Essas esculturas de camelo, na Arábia Saudita, são mais antigas que Stonehenge
Eles foram descobertos em 2018, com idade estimada de 2 mil anos. Depois, datações sofisticadas revelaram a provável idade dos monumentos.
“Existem poucas coisas mais estudadas do que aquelas pedras”, me disse uma pesquisadora especialista em genética de populações, em certa ocasião. Ela se referia ao monumento Stonehenge, localizado em Salisbury, no Reino Unido. São milhares de pesquisas que tentam descobrir como as pedras foram colocadas naquela posição, por quem, e para que elas serviam.
O que há de excesso de atenção para as pedras britânicas falta em outros monumentos. Foi só em 2018 que pesquisadores descobriram a existência de imagens de camelos esculpidas em pedra, num local hoje conhecido como “sítio dos camelos”. Ele fica na região de Jaufe, na Arábia Saudita. Lá estão imagens de 11 camelos, dois burros e um animal que se assemelha a um cavalo.
A equipe do Centro Nacional da França para Pesquisa Científica (CNRS) conduziu três visitas ao local em 2016 e 2017, antes da publicação do artigo. Na época, acreditava-se que as esculturas tinham 2 mil anos de idade. Pouco tempo depois, em 2021, técnicas de datação mais precisas, como carbono-14, revelaram a provável idade das rochas: de 7 mil a 8 mil anos.
Se a datação estiver correta, isso faz dos camelos as imagens em larga escala mais antigas da história. As pirâmides do Egito, por exemplo, foram construídas há 4,5 mil anos. Já Stonehenge é de 5 mil anos atrás.
A diferença é que esses camelos são menos impressionantes visualmente. Mas já podem ter sido no passado. “Tendo em mente que eles estão extremamente erodidos, com muitos painéis caídos, o local original deve ter sido absolutamente incrível”, disse a arqueóloga Maria Guagnin, do Instituto Max Planck, à revista Smithsonian em 2021. “Eram camelos em tamanho real, além de duas ou três camadas de equinos, um em cima do outro”.
As esculturas foram feitas durante o neolítico, antes do período que conhecemos como domesticação dos camelos. Os animais retratados, então, eram provavelmente selvagens. No milênio 6.000 a.C., a região onde hoje fica a Arábia Saudita era repleta de gramados e paisagens verdes – contrastante com o deserto que vemos hoje. Os habitantes da região construíram outros monumentos em pedra, mas nada comparado aos camelos encontrados recentemente.
A questão é: por que construir uma grandiosidade dessas? Segundo os autores, é possível que o local estivesse relacionado a ritos de fertilidade ou períodos específicos do ano, já que alguns dos camelos retratados apresentam características típicas da época de acasalamento, como barrigas maiores e redondas.
“Comunidades de caçadores e pastores tendem a ser muito dispersos, e é importante para que eles se encontrem em determinada época do ano, para trocar informações, parceiros, etc.”, diz Guagnin. “Independente de qual seja o simbolismo das esculturas, esse pode ter sido um lugar que unia a comunidade”.
Um lugar que está desaparecendo aos poucos. Com a erosão do sítio arqueológico, os pesquisadores ressaltam que é importante preservá-los e realizar pesquisas o quanto antes. Talvez devêssemos diversificar nossos esforços científicos, olhando com o mesmo cuidado para diferentes monumentos – independente da nacionalidade.