permitiam que as mulheres escolhessem seus governantes. Foi só com a aprovação da Décima Nona Emenda da Constituição que as mulheres passam a poder votar em todo o território nacional. Ela também é conhecida como Emenda Susan B. Anthony.

Depois de 148 anos, a líder do movimento pelo direito das mulheres está sendo perdoada por um crime que cometeu nas eleições de 1872: votar. Na última terça-feira (18), dia do centenário da Emenda, o presidente Donald Trump fez um discurso anunciando que assinaria um documento concedendo o perdão a ela.

Quatro dias antes das eleições de 1872, Susan foi até o escritório eleitoral da cidade de Rochester, em Nova York. Ela exigiu que seu nome fosse incluído na lista de eleitores. Os oficiais disseram que isso não poderia ser feito, mas ela insistiu e argumentou com base na Décima Quarta Emenda, que diz que todas as pessoas nascidas nos Estados Unidos são cidadãs do país. Eventualmente, os oficiais cederam.

No dia 5 de novembro, ela e outras 14 mulheres registraram seus votos nas caixas eleitorais, mesmo sabendo que, tecnicamente, a ação era ilegal, pois a lei do estado de Nova York (e de todos os outros) só garantia o direito ao voto para cidadãos do sexo masculino. Posteriormente, todas elas foram detidas e condenadas a pagar uma multa de 100 dólares (equivalente a U$2.160 em valores atuais, ou R$12.210). Ela nunca pagou a taxa.

Susan B. Anthony é uma das fundadoras do movimento pelo direito das mulheres nos EUA e dedicou mais de 50 anos de sua vida à luta. Ela conduziu protestos pelo país e deu discursos em que questionava se era ilegal que um cidadão americano votasse. Ao ser detida no dia 18 de novembro, um policial pediu que ela o acompanhasse ao centro da cidade. Ela perguntou se era daquela forma que ele prendia homens. Quando o policial respondeu que não, ela pediu para ser “presa corretamente”.

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A memória de Susan também carrega uma série de controvérsias. Ela é acusada de ter marginalizado e excluído mulheres negras que também lutaram pelo voto. Quando homens negros foram autorizados a votar, em 1870, as sufragistas negras viram isso como um avanço pela igualdade racial e de gênero, enquanto Susan defendia e focava muito mais o sufrágio de mulheres brancas em detrimento ao sufrágio universal, que inclui mulheres e homens negros no direito de votar.

Algumas organizações anti-aborto, como a Susan B. Anthony List, usam o nome e imagem da figura histórica como símbolo, com base em um excerto que teria sido escrito por ela em que descreve o aborto como um ato de “assassinato infantil”. No entanto, há controvérsias sobre a autoria do texto, publicado no jornal sufragista The Revolution, o qual ela editava, e assinado apenas como “A.”

Como ela não se dedicou ao tema do aborto, historiadores e especialistas ainda debatem sobre qual teria sido sua opinião sobre o tema. A presidente da Susan B. Anthony List, Marjorie Dannenfelser, esteve presente no discurso da última terça.

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A ativista morreu em 1906, aos 86 anos de idade, sem ver as mulheres ganharem o direito ao voto. Apenas 14 anos depois, o congresso aprovou a Emenda que diz: “O direito dos cidadãos dos Estados Unidos ao voto não pode ser negado pelo país ou qualquer estado com base no sexo do indivíduo”.

O movimento liderado por Susan foi crucial para a aprovação da Décima Nona Emenda e para o período histórico que ficou conhecido como a Primeira Onda do Feminismo. No entanto, mesmo depois de 1920, o voto feminino (principalmente de mulheres negras e latinas) ainda foi dificultado pela aplicação de taxas e testes de alfabetização, muitas vezes confusos e planejados para excluir a população com menos escolaridade e de baixa renda.

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