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Marcas em ossos revelam uso de pele de urso como vestimenta primitiva

Os arranhados nos ossos das patas mostram que a pele do animal foi cuidadosamente arrancada - provavelmente para que servisse de casaco ou cobertor

Por Leo Caparroz
3 jan 2023, 18h38

Ossos antigos sugerem que nossos ancestrais descascavam as peles dos ursos há pelo menos 320 mil anos. As evidências foram recuperadas de um sítio arqueológico próximo à cidade de Schöningen, na Alemanha. O estudo que relata a descoberta foi publicado no Journal of Human Evolution.

A região da cidade alemã já é conhecida no ramo. Por lá, outros arqueólogos já descobriram ferramentas de pedra e osso, além de um conjunto de lanças de madeira datadas de 300 a 337 mil anos atrás – as armas de madeira completas mais antigas já descobertas.

Os pesquisadores chamaram a atenção para pequenas e precisas marcas encontradas nos ossos das patas – mais especificamente, nas falanges e no metatarso, ossos longos e resistentes no meio do pé. Marcas de corte nos ossos costumam ser interpretadas como uma indicação do uso da carne do animal morto. No entanto, segundo os pesquisadores, os pés e mãos não têm muita carne, então é provável que as marcas sejam resultado de um cuidadoso esfolamento dos ursos.

“A exploração de ursos, especialmente os das cavernas, tem sido um debate contínuo por mais de um século e é relevante não apenas no contexto da dieta dos hominídeos, mas também para o uso de peles”, escrevem os pesquisadores no estudo. “Rastrear as origens da exploração de couro pode contribuir para a compreensão das estratégias de sobrevivência nas condições frias e duras do noroeste da Europa durante o período”.

Eles compararam as suas descobertas com outros exemplos similares já analisados na literatura científica – outros ossos de pata de urso que também tinham marcas de corte e que foram considerados consequência de esfolamento. As marcas nos ossos de Schöningen eram semelhantes o suficiente para que a equipe concluísse que os humanos pré-históricos estavam usando a pele dos ursos.

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É provável que esse casaco de peles primitivo tenha fornecido às pessoas uma proteção extra durante os rigorosos invernos, cobrindo seus corpos relativamente sem pelos. Os ursos têm uma pelagem espessa que, no inverno, consiste de longos pelos externos que formam uma camada protetora arejada e pelos curtos e densos que fornecem um bom isolamento térmico.

“Essas marcas de corte recém-descobertas são uma indicação de que, cerca de 300 mil anos atrás, as pessoas no norte da Europa conseguiam sobreviver no inverno graças em parte às peles quentes dos ursos”, diz Ivo Verheijen, um dos autores do estudo.

Como os restos mortais dos ursos encontrados em Schöningen são de adultos, os pesquisadores acreditam que os humanos caçavam ativamente os animais. A pele de um urso também deve ser retirada assim que o animal morre, se não ela se torna inutilizável – então eles não poderiam ter esfolado um animal já morto.

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