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Massacre no mar

Os dois naufrágios com o maior número de mortos da história aconteceram em 1945, por obra dos Aliados.

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 13 dez 2019, 15h11 - Publicado em 21 nov 2019, 15h10

SI_Segunda_Guerra_Capitular_7Em termos de vidas humanas, os dois piores desastres marinhos de todos os tempos foram causados pelos Aliados, contra alvos principalmente civis. Em 3 de maio de 1945, o transatlântico SS Cap Arcona afundou por obra de um ataque da Aeronáutica britânica (foto acima). A ação deixou 5 mil vítimas fatais – a maioria prisioneiros Aliados, de campos de concentração.

O navio foi alvo de uma ação massiva dos ingleses, quando a guerra já tinha acabado na prática. Três dias antes do naufrágio, Adolf Hitler havia cometido suicídio, e um dia depois os alemães assinariam a rendição. O último esforço para atingir embarcações inimigas que frequentavam o Mar Báltico culminou com disparos contra três navios ancorados na Baía de Lübeck, incluindo o cargueiro Thielbek e o navio de passageiros Deutschland. No total, a ação na baía provocou 7 mil mortes.

O transatlântico Arcona havia começado a operar em 1927, levando cargas e passageiros de Hamburgo até Buenos Aires, com paradas no Rio de Janeiro. Em 1943, foi usado como cenário para a produção alemã Titanic, que retratava o naufrágio mais famoso da história como resultado da arrogância britânica.

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SS Cap. Arcona, alvo de uma ação massiva dos ingleses, quando a guerra já tinha acabado na prática. (Wikimedia Commons/Domínio Público)

A partir de 1945, o navio vinha sendo usado para evacuar civis e militares alemães diante do avanço do Exército Vermelho. Quando foi atingido, acabara de receber uma nova missão: assim como o Thielbek e o Deutschland, vinha sendo utilizado como um navio-prisão para manter detentos de campos de concentração que tinham sido evacuados, fugindo do avanço soviético (os alemães faziam isso para que os soviéticos não testemunhassem os seus campos, e para manter a mão de obra escrava). Os três navios estavam atracados quando foram atingidos. Os comandantes não tiveram condições de reagir.

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Fuga frustrada

Em matéria de mortes em um único navio, os ataques britânicos chegam a parecer pequenos diante do que havia acontecido meses antes. Em 30 de janeiro de 1945, o cruzeiro MV Wilhelm Gustloff, que levava militares e uma multidão de civis, fugindo das tropas soviéticas, foi torpedeado pelo submarino soviético S-13. Morreram 9.400 pessoas, incluindo 5 mil crianças. Não há registro de naufrágio com mais vítimas, em qualquer época.

Batizado em homenagem ao ativista nazista suíço Wilhelm Gustloff, assassinado pelo estudante croata David Frankfurter em 1936, o navio foi inaugurado em 1937. Tinha 208,5 metros de comprimento, 25 mil toneladas de peso e capacidade para transportar 1.880 pessoas. Era utilizado para levar jovens para passeios e atividades culturais por toda a Europa, até ser adaptado e transformado em um hospital marítimo em 1939.

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MV Wilhelm Gustloff, não há registro de naufrágio com mais vítimas, em qualquer época. (Bundesarchiv/Wikimedia Commons)
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Em novembro de 1940, o navio foi utilizado como quartel em alto-mar, na região do porto de Gotenhafen, na atual Polônia. No início de janeiro de 1945, com a derrota alemã a caminho, o navio foi utilizado para uma nova demanda: evacuar militares e civis. Rapidamente, mais de 10 mil pessoas se amontoaram na embarcação, que partiu no dia 30 de janeiro, escoltada por um único torpedeiro.

Ao cair da noite, sob um intenso nevoeiro, o navio foi localizado pelo submarino russo comandado pelo capitão Alexander Marinesko – que pintou recados nos quatro torpedos que disparou; mandou escrever neles “Pela pátria”, “Por Stalin”, “Pelo povo soviético”, “Por Leningrado”. Às 21h, o submarino disparou. Três torpedos acertaram o alvo, e o Wilhelm Gustloff começou a afundar. 996 dos mais de dez mil puderam ser resgatados da água. Todos os demais morreram. E seus corpos, até os anos 1970, continuaram chegando à costa.

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