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Como uma múmia de crocodilo de 2.500 anos ajuda a entender o Egito Antigo

Por meio de ressonância magnética, cientistas determinam a causa da morte e a importância religiosa dos crocodilos no Egito Antigo.

Por Bela Lobato
15 jul 2024, 19h00

Há 2.500 anos, no Egito, humanos pescaram um crocodilo de mais de dois metros de comprimento. Não se sabe o que aconteceu com ele logo em seguida, se foi parte de algum ritual ou cerimônia. O fato é que o réptil foi mumificado, enrolado com linho, folhas de palmeiras e cordas, e continua bem preservado até hoje. 

As múmias de crocodilos são achados até bastante comuns: já foram encontrados sítios arqueológicos com várias de uma vez, e até uma múmia de uma fêmea com trinta filhotes nas costas. Pela primeira vez, cientistas utilizaram a tecnologia de ressonância magnética para examinar o interior da múmia, e descobriram pistas importantes para entender o papel dos crocodilos na religiosidade do Egito Antigo. 

Os egípcios acreditavam que a Terra havia sido criada a partir de um pântano, onde vivia o deus Sobek. Com o corpo de um homem, a cabeça de um crocodilo, uma coroa de chifres de carneiro e enfeitado com plumas, Sobek era associado ao poder faraônico, à fertilidade e às proezas militares. As imagens, crânios e roupas feitas com peles de crocodilo eram usadas para invocar a força e proteção divina.

Apesar da abundância de achados arqueológicos de crocodilos no Egito Antigo, até então se sabia muito pouco sobre os aspectos práticos e logísticos do manejo, da exploração e da adoração de crocodilos. Afinal, alguns dos animais encontrados tinham mais de seis metros de comprimento.

Agora, cientistas aplicaram técnicas não invasivas para analisar esse exemplar que já estava no Birmingham Museum and Art Gallery, na Inglaterra. Surpreendentemente, o animal está bem conservado, com o esqueleto completo e os órgãos intactos. O principal achado foi no seu sistema digestivo: restos de peixes e um anzol de bronze, que provavelmente foi o causador de sua morte.

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Segundo os autores, o achado enfraquece a teoria de que os egípcios criariam esses animais em cativeiro. Os resultados mostram que o animal foi capturado logo antes da mumificação, e fazem sentido com o texto deixado pelo historiador grego Heródoto. No século V a.C, ele registrou que egípcios atraíam e capturavam crocodilos nas margens do rio Nilo com o som e odor de um porco sendo abatido. 

Entretanto, os egípcios chegaram, sim, a ter crocodilos em cativeiro, mas não eram todos e nem qualquer um. Existem vários registros de um crocodilo criado em cativeiro na cidade com o sugestivo nome de Crocodilopolis, onde hoje é a cidade de Faium. O nome do animal era Suchus, e ele era tratado como a encarnação do deus Sobek. Suchus tinha uma lagoa só para si dentro de um templo, era adornado com metais preciosos e jóias e alimentado por sacerdotes apenas com pão, carne e vinho. 

“Como um animal de culto, Suchus recebia os níveis de cuidado condizentes com um deus na Terra”,  dizem os autores no artigo publicado nesta semana na revista Digital Applications in Archaeology and Cultural Heritage.

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