Ponte que da Vinci projetou há 500 anos seria funcional
Encomendada por um sultão otomano, estrutura era 10 vezes maior que qualquer outra construída na época – além de mais resistente a terremotos.
Leonardo da Vinci era conhecido por sua inventividade, mas não tanto por concluir projetos – como já contamos aqui na SUPER. Muitos dos esquemas de criações que o italiano esboçou jamais deixaram o papel, ou eram apenas introdutórios – desenhos que, se tivessem de servir como base para invenções, provavelmente precisariam ser melhor detalhados para guiar quem fosse colocar a mão na massa.
Entre máquinas voadoras, estátuas, canhões, paraquedas e trajes de mergulho, outra peça de engenharia curiosa atribuída ao autor é um projeto de ponte. Acredita-se que da Vinci a propôs após o sultão Bajazeto II, líder otomano, solicitar uma ideia de construção que ligasse a capital Constantinopla a Gálata, centro financeiro do império. Após passar séculos anônimo, o rascunho foi encontrado em 1952.
Seria, à época, a maior ponte do mundo. O projeto era ambicioso e, no papel, designado a ter 280 metros de extensão – 10 vezes mais do que estruturas do tipo costumavam ter no início século 16 –, passando sobre um estuário de rio chamado Corno de Ouro. E o interessante é que, caso tivesse sido posto em prática, poderia ter sido um sucesso.
Foi o que descobriram pesquisadores do MIT. Sua ideia era, baseando-se nas anotações de da Vinci em 1502, tentar fazer um protótipo de ponte funcional.
O grupo levou em conta na análise não somente os rascunhos do inventor renascentista, mas também os materiais e métodos de construção usados na época e as condições geológicas da região que receberia a tal ponte. O resultado foi um modelo feito com 126 peças em uma impressora 3D, e em escala 1 para 500 – 1 centímetro da maquete representam 500 na vida real, o que faz o protótipo ter cerca de 80 centímetros.
Suportes de pontes construídas na época de Leonardo da Vinci costumavam adotar o formato de semicírculo. Por causa disso, uma ponte tão grande precisaria, em teoria, de pelo menos 10 pilares.
Não na cabeça do gênio italiano. Seu conceito de ponte era bem diferente, um tipo de arco único (como uma tiara) que seria alto o suficiente para que um barco passasse por baixo sem grandes percalços.
Além disso, o design em formato de “X” alongado de da Vinci reforçava as laterais da estrutura. Aumentando o apoio, tinha-se um antídoto para um problema comum da época: há relatos de várias pontes que colapsavam nesses mesmos pontos, fruto da falta de equilíbrio – e do elevado número de terremotos que acometiam a região.
Como destaca a revista do Museu Smithsonian, é pouco provável que o mesmo modelo de construção seja repetido em uma obra real de engenharia. O motivo principal é que arranjar um material resistente o suficiente para construir a ponte bloco por bloco, como emularam os pesquisadores no MIT, seria um tanto custoso. O curioso é que uma reinterpretação projeto feito por da Vinci em 1502 já existe: uma ponte para pedestres inaugurada na Noruega em 2001 – com o nome “da Vinci”, como não poderia deixar de ser. Ao invés de pequenos blocos de pedra, no entanto, ela é feita de madeira e aço.
“Este é um conceito de engenharia muito sólido. Foi bastante bem pensado”, conta Karli Bast, engenheira recém-formada no MIT que participou da criação do protótipo, em um comunicado.
Depois de ter se provado funcional, a dúvida principal em relação à ponte de Da Vinci se tornou outra. “Será que esse esboço foi feito à mão livre em algo de 50 segundos, ou exigiu que ele realmente sentasse e pensasse sobre isso com calma? É difícil de saber”, pontua.
Dada a eficácia do design e a importância de quem encomendou o projeto, no entanto, a melhor hipótese é de que Leonardo de fato o tenha planejado. “Ele sabia como o mundo físico funcionava”, completa Bast. Disso, não resta dúvidas.