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Como vendedores de óleo de cobra deram origem a uma lei anti-fraude nos EUA

No século 19, o produto viralizou por supostamente curar um sem-fim de doenças – e inspirou uma expressão usada até hoje na língua inglesa. Entenda.

Por Manuela Mourão
Atualizado em 17 mar 2025, 15h29 - Publicado em 13 mar 2025, 16h08

No século 19, trabalhadores chineses que foram para os EUA construir ferrovias popularizaram um produto inusitado na terra do Tio Sam: óleo de cobra, ingrediente usado como pomada na China para tratar problemas nas articulações, como artrite e bursite. 

Não era um apelido – o óleo era extraído de fato de cobras aquáticas. Mais tarde, descobriu-se que a substância era rica em ômega-3 (mais até do que um salmão). O ômega-3 é uma gordura “do bem”, ligada a processos antinflamatórios e que pode explicar os benefícios alardeados pelos chineses.

Óleos de cobra genuínos, porém, eram minoria. O mais comum era encontrar versões adulteradas, com óleos baratos e de qualidade inferior misturados a substâncias como cânfora e capsaicina (a responsável pela ardência de pimentas). Muitos vendedores viajavam de cidade em cidade, com apresentações exuberantes do produto. Eles se passavam por médicos e usavam cúmplices que davam testemunhos falsos para atrair mais compradores. 

Os charlatões costumavam passar pelo meio-oeste americano (tanto que personagens vendendo garrafinhas de vidro do produto ficaram famosos, mais tarde, em filmes western). Nas terras americanas, o óleo virou a “cura para reumatismo, surdez, catarro, febre do feno, cólicas, dores e dores de garganta de qualquer natureza”, dizia um anúncio típico.

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No final do século 19, por mais que a comunidade médica avançasse, ainda existiam poucos tratamentos, como antibióticos, para a maioria das doenças crônicas e infecciosas, bem como para as doenças artríticas e reumáticas. Por isso, muitos medicamentos patenteados apareciam com promessas de curar tudo. Eram de fácil acesso, não precisavam de receita.

Era comum que muitos desses medicamentos fossem compostos por drogas como cocaína, morfina ou álcool, dando a ilusão de um efeito calmante imediato.

A farra dos charlatões inspirou, em 1906, a criação da Lei de Medicamentos e Alimentos Puros, uma das primeiras legislações de proteção ao consumidor do país. A lei exigia que os farmacêuticos esclarecessem nos rótulos se os medicamentos incluíam algum ingrediente perigoso ou que causasse dependência. 

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E como uma tacada final, os fabricantes de medicamentos não podiam fazer declarações falsas ou enganosas em suas embalagens.

Mas isso não impediu que a picaretagem continuasse rolando. Um dos casos mais famosos é o de Clark Stanley, que ficou conhecido como o “Rei da Cascavel” graças ao seu produto, o Clark Stanley’s Snake Oil Liniment. No entanto, em 1916, uma análise do Bureau of Chemistry, o antecessor da FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA, a Anvisa americana), revelou que o produto de Stanley não continha nenhum óleo de cobra verdadeiro. Em vez disso, era composto principalmente de óleo mineral e outras substâncias baratas e sem valor terapêutico.

O fim da trambicagem só veio quando novos medicamentos foram introduzidos ao mercado e realmente tratavam o que o óleo de cobra alegava fazer. Stanley foi investigado pelos federais, que apreenderam uma remessa do seu óleo e analisaram o conteúdo. Stanley foi multado em US$20 (só US$ 500 em valores de hoje) por violar a Lei de Medicamentos e Alimentos Puros. Sem oferecer muita resistência, Stanley pagou o preço, fechou a loja e desapareceu dos holofotes.

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Com o tempo, o termo “óleo de cobra” se expandiu para significar qualquer tipo de produto, ideia ou serviço que fosse inútil ou sem valor real, mas que fosse apresentado como algo muito eficaz. Em inglês, a expressão “snake oil salesman” (vendedor de óleo de cobra) passou a ser usada para descrever pessoas desonestas que vendem produtos ou ideias falsas, muitas vezes de forma agressiva e com promessas exageradas.

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