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O dia em que Pablo Escobar matou sua amante

A SUPER lança em agosto um dossiê especial dedicado à vida e à carreira (tuduntss) de Pablo Escobar, o maior traficante de todos os tempos. Aqui você vai conhecer um de seus crimes menos conhecidos e entender por que é importante lembrarmos de seus atos.

Por Eduardo Szklarz
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 15 jul 2016, 12h15

Desligou o telefone e sentiu uma força estranha no peito. Ela era doce, deslumbrante, encantadora. Uma mulher de classe. Modelo de 32 anos, o sorriso malicioso e um cabelo preto e liso que caía até a metade das costas. As longas pernas a alçavam a 1,80 metro de altura, quase 10 centímetros a mais que ele. Deusa.

Tinham se conhecido meses antes num bar do sofisticado bairro de El Poblado. Tomaram drinques, bateram papo e foram para o apartamento dela viver a noite de amor mais frenética da história de Medellín. Tão frenética que só na manhã seguinte um perguntou o nome do outro. Ela se chamava Wendy Chavarriaga Gil. Ele era John Jairo Velásquez Vásquez.

A Colômbia estava em guerra, mas Wendy fazia John Jairo esquecer de tudo. Era seu porto seguro, a mulher dos seus sonhos. O romance caminhava de vento em popa, até que chegou a hora da verdade.

John Jairo ligou para Wendy e a convidou para almoçar no dia seguinte no restaurante Palos de Moguer. Desligou o telefone e foi dormir com aquela força estranha invadindo no peito. Wendy chegou ao restaurante às 12h40, sem reparar nos dois homens que ocupavam a mesa ao lado. Também não deu importância a um terceiro sujeito sentado sozinho. Só ficou brava com a demora do namorado, delatada pelos ponteiros do seu relógio Cartier.

Foi quando tocou o telefone do restaurante. John Jairo estava na linha e pediu que chamassem Wendy. A morena se levantou e segurou o fone com raiva.

– Estou te esperando há 20 minutos! Onde você está?

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– Meu amor, chego aí em cinco…

Não deu tempo de falar mais nada. Só se ouviu o ruído da saraivada de balas que lançou o corpo de Wendy ao chão. Ra-tá- tá-tá- tá. Do lado de fora, a poucos metros do restaurante, John Jairo observava a cena que ele mesmo havia planejado.

Dias antes, tinha ido com os assassinos até o lugar para estudar as rotas de fuga. E entregou a eles uma foto da modelo. No dia do encontro, John Jairo chegou antes que Wendy. Estacionou o carro e ficou esperando. Quando a viu entrar, ligou do celular para o restaurante e pediu que a chamassem. Era o sinal para que seus homens entrassem em ação. Eles a alvejaram com revólver e depois com pistola, para garantir que não saísse viva dali. John Jairo deixou que os assassinos fugissem de moto, conforme o combinado, e se aproximou da cena do crime. Então viu Wendy pela última vez, com sua beleza sublime maculada por uma poça de sangue. Não houve adeus nem beijo de despedida. Só tiros a queima roupa.

Na máfia é assim: pra sobreviver, você tem que matar o vizinho, o colega, o melhor amigo – o u até mesmo o amor da sua vida. John Jairo saiu do restaurante, pegou o carro e foi ao encontro do chefe. O Patrão olhou-o fixamente sem dizer palavra alguma. Sabia que tinha diante de si um soldado leal. Ordem cumprida. Serviço feito. Menos um inimigo na guerra.

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***

John Jairo Vásquez Velásquez, codinome “Popeye”, foi um dos assassinos mais sanguinários do Cartel de Medellín. E o único que sobreviveu. Um capanga profissional, que liquidava a vítima com dois tiros acima da sobrancelha. Confessou ter eliminado 300 pessoas com as próprias mãos e se envolvido na morte de outras 3.000. Popeye rezava para a Virgem de Auxiliadora e o Menino Jesus de Atocha, mas Deus pra ele só havia um: Pablo Emilio Escobar Gaviria. “O Patrão era um bom amigo, mas também o pior dos inimigos”, recordou.

Por isso seu coração gelou quando soube que havia passado a noite com Wendy Chavarriaga, pois ela era ex-amante de Escobar. Wendy inclusive tinha engravidado do traficante, que ao saber da notícia mandou seus homens lhe praticarem um aborto à força porque não admitia filhos fora do casamento. Para se vingar de Escobar, a modelo passou para o lado inimigo. Virou informante da polícia e seduziu Popeye para obter informações sobre o capo.

Escobar deixou que Popeye namorasse Wendy, mas grampeou o telefone da moça e descobriu que ela mantinha contato com as forças de segurança. Polícia, Exército, CIA, DEA, o escambau. Então Escobar chamou Popeye e lhe mostrou as gravações.

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– O que você acha disso, Pope?

O assassino baixou a vista. Já sabia o que tinha de ser feito. Nunca havia questionado uma ordem do chefe, e não seria agora. “Se tivesse dito que estava apaixonado por Wendy, a máfia me mataria imediatamente”, recordou Popeye. E foi assim que, naquele outono de 1991, John Jairo planejou a morte da namorada. Tinha 29 anos e já havia feito muita gente comer capim pela raiz, mas com Wendy era diferente. Não podia matar a mulher que amava. Tanto que mandou os três assassinos fazerem o serviço. “Quando a vi morta, um espírito maligno saiu da minha alma”, disse Popeye. “Senti uma tranquilidade muito forte. E aí tive ódio dela.”

 

***

 

Popeye revelou essa história à imprensa em 2015, após ficar 22 anos preso por homicídio, terrorismo e narcotráfico. Inclusive lançou uma autobiografia contando como sobreviveu a Escobar. Mas ele não é o único. Além de filmes e séries de TV, há uma enxurrada de livros escritos por inimigos, familiares e até ex-amantes do Patrão, alimentando o imaginário de horror e fascínio sobre ele. Mas, afinal, quem foi Pablo Escobar? Como construiu seu império? E por que desperta mais interesse que qualquer outro traficante?

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A SUPER foi em busca das respostas, partindo dos antecedentes de contrabando e violência na Colômbia até os atuais cartéis do México. Na busca, encontramos as várias facetas de Escobar. Porque ele não foi só “o rei da cocaína”, “o pior criminoso do mundo” ou “o maior narcotraficante da História”. Foi também o bilionário de esquerda que admirava as guerrilhas mas financiava os paramilitares. O romântico que se casou aos 26 anos com uma menina de 15. Que confessou ao filho que sua profissão era “ser bandido”; e à amante, que adorava “fazer maldades”.

Foi o paisa (natural de Antioquia) que curtia banana com feijão e ovo frito, mas mandava um jatinho à Suíça quando tinha desejo de chocolate suíço. E outro à França pra buscar vinho francês. Escobar foi o mafioso que não usava correntes de ouro e o parlamentar barrado na porta do Congresso por não usar gravata. O durão que ficou famoso pela política de plata o plomo (“dinheiro ou chumbo”), mas que obedecia de mansinho as ordens da mãe.

Foi o excêntrico que povoou uma fazenda do tamanho de 3.000 campos de futebol com flamingos, hipopótamos e girafas do Quênia. O psicopata que explodiu um avião com 107 pessoas a bordo só pra matar um político (que não estava no voo), mas que foi extremamente amoroso com a esposa e os filhos. E até hoje é cultuado pelos pobres como o Robin Hood colombiano. Escobar foi o gângster que recebeu cartas de admiradores na cadeia que ele mesmo construiu. E o sétimo homem mais rico do mundo em 1989 segundo a Forbes, embora nem a revista nem ninguém fizesse ideia da sua verdadeira fortuna.

Acima de tudo, Escobar foi o primeiro bandido que tentou assumir o controle formal de um país. Não bastava botar a Colômbia de joelhos. Ele queria ser presidente. “O Cartel de Medellín marcou a primeira etapa do processo de infiltração criminosa no Estado colombiano”, diz o cientista político Eduardo Salcedo-Albarán, especialista em crime organizado.

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Ao mudar a história da Colômbia, Escobar mudou a história do mundo. Sua organização chegou a controlar 80% da cocaína enviada aos EUA e abriu rotas para a Europa passando pela Espanha. Só que ele matou gente demais. Inimigos demais. Amigos demais. E assim selou a própria sorte. Passou uma década na clandestinidade e amargou os últimos dias encurralado, fugindo de casebre em casebre até ser abatido em cima de um telhado.

Sucumbiu descalço em 2 de dezembro de 1993, aos 44 anos, com 3 tiros no corpo – entre eles uma bala que entrou pelo ouvido e lhe trouxe morte instantânea. Do glamour dos primeiros tempos, só restou o pó. O pó branco que continua fazendo a cabeça dos gringos. E o pó cinza do cemitério Montesacro, em Medellín, onde a tumba de Escobar virou templo de peregrinação. É o que você vai ver em agosto, nas bancas.

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