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Quem foi Enheduanna, a primeira autora da história

A poeta viveu por volta de 2.285 a 2.250 a.C., e foi uma sacerdotisa do Império Acadiano da Mesopotâmia, fundado por seu pai.

Por Luisa Costa
10 nov 2022, 18h22

Você pode não conhecer Enheduanna – nem nunca ter se deparado com este nome. Mas ela foi um personagem e tanto na Mesopotâmia de quatro mil anos atrás: uma princesa, alta sacerdotisa e poeta. Na verdade, trata-se do primeiro autor a ser nomeado em toda a história.

Era uma figura desconhecida para nós, humanos contemporâneos, até 1927, quando o arqueólogo britânico Leonard Woolley encontrou o “disco de calcita de Enheduanna” na antiga cidade de Ur, no atual território do Iraque. De um lado, o disco tem uma cena de ritual esculpida, como você vê na imagem acima, cuja figura em destaque é Enheduanna.

No verso, o disco de pedra tem inscrições que não só indicam o nome da autora, com um símbolo de estrela, mas também a identificam como sacerdotisa, esposa do deus lunar Nanna-Suen e filha do rei Sargão de Akkad – que governou a Mesopotâmia entre 2.334 e 2.279 a.C. e foi um dos primeiros a construir grandes impérios no mundo.

Nas décadas seguintes à descoberta do disco, arqueólogos encontraram textos sobreviventes de Enheduanna – mais de cem cópias, feitas em tabuletas de argila como a da imagem abaixo. A sacerdotisa teria escrito pelo menos três poemas independentes – um deles conhecido como “A Exaltação de Inanna” – e hinos para 42 templos do sul da Mesopotâmia. Estes foram copiados por escribas centenas de anos após a morte de Enheduanna.

Fotografia de uma tabuleta de escrita cuneiforme com um texto da Enheduanna.
Tabuleta cuneiforme com texto de Enheduanna, reconhecida como a primeira autora nomeada da história. (Yale Babylonian Collection Staff/Reprodução)
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Quem é Enheduanna?

Historiadores acreditam que Enheduanna, que viveu por volta de 2.285 a 2.250 a.C., exerceu um papel político importante no Império Acadiano da Mesopotâmia, fundado por seu pai, que reunia falantes das línguas acadiana e suméria.

A poeta e sacerdotisa do templo da cidade de Ur teria ajudado a fundir crenças e rituais relacionados à deusa suméria Inanna, do amor e da guerra, com aqueles relacionados à deusa acadiana Ishtar. Enheduanna tornou as deusas intercambiáveis e criou um cenário religioso mais homogêneo no Império, promovendo a estabilidade de que seu pai precisava para prosperar. Tudo isso a partir dos hinos que escrevia.

A obra da poeta celebra deuses e o poder do Império Acadiano, mas também é autobiográfica. Enheduanna escreve sobre frustrações e esperanças pessoais; seus sentimentos sobre o mundo e as guerras; e até sobre um abuso sexual por parte de outro sacerdote.

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Alguns estudiosos, porém, afirmam que os textos poderiam ter sido escritos mais tarde e atribuídos a Enheduanna, como forma de reforçar o legado do rei Sargão de Akkad. Embora haja controvérsias sobre a história da poeta, é certo que ela teve um profundo impacto cultural: o Império Acadiano entrou em colapso em 2.137 a.C., e os poemas atribuídos a Enheduanna continuaram a ser copiados por séculos.

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