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Gigante de Cerne Abbas: o monumento milenar com um pênis de 8 metros na Inglaterra

O folclore local dizia que seria o cadáver de um gigante. Conheça a trajetória cultural do monumento que já foi palco de rituais de fertilidade e campanhas publicitárias.

Por Bela Lobato
26 ago 2025, 16h00

Há mais ou menos mil anos, em uma colina no sudoeste da Inglaterra, a escultura começou a surgir. Quando as linhas já estavam esculpidas no solo, o giz foi jogado por cima dos sulcos, para dar nitidez ao contorno. Se você estivesse no chão, ali perto, não veria muita lógica. Já quem observava a distância (ou dos céus), podia ver as linhas se juntando para formar o contorno de um homem.

Ele tem 55 metros de altura. Sua cabeça em forma de gota é calva, ele segura um taco na mão direita, está nu e é um exemplo de arte itifálica. “Itifálica” vem do grego: ithŭ́s, que significa “reto” e phallós, que (talvez você já tenha notado), “pênis”. Arte itifálica é a arte que retrata pênis eretos – e agora você já pode dar uma opinião de especialista sobre as obras de arte de banheiros públicos e carteiras escolares. 

Esse é o Gigante de Cerne Abbas, um monumento arqueológico inglês que há séculos intriga historiadores, antropólogos, artistas e pais tendo que explicar coisas constrangedoras para crianças.

Quem era este homem? Por que ele foi representado ali, em uma colina vizinha de uma vila pacata? Quando isso aconteceu?

A resposta da última pergunta você já sabe: há mais ou menos mil anos. Um estudo de 2021 utilizou um método chamado luminescência opticamente estimulada (OSL, na sigla em inglês) para descobrir quando as camadas mais profundas de giz foram expostas pela última vez à luz do Sol.

Os autores afirmam que a construção deve ter ocorrido entre os anos de 700 e 1.100 d.C. Muitos pesquisadores acreditavam que a obra fosse muito mais antiga, talvez até pré-histórica. Por outro lado, havia quem achasse que a obra era bem mais recente, já que não há registros mais antigos do que os do século 17.

O folclore local diz que o monumento seria o contorno do cadáver de um gigante real ou de um invasor dinamarquês decapitado pela população.

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Fotografia de homens fazendo a restauração do Gigante de Cerne Abbas.
A restauração periódica do Gigante de Cerne Abbas consiste na poda da vegetação e a deposição de novas camadas de giz. (Wikimedia Commons/Reprodução)

Embora ele seja antigo, o desenho nem sempre foi o mesmo. Um estudo arqueológico de 1996 foi o primeiro a apontar que a figura originalmente segurava uma capa sobre o braço esquerdo estendido e um objeto (possivelmente uma cabeça decepada) na mão esquerda. Não se sabe quando a mudança ocorreu, e se foi natural ou provocada por humanos. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Gigante foi coberto com arbustos, para evitar que servisse de ponto de referência visual para bombardeios. Depois disso, ele sempre esteve visível, e recebe podas regulares da grama e uma nova leva de giz a cada 25 anos. Ele também já ganhou uma “plástica de nariz” em 1993, para restaurar danos causados por desgastes naturais. 

Talvez a mudança mais impactante seja a eliminação do umbigo do Gigante, que foi incorporado ao topo do pênis, tornando o membro ainda maior. Abaixo, uma versão ilustrada de 1764 mostra como era o desenho naquela época.

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Esboço de 1764, talvez datado de 1763, enviado à Sociedade de Antiquários de Londres.
Esse esboço, de 1764, foi enviado à Sociedade de Antiquários de Londres. (Wikimedia Commons/Reprodução)

No século 18, antiquários tentaram associar a imagem ao de algum antigo deus celta. Mais tarde, os monges de Cerne Abbas mudaram a interpretação e afirmaram que o Gigante seria uma representação do santo Eadwold.

Hoje, a hipótese mais predominante é que se trate do semideus grego Hércules – que era frequentemente retratado com um taco na mão direita e uma pele de leão na esquerda. 

Entretanto, a função original do monumento continua incerta. O semideus poderia servir para indicar força e proteção ou território, ou como marco territorial, visível a longas distâncias. É possível ainda que fosse uma manifestação de poder e prestígio de elites locais, que usariam a imagem monumental para afirmar autoridade.

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Na era vitoriana, a crença popular indicava que as mulheres que dormissem sobre o monumento seriam abençoadas com fecundidade. Caso fosse preciso apelar para medidas mais drásticas, a relação sexual em cima da figura, especialmente do falo, poderia curar de vez a infertilidade.

O local virou um ponto turístico e já apareceu em diversas campanhas publicitárias. O Gigante já recebeu lonas azuis nas pernas para fazer propaganda de calças jeans, e uma camada de látex no pênis para divulgar uma associação de planejamento familiar.

Em 2007, durante a estreia de Os Simpsons – o Filme, um grande Homer Simpson foi pintado ao lado do gigante usando tinta biodegradável. A intervenção ofendeu moradores que seguem tradições pagãs regionais, que anunciaram que fariam rituais mágicos para que o desenho publicitário fosse lavado o mais rápido possível. 

Fotografia do Homer Simpson como promoção para o filme Os Simpsons ao lado do Gigante de Cerne Abbas, um monumento milenar com um pênis de 8 metros na Inglaterra.
(Wikimedia Commons/Reprodução)
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Seja qual tenha sido a intenção original do monumento, a única certeza é que ele foi modificado e reinterpretado de acordo com os costumes de cada época. Quase uma estratégia de sobrevivência de um gigante preso no solo. 

Se quiser vê-lo por imagem de satélite, no Google Maps, basta clicar no link

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