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Como era o jogo de bola da antiga Mesoamérica

O esporte impressionou espanhóis, aparece relacionado a sacrifício humano e era praticado com bolas de borracha – que podiam conter cinzas de gente.

Por Luisa Costa
12 ago 2022, 18h05

Duas equipes e um objetivo: não deixar a bola cair no chão. Parece esporte moderno, mas era assim esse jogo praticado por povos antigos da Mesoamérica.

Mais de 1,5 mil quadras já foram descobertas – e a mais antiga, na Guatemala, data de 1.400 a.C. O “jogo de bola”, chamado assim mesmo por pesquisadores, foi uma tradição que se estendeu do Caribe ao sudoeste dos Estados Unidos, variava regionalmente e impressionou europeus.

É que os espanhóis nunca tinham visto um jogo com bolas de borracha até chegarem ao México, na época das Grandes Navegações. Na verdade, eles nem conheciam a borracha. Chegaram até a enviar uma equipe de jogadores astecas à Espanha, para jogarem diante da corte de Carlos V.

Hoje, o que se sabe sobre essa prática vem de escavações de quadras feitas por arqueólogos, documentos do período colonial e de desenhos feitos pelos povos da Mesoamérica representando o jogo e seus jogadores.

Esse era um importante esporte e uma fonte de entretenimento, que também carregava certo simbolismo. Acredita-se que entre os maias, por exemplo, o jogo de bola foi o cenário de batalhas mitológicas entre forças da vida e da morte. Também há representações de sacrifício humano relacionado ao jogo, mas a associação ainda é obscura.

As regras

Eram duas equipes, compostas por dois a seis jogadores, que não acertavam a bola com as mãos ou pés, mas com outras partes do corpo, como o quadril. Em alguns lugares, porém, os jogadores utilizavam remos de madeira.

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As quadras de pedra tinham formato de I: um corredor central com áreas separadas em cada extremidade. O objetivo do jogo era levar a bola para o outro lado da quadra ou fazer com que o outro time deixasse a bola cair. 

Mas as regras eram diferentes em cada região. Os jogadores poderiam movimentar a bola através de anéis de pedra localizados em paredes laterais da quadra ou marcar pontos interagindo com marcadores de pedra ou linhas pintadas no chão.

O jogo provavelmente foi disputado por pessoas de todas as classes sociais, mas as representações que restaram são de membros da elite praticando ou assistindo. (Era um grande evento. Entre os astecas, era comum que houvesse até apostas sobre o resultado das partidas.)

As quadras

Acredita-se que o tamanho padrão das quadras seria de 20 metros de comprimento (cinco vezes menor que um campo de futebol). Mas isso também varia: a maior quadra já descoberta, em Chichen Itza (México), tem 96,5 metros de comprimento e 30 de largura.

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Quadra de jogo de bola dos maias.
Corredor central da quadra de Chichen Itza, no México. (Bjørn Christian Tørrissen/Wikimedia Commons)

Nos dois lados do corredor, havia estruturas inclinadas também feitas de pedra, que ajudariam a manter a bola em jogo – ela nunca saía de campo, mas batia na parede e voltava. Isso também determinaria o ritmo de jogo: quanto mais inclinadas as paredes laterais, mais rápido a bola quicaria de volta.

As quadras abrigavam esculturas de pedra (como painéis de baixo relevo nas paredes laterais) e geralmente estavam perto de templos e santuários funerários. Além do jogo de bola, elas poderiam abrigar outros eventos sociais, como banquetes, apresentações rituais e diversas atividades esportivas.

As bolas

Arqueólogos já encontraram bolas que poderiam ser usadas no jogo e datam de 1.600 a.C. – cerca de 200 anos mais velhas do que a quadra de Guatemala.

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As bolas eram de borracha maciça e podiam ser bastante pesadas. Representações do jogo costumam mostrar jogadores usando equipamentos de proteção ao redor do tronco. (Alguns também usavam joelheiras e luvas de mão. Cair no chão de pedra, afinal, não é nada agradável.)

Além de borracha, as bolas poderiam ter… cinzas, de prisioneiros de guerra ou comandantes. É o que defendem alguns arqueólogos, que lembram que restos mortais humanos aparecem em variados contextos e práticas dos maias. Mas essa é uma hipótese em discussão.

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