Presidentes presos – ou “conduzidos coercivamente”
Conheça outros presidentes que, assim como Lula, tiveram encrencas com a polícia
Uma semana depois de ser alvo de um pedido de condução coercitiva, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu uma notificação que pede sua prisão preventiva. Lula foi obrigado a depor perante a Polícia Federal sobre crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e outras irregularidades relacionadas ao esquema de corrupção da Petrobras.Nesta quinta, o Ministério Público de São Paulo pediu a prisão preventiva do ex-presidente sob a acusação de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica sobre o apartamento tríplex no litoral de São Paulo.
Nunca antes na história desse país
Longe das grades ou não tão longe assim, o fato é que o envolvimento de Lula nas investigações da Polícia Federal e sua possível prisão ganharam destaque e ares de ineditismo. Mas o caso de Lula não é tão inédito assim, porque cinco outros presidentes brasileiros já foram presos: Marechal Hermes da Fonseca(1910-1914), Washington Luís(1926-1930), Artur Bernardes (1922-1926), João Fernandes Café Filho (1954-1955) e Juscelino Kubitschek(1956-1960). Dois deles, inclusive, durante o mandato.
Durante uma grave crise política, Hermes da Fonseca ficou seis meses preso a mando do então presidente Epitáfio Pessoa. Na sequência, Washington Luís foi o primeiro presidente brasileiro preso durante o mandato. Ele foi deposto em 1930 por ministros militares e ficou encarcerado no Forte de Copacabana durante 27 dias.
O oponente de Hermes da Fonseca, Artur Bernardes, também teve seus dias no xadrez. Ele foi preso por soldados rebeldes em 1932 no meio de um canavial, em Minas Gerais.
João Fernandes Café Filho assumiu a presidência depois do suicídio de Vargas em 1954, mas teve que entregar o cargo no ano seguinte após sofrer um ataque cardíaco. Em novembro de 1955, Café Filho teve alta e assim que chegou ao seu apartamento foi detido por um grupo militar. Ficou preso em casa, a uma quadra do Forte de Copacabana, até a posse de Juscelino Kubitschek.
E JK também faz parte da lista de presidentes que foram em cana. Com a ditadura, Juscelino teve seus direitos políticos cassados. Junto com João Goulart e Carlos Lacerda, ele tentou se opor ao regime militar através da Frente Ampla. Mas, com a extinção da Frente Ampla em 1968, ele não se safou dos militares: foi preso e permaneceu encarcerado por 27 dias em um quartel em São Gonçalo.
Conheça outros presidentes que já tiveram problemas com a polícia – parecidos ou não com os de Lula
Alberto Fujimori (Peru)
Fujimori ostenta o infeliz posto de primeiro líder condenado por abusos de direitos humanos eleito de forma direta na América do Sul. O ex-presidente foi preso pela morte de 25 pessoas e por sequestros durante o tempo em que ocupava a Casa de Pizarro, o Palácio do Governo do Peru, de 1990 a 2000. Ele é acusado pelo sequestro de um jornalista e um empresário e pelos massacres de Barrios Altos e La Cantuta, cometidos pelo grupo paramilitar Colina. Seu julgamento não foi fácil, nem rápido: em 160 audiências foram ouvidas 90 testemunhas. Fumijori está preso desde 2007 e deve continuar na prisão até 2032.
Moshe Katsav (Israel)
Membro do Likud, partido da direita israelense, o presidente Moshe Katsav está na cadeia desde 2011. O político foi condenado a sete anos de prisão pelo estupro de uma funcionária e por ter abusado sexualmente de duas mulheres enquanto cumpria seu mandato, de 2000 a 2007. Moshe chegou a renunciar ao cargo para tentar reduzir a pena que, além dos delitos sexuais, inclui abuso de poder, obstrução à justiça e assédio a testemunhas.
Nicolas Sarkozy (França)
Apesar da França já ter decapitado alguns governantes, Nicolas Sarkozy foi o primeiro ex-chefe de estado do país a ser detido. O político, que comandou o Palácio do Eliseu entre 2007 e 2012, teve uma experiência bastante parecida com a do ex-presidente Lula. Em 2014, o marido de Carla Bruni, sem foro privilegiado assim como Lula, foi preso para prestar esclarecimentos a uma investigação sobre o financiamento de sua campanha eleitoral, em 2007. Sarkozy era suspeito de tráfico de influências e violação de segredo de justiça.
Mohamed Nasheed (Ilhas Maldivas)
Na corrida presidencial até a cadeia, Nasheed é bicampeão. O político, apelidado de Anni em seu país, viu o sol nascer quadrado de 1990 a 2003 por ter retido informações sobre um plano de bombardeio e por irregularidades nas eleições de 1989. Não contente, Anni voltou ao xadrez em fevereiro do ano passado em meio a suspeitas de que ele fugiria das Maldivas para evitar acusações de terrorismo.
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Augusto Pinochet (Chile)
Se houvesse uma eleição (direta ou não) entre os presidentes latinos mais encrencados com a polícia, Pinochet seria um dos principais oponentes de Fujimori. O ditador chileno governou o país entre 1973 e 1990: a ditadura militar instaurada por ele deixou mais de 40 mil vítimas e é internacionalmente reconhecida como uma das mais sangrentas da história.
Mas sua prisão também é um caso emblemático. Em 1998, aos 82 anos, enquanto ele se recuperava de uma operação de hérnia em uma clínica de Londres, foi surpreendido por 15 agentes da Scotland Yard que cumpriam uma ordem judicial que o acusava por crimes de genocídio e terrorismo. No ano seguinte, Pinochet foi libertado por motivos de saúde e voltou ao Chile. Quando morreu, em 2006, o governo chileno não lhe deu honras, referiu-se a ele apenas como “General Pinochet”, tamanha a violência dos crimes atribuídos a ele.
Franklin Pierce (Estados Unidos)
Ao contrário da maioria dos políticos, os problemas de Pierce com a polícia não tiveram relação alguma com o seu governo. Franklin Pierce, presidente dos Estados Unidos entre 1837 e 1842, foi preso por atropelar uma senhora idosa enquanto andava a cavalo, em Washington. O processo foi abandonado em 1853 por falta de provas.
Ulysses S. Grant (Estados Unidos)
Pouco tempo depois, outro presidente norte-americano que teve que se explicar à polícia foi UIysses Grant (1869 a 1877). Durante seu mandato, Grant foi preso por dirigir uma charrete em alta velocidade. Se o presidente exagerou na velocidade, a polícia não mediu esforços na criatividade para puni-lo: além de pagar uma multa de US, foi obrigado a voltar para a Casa Branca caminhando.
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