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“O Grande Medo”: estudo desvenda misterioso episódio da Revolução Francesa

Modelo emprestado da epidemiologia revela que boatos se espalharam como um vírus na França de 1789 – e fortalece uma das hipóteses sobre a origem do fenômeno.

Por Bruno Carbinatto
4 set 2025, 14h00

Entre julho e agosto de 1789, uma série de rumores começou a se espalhar pelas áreas rurais da França. Os boatos diziam que gangues de bandidos estavam atacando vilarejos, destruindo plantações e aterrorizando os plebeus – tudo isso supostamente por ordem dos nobres franceses, que arquitetavam um contra-ataque aos movimentos revolucionários crescentes pelo país. Segundo esse burburinho, os ricos pretendiam causar fome generalizada para matar os pobres.

Não era verdade – os poderosos de fato temiam a revolução, mas tais queimadas de colheitas e ataques às plantações não ocorreram de fato. No entanto, como você bem sabe, as fake news se espalham rápido e convencem muita gente. Em questão de semanas, os camponeses aterrorizados com a suposta ameaça se organizaram, se armaram e passaram a atacar as casas senhoriais e os castelos das elites, numa medida de autodefesa.

Este período de grande revolta popular ficou conhecido como “O Grande Medo” e foi uma etapa crucial da Revolução Francesa. Temendo o movimento das classes mais pobres, o governo finalmente se livrou dos últimos resquícios do senhorialismo, o sistema econômico base do feudalismo na Europa Medieval, em que senhores nobres detinham a terra onde os camponeses plantavam.

Até hoje, muito do fenômeno é misterioso. Como ele surgiu e se espalhou? Os boatos foram plantados por forças revolucionárias como uma estratégia racional para estimular revoltas ou emergiram naturalmente por causa do medo irracional que a população cultivava numa época de grandes incertezas?

Agora, pesquisadores buscaram respostas para estas perguntas usando um instrumento curioso: modelos epidemiológicos, utilizados pela ciência para estudar e acompanhar surtos e epidemias de doenças contagiosas. Isso é possível porque, assim como o vírus da gripe ou da Covid-19, os boatos muitas vezes se espalham de grupo em grupo, como numa “pandemia de rumores”. Para entender como e quando isso aconteceu na França do século 18, os cientistas criaram um modelo epidemiológico do Grande Medo.

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Para alimentar o modelo, os pesquisadores utilizaram um livro publicado em 1932 pelo historiador francês Georges Lefebvre, que reúne cartas e outros documentos sobre a disseminação dos rumores pelo país. Também usaram mapas históricos contendo o sistema de estradas da época, para identificar possíveis caminhos pelos quais boatos se espalharam.

Com isso, a equipe conseguiu identificar quanto tempo demorou para o Grande Medo se instalar, quais foram as rotas principais de disseminação das histórias e quais regiões eram mais vulneráveis à “infecção”. O artigo foi publicado na revista Nature.

Os resultados mostraram que o episódio realmente se assemelha muito a um surto viral – se espalhando em “ondas de infecção” distintas. O pico do Grande Medo ocorreu no dia 30 de julho, segundo o estudo, e a epidemia diminuiu rapidamente nas últimas semanas.

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Vilarejos mais escolarizados, letrados e ricos foram mais suscetíveis aos efeitos dos boatos, contrariando a ideia de que o fenômeno foi causado principalmente por rumores espalhados oralmente por camponeses pobres e analfabetos. Regiões onde a posse das terras era mais concentrada – e, portanto, onde o poder das elites era maior – também formavam uma espécie de “grupo de risco” nesta epidemia. 

Por fim, os locais onde os lordes precisavam comprovar suas posses por meio de documentos também foram palco de maior transmissão dos boatos.

Estes fatores fortalecem a hipótese de que o episódio foi mais racional e político – e enfraquecem a ideia de que foi um fenômeno natural causado pelo pânico generalizado e irracional. Nestas regiões mais ricas e alfabetizadas, as revoltas populares levaram à destruição de documentos que davam legitimidade legal à concentração de terras nas mãos das elites. Como foi justamente nelas que os boatos se espalharam mais, é provável que houvesse alguma lógica por trás do espalhamento de rumores.  

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“Este cenário é consistente com a interpretação do Grande Medo como um evento motivado por questões políticas, fruto de comportamento racional e em resposta ao ambiente jurídico feudal local”, escrevem os autores no estudo.

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