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Crânio de Petralona: nova análise indica idade de misterioso fóssil grego

Descoberto em 1960, o crânio desafia teorias tradicionais sobre a origem e a dispersão dos hominídeos.

Por Luiza Lopes
21 ago 2025, 18h00

Em 1960, um aldeão que explorava a Caverna de Petralona, no norte da Grécia, encontrou algo inesperado: um crânio humano quase completo incrustado na parede de uma pequena câmara e recoberto por camadas de calcita, um mineral composto por cálcio, carbono e oxigênio.

A descoberta logo chamou a atenção de arqueólogos e paleoantropólogos e, automaticamente, virou um mistério. A anatomia do fóssil não se parecia com a dos neandertais, hominídeos extintos, nem com a de humanos modernos, tornando-o um dos mais enigmáticos da Europa.

Por décadas, o enigma se concentrou em duas questões principais: a espécie do indivíduo e a datação do crânio. O antropólogo grego Aris Poulianos foi um dos primeiros a propor uma explicação: para ele, o fóssil pertencia a um novo gênero que ele chamou de Archanthropus europaeus petraloniensis, e teria cerca de 700 mil anos.

Essa interpretação polêmica desafiava a visão dominante de que os humanos modernos (Homo sapiens) surgiram exclusivamente na África há cerca de 300 mil anos, para depois se espalhar pelo mundo.

Para Poulianos, o crânio sugeria que uma linhagem europeia evoluiu de forma independente, com características próprias, incluindo traços antigos típicos de populações europeias na arcada dentária e na parte de trás do crânio. A ideia, no entanto, não é muito aceita por outros arqueólogos e antropólogos.

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Mais: a idade exata do crânio sempre foi controversa. Estimativas anteriores variaram amplamente, entre 160 mil e 700 mil anos, dependendo do método utilizado. Estudos de paleomagnetismo, ressonância paramagnética eletrônica e análise de estratigrafia forneceram resultados conflitantes.

Alguns pesquisadores independentes classificaram o fóssil como Homo erectus, Homo heidelbergensis ou uma forma arcaica de neandertal, enquanto alguns poucos aceitaram a tese de Poulianos de que se tratava de uma linhagem europeia distinta, fora do gênero Homo.

Ao longo das décadas, disputas acadêmicas e restrições governamentais dificultaram novas escavações, tornando o fóssil um símbolo tanto de debates científicos quanto de controvérsias políticas e culturais.

O ambiente da caverna contribuiu para a complexidade da pesquisa. Petralona, localizada a cerca de 35 quilômetros de Tessalônica, é um complexo de galerias com sedimentos ricos em fósseis de animais, incluindo leões, ursos, hienas e outros mamíferos do Pleistoceno.

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Além disso, ferramentas de pedra e ossos modificados indicam a presença de atividades humanas primitivas, sugerindo que a caverna serviu como abrigo e ponto de exploração para diferentes populações ao longo de centenas de milhares de anos.

Esses vestígios fornecem um contexto valioso, mas também complicam a datagem, já que camadas diferentes podem ter idades distintas. Agora, um estudo liderado pelo Instituto de Paleontologia Humana, da França, publicado no Journal of Human Evolution, oferece uma datação mais confiável.

O que diz o estudo?

Os pesquisadores aplicaram a técnica de série de urânio, que permite calcular quando camadas de calcita começaram a se formar. Funciona assim: a água que infiltra na rocha deposita minerais solúveis, incluindo urânio, mas deixa para trás o tório. Com o tempo, porém, o urânio presente nessas camadas se decompõe lentamente em tório.

Medindo a proporção entre os dois elementos na calcita, os cientistas podem determinar o momento em que a camada mineral começou a se formar, fornecendo um ponto de idade mínima para o crânio.

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A análise das camadas que recobriam o fóssil indica uma idade mínima de 286 mil anos, com margem de erro de cerca de 9 mil anos. Dependendo da posição do crânio na estratigrafia da caverna, ele pode ter entre 277 mil e 539 mil anos.

Isso significa que o indivíduo não era um Homo sapiens, cuja origem na África ocorreu cerca de 200 mil anos atrás. Trata-se, portanto, de uma linhagem arcaica que coexistiu com ancestrais dos neandertais na Europa durante o Pleistoceno Médio.

O estudo reforça que o “homem de Petralona” pertencia a um grupo distinto, com características próprias, diferentes tanto dos humanos modernos quanto dos neandertais.

Esses resultados apoiam a hipótese de que a Europa foi habitada simultaneamente por múltiplas linhagens de hominídeos, algumas das quais se sobrepunham temporalmente.

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Essa diversidade revela que a evolução humana na região foi mais complexa do que se pensava, com espécies coexistindo e possivelmente interagindo ao longo de centenas de milhares de anos.

A pesquisa também permite reinterpretar descobertas comparáveis em outros sítios europeus, como Mauer, na Alemanha; Isernia, na Itália; e Boxgrove, na Inglaterra.

Esses locais apresentam fósseis de hominídeos arcaicos com idades semelhantes, reforçando que linhagens humanas europeias evoluíram de forma relativamente independente em relação aos Homo sapiens africanos.

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