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[Atualizada] Garoto de 15 anos descobre antiga cidade maia sem sair de casa

William Gadoury já era fissurado pela cultura dos maias desde os 12 anos, e observou algo que não estava no radar dos arqueólogos. (Atualização: agora, especialistas no assunto estão discordando do garoto; leia no final da matéria)

Por Helô D'Angelo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h04 - Publicado em 10 Maio 2016, 15h30

O que você fazia aos 15 anos? Provavelmente, curtia umas bandas que hoje te dão vergonha, ia ao cinema nos finais de semana e talvez ainda nem se preocupava com o vestibular que estava chegando. Pois saiba que, nessa mesma idade, o canadense William Gadoury fez muito mais: encontrou uma antiga cidade maia escondida numa mata do México, revelou uma importante relação entre esta civilização e as estrelas e, para fazer tudo isso, nem precisou sair de casa.   

Tudo bem, a descoberta não veio do nada: William era apaixonado pela cultura maia desde os 12 anos, quando começou a estudar tudo o que podia sobre ela. Só que, quanto mais ele aprendia, mais intrigado ficava com a localização das cidades dessa cultura: ao contrário de outros povos, os maias costumavam construí-las longe de rios. Em geral, os rios servem como fonte de alimento, água e de locomoção, mas os maias viviam bem longe deles – e até agora, ninguém sabia muito bem o por quê. 

Para solucionar o mistério, William comparou o mapa celeste dos maias – formado por 23 constelações – com o das 117 cidades já conhecidas. E surpresa: cada estrela dava a localização exata de uma cidade correspondente – as mais brilhantes correspondiam às maiores, as menos brilhantes, às menores. Essa relação nunca havia sido percebida antes, em décadas de estudos.  

Mas William, como todo gênio que se preze, não ficou satisfeito com a descoberta. É que uma das constelações, formada por três estrelas, só tinha duas cidades correspondentes – ou seja, faltava uma cidade nessa história. De acordo com os cálculos do menino, a cidasde misteriosa deveria estar em algum lugar no meio da selva, na península de Yucatán, no sul do México – um lugar que, para William, seria impossível de visitar.

Mesmo assim, o garoto foi em frente: pelo Google Earth, observou a área, e percebeu que havia algum tipo de construção. Na mesma semana, William apresentou sua hipótese para a Agência Espacial Canadense que, com a ajuda da NASA e da Agência Espacial Japonesa, confirmou que as imagens encontradas por William mostram algo parecido com uma pirâmide e com outras construções menores. Radiante, o menino batizou sua descoberta de “K’àak’ Chi'”, ou “Boca de Fogo” – e detalhe: se ele estiver certo, esta será a quinta maior cidade maia já descoberta. 

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Sim, “se” ele estiver certo. Por mais que as estrelas e as imagens de satélite pareçam ser provas indiscutíveis, ainda não há como afirmar com certeza que K’àak’ Chi’ existe. Por isso, arqueólogos da Universidade de New Brunswick, no Canadá, estão planejando uma expedição para Yucatán, ainda sem data de partida ou patrocinadores. Seja quando for ou quem pague, William vai junto para finalmente estrear como geólogo no campo que explorou de longe – e como ninguém – pelos últimos três anos.

Atualização: 

Depois da história de William Gadoury viralizar internet afora, dois importantes antropólogos publicaram opiniões a respeito da suposta nova cidade encontrada pelo garoto – ambos desmentindo a descoberta.

Logo que a notícia alcançou o site da BBC, David Stuart, um antropólogo do Centro de Cultura Mesoamericana da Universidade do Texas, escreveu em seu Facebook: “A coisa toda é uma bagunça – um terrível exemplo de ciência caindo em queda livre na internet. Os antigos maias não planejavam suas cidades de acordo com as estrelas, e encontrar um padrão como esse é totalmente aleatório: os sítios arqueológicos estão espalhados por toda parte no México, e as estrelas também. O quadrado encontrado através do Google Earth foi mesmo construído pelo homem, mas é só um campo de milho abandonado”.

Thomas Garrison, antropólogo da USC Dornsife, concorda: “Eu aplaudo o esforço do garoto. É animador ver, em uma pessoa tão jovem, tanto interesse na cultura maia. Mas a pesquisa de campo é a chave para esse tipo de descoberta. Você precisa confirmar, em campo, o que é identificado via satélite. Nesse caso em particular, as formas retilíneas que foram encontradas pelo garoto têm claros sinais de vegetação crescendo de novo – o que mostra que ali é nada mais que um campo de milho, que foi abandonado há, no máximo, 10 ou 15 anos. Isso ficaria óbvio para qualquer um que já tenha estudado em campo as cidades maias. Eu espero que, no futuro, esse jovem considere levar as suas pesquisas e dúvidas para a universidade, para que as suas próximas descobertas (e há muitas por vir, tenho certeza) sejam realmente significativas”

No Brasil, alguns especialistas também apontam falhas na teoria de Gadoury. Fernando Pesce, Pesquisador do Centro de Estudos Mesoamericanos e Andinos da USP e Mestrando em História pela Unicamp, é um desses estudiosos. Ele explica sua posição à SUPER: “Ontem, diversos jornais e revistas noticiaram a descoberta de uma nova cidade maia por um garoto canadense de quinze anos, além da possível relação da localização das antigas cidades maias com estrelas e constelaç��es. Apesar do evidente esforço e dedicação de William, a história foi, a meu ver, mal explicada. Em primeiro lugar, diversos arqueólogos de renome internacional já se posicionaram em relação à estrutura que aparece nas imagens, que seria não uma pirâmide, mas sim um campo de cultivo de milho. Em segundo, a localização das cidades maias pode ser explicada por diversos outros fatores de ordem prática, como posições estratégicas e defensivas e inclusive o acesso a água – como no caso de Kaminaljuyú, que fica próxima ao lago Miraflores, ou como diversas outras cidades ao longo do Rio La Pasión e seus tributários na Guatemala como Aguateca e Ceibal. Ademais, seria muito complicado coordenar a construção dessas cidades, que não possuíam um governo centralizado ou imperial, para que correspondessem a estrelas e constelações”.

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