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O submarino nazista no Brasil

Ele veio para cá durante a Segunda Guerra, acabou naufragando, e foi encontrado décadas depois por exploradores brasileiros. Conheça a história do temido U-513.

Por Daniela Schwanke e Bruno Garattoni
Atualizado em 26 ago 2020, 11h08 - Publicado em 27 jan 2015, 22h00

Em janeiro de 1942, o Brasil cortou relações diplomáticas com a Alemanha de Hitler. Os nazistas responderam de modo enfático: mandando uma frota de submarinos para a nossa costa. Sua missão era impedir o envio de suprimentos dos EUA para a Europa, torpedeando os navios que passassem pelo Atlântico. O alvo principal era a Marinha americana, mas também sobrou para nós: até o final da guerra, os nazistas afundaram 36 navios mercantes brasileiros, deixando 1.074 mortos. Um verdadeiro massacre, que gerou comoção nacional na época. Os alemães enviaram 25 submarinos para patrulhar o Brasil. Onze foram afundados pelos Estados Unidos. Apenas um deles, o U-513, foi localizado até hoje. Ele foi encontrado pelo velejador Vilfredo Schurmann, que passou anos procurando os destroços e está produzindo um filme a respeito (“Em Busca do Lobo Solitário”, atualmente em fase de edição). “A área de busca era muito grande. Era como procurar uma agulha no palheiro”, conta.

Inferno submerso

O U-513 era chefiado pelo almirante Friedrich Guggenberger, um herói entre os nazistas. Em 1941, ele foi condecorado pelo próprio Adolf Hitler por ter afundado um porta-aviões britânico. Guggenberger era de uma eficiência implacável — até o final da Segunda Guerra, ele afundou 17 navios. Mas a vida dentro de seu submarino não era das mais agradáveis. “Pegava-se um motor e construía-se um submarino em volta”, diz Telmo Fortes, autor de um livro sobre o U-513. Isso significa que não sobrava espaço para quase nada — nem para que cada um dos tripulantes tivesse o próprio colchão. “Eles adotavam o chamado `beliche quente¿. Quando terminava seu turno, o marujo que saía do serviço se recolhia a uma cama que vagava.” Havia apenas dois banheiros, um dos quais foi transformado em despensa — e os presuntos, salames e peças de carne de porco salgada ficavam pendurados ao longo do corredor central, dificultando ainda mais a circulação.

O U-513 era bem primitivo para os padrões atuais. Usava tecnologias herdadas da Primeira Guerra Mundial e tinha de ser frequentemente abastecido por outros submarinos, conhecidos como “vacas leiteiras”, que levavam combustível (diesel), armas e mantimentos. Começou a navegar em agosto de 1942, mas Guggenberger só assumiu seu comando em maio de 1943. Não duraria muito. No dia 19 de julho, um hidroavião americano viu o submarino na costa de Santa Catarina — e lançou duas bombas sobre ele. A segunda pegou em cheio. Apenas sete tripulantes sobreviveram, entre eles o próprio Guggenberger. “Os militares [americanos] poderiam tê-los deixado em alto-mar, mas preferiram salvar os sobreviventes”, diz Schurmann. Guggenberger foi levado até uma penitenciária no Arizona, onde ficou até 1944. Em 23 de dezembro daquele ano, ele e outros 24 prisioneiros de guerra fugiram. Ele chegou a ser recapturado perto da fronteira com o México, mas acabou liberado pelos Aliados em 1946. Voltou à Alemanha, onde chefiou um quartel-general da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar coordenada pelos EUA na Europa) até se aposentar em 1972.

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Permissão negada

Vilfredo Schurmann soube do afundamento do submarino em 2002, enquanto fazia uma regata da ilha de Vitória até a ilha de Trindade — a aproximadamente 1.500 quilômetros de distância da costa brasileira em direção à África. “Em uma das noites, conversando com um fotógrafo e amigo meu, ele me mostrou um livro.” Era A Última Viagem do Lobo Cinzento, o livro escrito por Telmo Fortes. A partir daí, foram 11 anos de pesquisa, entrevistando especialistas e pessoas envolvidas na história. “Fizemos um levantamento de dados, checamos e rechecamos informações, definimos uma área de busca, juntamos uma equipe de arqueólogos, oceanógrafos, biólogos e engenheiros”, diz Schurmann. Foram 18 expedições de barco. A equipe usava um sonar, que funcionava como um radar submerso. Não era fácil enfrentar o mar agitado e ao mesmo tempo içar e submergir o sonar, que ficava conectado por um cabo de 130 metros [veja no infográfico]. “Muitos da equipe desistiram”, conta ele. Até que, depois de dois anos varrendo o fundo do mar, finalmente o submarino foi encontrado. “Foi uma emoção indescritível”, diz Schurmann. Segundo ele, o submarino tem um grande furo no casco e está com o bico de proa quebrado, mas de resto está intacto. Ou seja, dentro dele com certeza há tesouros históricos de enorme valor — e, muito provavelmente, os esqueletos de 47 soldados nazistas.

Por isso, a Marinha negou o acesso ao local. Não permitiu que mergulhadores desçam até o U-513. “Nós solicitamos a exploração, como já foi feita em vários países”, diz o velejador. Procurada pela SUPER, a Marinha explicou que o lugar é considerado um “túmulo de guerra” (local onde há restos mortais de combatentes), e por isso não é permitido mexer nele. “Eu entendo que deveria ser permitida a exploração [por mergulhadores], para poder identificar alguns objetos do U-513. O mergulho seria feito com total segurança. Estávamos com tudo preparado”, lamenta Schurmann. A Marinha só autorizou a ida de um robô até o submarino, o que já foi feito. As imagens gravadas por ele farão parte do documentário sobre o U-513, que será lançado no ano que vem.

No final de setembro, Schurmann partiu com a família para uma nova expedição de veleiro. Eles irão passar por cinco continentes (veja o itinerário em expedicaooriente.com.br), e só deverão voltar ao Brasil em dezembro de 2016. Ele diz que não tem intenção de procurar outros submarinos afundados na costa brasileira. Mas acha que um deles pode ser encontrado: o U-199, afundado ao largo da cidade do Rio de Janeiro. “Os outros foram afundados em profundidades bem maiores, no Nordeste.” A costa brasileira ainda guardará segredos da Segunda Guerra por muito tempo. Alguns, para sempre.

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O Submarino

O U-513 tinha motores a diesel — que acabava e tinha de ser reposto após alguns meses. Não era como os submarinos nucleares de hoje, que nunca precisam ser reabastecidos.

A BUSCA

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– Projeto usou mesmo veleiro no qual a família Schurmann cruzou o planeta em 1997.
– 2 anos foi a duração da busca pelo submarino.
– 18 foi a quantidade de expedições para procurá-lo.
– 20 km² foi a área rastreada. É o equivalente a 13 Parques do Ibirapuera.

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– 135 metros é a profundidade na qual o submarino foi encontrado.

SENR
Funciona como um sonar (radar submarino), emitindo ondas sonoras para localizar objetos submersos — que refletem essas ondas. É conectado ao veleiro por um cabo de 130 metros.

ARMAS

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– Três canhões, um deles antiaéreo, mais 22 torpedos e 44 minas explosivas.
– Tripulantes 54
– Autonomia 25.000 km
– Velocidade 15 a 31 km/h
– Peso 760 toneladas

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