Como foi a enchente de 1941 em Porto Alegre, que atingiu 70 mil pessoas
O episódio traumático, em que o Guaíba atingiu 4,76 m (contra os 5,31 m de domingo), motivou o Muro da Mauá e outras obras antienchente na capital.
Você já sabe que o nível do rio (ou lago) Guaíba, que banha a capital gaúcha Porto Alegre, bateu um recorde histórico de 5,31 metros neste domingo – muito acima dos 2,5 m necessários para disparar um alerta.
Até esta terça (6), a Defesa Civil do Rio Grande do Sul dava conta de 83 mortos, 111 desaparecidos e 121 mil desalojados em 364 municípios. A água recuou apenas alguns centímetros, para 5,26 m, e deve demorar vários dias para baixar.
A tragédia atual remete a um episódio traumático na história de Porto Alegre: a enchente de 1941. Foi ela que motivou, na década de 1970, a construção do sistema responsável por manter as cheias do Guaíba sob controle.
Seu componente mais famoso é o Muro do Mauá. Com 3 m de altura, 3 m de profundidade, e 2,6 km de comprimento, o Muro se estende ao longo de um trecho importante da orla da cidade e age como uma barreira física contra a água.
Ele faz parte do Sistema de Proteção Contra Cheias, que conta ainda com pelo menos 68 km de diques, 14 comportas de vedação e 19 casas de bombas. Ele foi bem projetado, mas carece de manutenção: uma das comportas não suportou o volume de água da enchente atual, e cedeu.
Outro problema, claro é que essas estruturas não foram projetadas para lidar com eventos climáticos extremos como o de agora. Eventos que se tornarão cada vez mais comuns com as mudanças climáticas induzidas pelo aumento nas temperaturas médias da Terra.
Como foi a enchente de 1941
O desastre ocorreu também no outono, em plena 2ª Guerra. O Brasil se encontrava no chamado Estado Novo, uma ditadura com alguns traços fascistas comandada por Getúlio Vargas.
Durante um período de mais ou menos 22 dias, entre os meses de abril e maio, o Rio Grande do Sul foi atingido por chuvas intensas que elevaram os níveis de água nos rios Caí, Gravataí, Jacuí e Sinos – eles desembocam todos no Guaíba.
A precipitação na capital, ao longo dos dias de enchente, bateu 791 litros de água por metro quadrado, o quê, somado com transbordamento dos rios, resultou na inundação de diversos bairros de Porto Alegre. Para piorar, um forte vento atuava contra a corrente e desacelerava o escoamento do Guaíba.
Esse desastre era considerado, até então, a maior enchente da história da cidade. O nível do lago atingiu 4,76 m. Toda a região central foi atingida; era possível se deslocar apenas de barco. Pontos como o Mercado Público (que tem marcas da enchente na parede até hoje), a Prefeitura e o aeroporto ficaram submersos em pelo menos 1 m.
Dos 272 mil habitantes de Porto Alegre na época, pelo menos 26% (mais ou menos 70 mil pessoas) tiveram suas casas e seus pertences atingidos. Um terço das indústrias e comércios acabaram inundados.
Além do colapso no abastecimento de água, houve problemas com a Usina do Gasômetro, responsável pela geração de energia elétrica na cidade – que ficou na escuridão completa.