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Fóssil sugere que o “hominídeo hobbit” tem mesmo ancestral que os humanos modernos.

Com um metro de altura, o Homo floresiensis vivia na ilha de Flores, na Indonésia. A descoberta de um osso do braço sugere que ele é descendente do Homo erectus

Por Maria Clara Rossini
6 ago 2024, 18h00

Em 2003, pesquisadores australianos e indonésios descobriram um crânio humano na ilha de Flores, na Indonésia. O que chamou a atenção foi o tamanho do fóssil: era uma versão diminuta de um crânio adulto, abrigando um cérebro do volume de uma toranja. O dono dessa cabeça viveu há 50 mil anos na ilha de Flores.

Nas duas décadas seguintes, outros fósseis semelhantes foram encontrados na região – não só do crânio, mas também outras partes do corpo de pelo menos 12 indivíduos. Hoje, sabemos que eles são uma espécie particular de hominídeo, chamada Homo floresiensis. Eles mediam aproximadamente um metro de altura, e ficaram mais conhecidos pelo apelido “hobbits”.

Um estudo publicado hoje (6) no periódico Nature Communications revela mais sobre a história dessa espécie. Uma equipe de pesquisadores do Japão, Indonésia e Austrália analisou o osso do braço de um desses indivíduos. Trata-se do menor fóssil desse tipo já encontrado para um hominídeo adulto.

Sabemos que o Homo floresiensis viveu até 50 mil anos atrás, mas o novo fóssil data de 700 mil anos. Isso mostra que o hobbit desenvolveu e manteve sua mini estatura por centenas de milhares de anos, até sua extinção. E mais: é possível que os floresiensis mais antigos fossem ainda menores que os mais recentes.

“Eles eram pequenos no início, e permaneceram pequenos por muito tempo”, diz Yousuke Kaifu, antropólogo da Universidade de Tóquio que liderou o estudo.

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Os vestígios descritos no novo estudo incluem dois dentes e um osso úmero, que faz parte do braço. Os pesquisadores usaram esse osso para estimar a altura do hominídeo, que fica entre 93 e 121 centímetros. Os fósseis foram encontrados em Mata Menge, um sítio arqueológico localizado na parte leste da ilha.

A descoberta corrobora para a hipótese de que o Homo floresiensis seja descendente do Homo erectus – mesma espécie que deu origem a nós, humanos modernos. Fósseis de erectus que datam de um milhão de anos já foram encontrados na ilha de Java, próxima a Flores. Somado a isso, os dentes de Mata Menge são semelhantes aos dos erectus de Java.

Há uma proximidade espacial e temporal entre essas duas espécies. De acordo com a hipótese sugerida pelos pesquisadores, os erectus chegaram à ilha de Flores (talvez por acidente) há um milhão de anos. Daí, eles teriam encolhido ao longo dos 300 mil anos seguintes.

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O encolhimento de algumas espécies por meio da seleção natural é um fenômeno comum em ilhas. Para começar, não há muita vantagem em ser grande, já que as ilhas não costumam ter predadores enormes. A restrição de alimentos faz com que os indivíduos de tamanho menor tenham mais chances de sobreviver e se reproduzir, deixando descendentes pequeninos também. Com o tempo, a espécie fica menor em comparação a seus parentes no continente. Essa tendência é chamada Regra das Ilhas ou Regra de Foster, em homenagem ao pesquisador que estudou o fenômeno nos anos 1960. 

Os hobbits são 40% menores que os erectus. Uma mudança tão drástica de aparência em apenas 300 mil anos é, no mínimo, incomum. Outras pesquisas, que reconstroem a árvore filogenética do gênero Homo, apontam que o H. floresiensis teria, na verdade, evoluído de um ancestral ainda mais antigo que o H. erectus

O mistério da evolução dos Homo floresiensis ainda não está resolvido. Mas a nova descoberta adiciona uma peça a mais para o entendimento da árvore genealógica do gênero Homo.

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