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As caça-nazistas

Elas foram espiãs, comandantes e atiradoras de elite de vários países. E o que as uniu foi a incapacidade de se calar diante do nazismo

Por Bruno Mosconi
Atualizado em 17 dez 2019, 13h14 - Publicado em 20 dez 2017, 15h14
As histórias das caça-nazistas
Da esquerda para a direita: Andrée Eugénie de Jongh, Josephine Baker, Nancy Grace Wake, Jannetje Johanna “Hannie” Schaft, Virginia Hall Goillot e Lyudmila Pavlichenko. (Helena Sbeghen/Superinteressante)

Andrée Eugénie de Jongh

A COMANDANTE
País natal: Bélgica
País pelo qual lutou: Bélgica
Nascimento: 30/11/1916
Morte: 13/10/2007

A aprendiz de enfermeira Andrée de Jongh tinha 25 anos quando os nazistas invadiram a Bélgica, em 1940. Seu pai, que havia vivido a 1a Guerra, chorou de desespero ao ver os alemães em Bruxelas. “Você verá o que faremos com eles”, disse a filha. No final do mesmo ano, quando Andrée descobriu que havia militares aliados presos na Bélgica – a maioria sobrevivente do cerco de Dunkirk, no qual forças britânicas e francesas foram encurraladas pelos alemães –, ela começou a organizar esconderijos para os soldados com alimentos, roupas civis, remédios e documentos falsos. O aparato fazia parte de um esquema improvisado de evacuação, que se estenderia por quase 2 mil km e chegava à Espanha. Inicialmente, Andrée apenas supervisionava a operação, mas, depois de um tempo, resolveu escoltar pessoalmente os soldados através dos Pireneus – o que levava 20 horas de escalada, nado e caminhada. Mais de 700 militares foram salvos. Em janeiro de 1943, Andrée foi capturada e confessou que estava no comando da evacuação. Os nazistas não acreditaram que uma mulher pudesse estar à frente daquela operação, e a pouparam do fuzilamento.

Josephine Baker

A DANÇARINA
País natal: EUA
País pelo qual lutou: França
Nascimento: 03/06/1906
Morte: 12/04/1975

Josephine Baker tinha apenas 17 anos quando foi descoberta por produtores teatrais franceses e acabou convidada para uma turnê na Europa. Paris era muito mais amigável para negros e pobres do que o Sul segregado dos EUA, de onde havia saído, e Josephine se tornou uma artista de sucesso. Até o surgimento do nazismo. Na década de 1930, suas apresentações começaram a ser proibidas nos países simpatizantes de Hitler e ela decidiu agir. “A França fez de mim o que sou, me entregou tudo de mãos abertas. Agora, chegou a minha vez de retribuir”, disse. Ela foi alistada pelo serviço de inteligência militar francês para se infiltrar em bailes de gala de políticos alemães, e reunir informações. Josephine foi espiã por três anos na Alemanha, Espanha, Itália, França e África – ela tinha o hábito de transcrever informações sigilosas no meio das partituras das apresentações. Em 1941, por exemplo, descobriu detalhes inéditos sobre o posicionamento de tropas italianas, japonesas e alemãs sem levantar suspeitas.

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Nancy Grace Wake

A RAMBO
País natal: Nova Zelândia
País pelo qual lutou: Grã-Bretanha/França
Nascimento: 30/08/1912
Morte: 07/08/2011

Ainda antes da guerra, Nancy Wake teve notícias das agressões arbitrárias que judeus estavam sofrendo nas mãos da ideologia nazista. Assim, decidiu que, se tivesse a chance de atrapalhar a vida dos alemães, a abraçaria com todas as forças. Quando Hitler dominou a França, em 1940, Nancy se tornou mensageira e espiã. A habilidade de desaparecer pelos cantos mais improváveis acabou lhe rendendo o apelido de “Rata Branca” entre os oficiais nazistas. Nancy foi capturada duas vezes na Espanha, enquanto ajudava na escolta de outros mensageiros aliados. Na primeira vez, enfrentou o interrogatório, mas, na segunda, escapou da prisão saltando de um trem em movimento, sobrevivendo a uma saraivada de tiros, passando uma semana sem comida e quase congelando até a morte enquanto atravessava os Pireneus. Logo, ela deixou de ser “apenas” uma mensageira e se tornou guerrilheira. Nancy recebeu autorização para coordenar recuos, avanços e ataques no campo de batalha e, em 1941, já tinha treinamento de explosivos e paraquedismo, e cerca de 7 mil guerrilheiros da Resistência à sua disposição.

Jannetje Johanna “Hannie” Schaft

A GUERRILHEIRA
País natal:
Holanda
País pelo qual lutou: Holanda
Nascimento: 16/09/1920
Morte: 17/04/1945

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Hannie Schaft resolveu lutar ao saber das leis antissemitas que os nazistas haviam oficializado na Holanda dominada. Assim, filiou-se ao Partido Comunista e à Resistência Holandesa, instituições que assassinavam e sequestravam nazistas. Escalada como mensageira, Hannie pediu para pegar em armas e em poucos meses já participava de missões de sabotagem e assassinato contra autoridades holandesas que se aliavam aos alemães. Só que Hannie tinha seu próprio código de conduta. Ao receber a ordem de sequestrar e matar a esposa e os filhos do nazista responsável pela ocupação da Holanda, Arthur Seyss-Inquart, ela se recusou. Disse que não se rebaixaria ao nível de Hitler. Com o tempo, a ruiva ganhou notoriedade e seus pais acabaram despachados para um campo de concentração. Era uma armadilha para que ela se entregasse. Hannie não cedeu: pintou os cabelos de preto e voltou ao cargo de mensageira. No entanto, em março de 1945, um soldado nazista notou as raízes vermelhas que despontavam do alto de sua cabeça. Ela foi torturada, mas não entregou os colegas. Em abril de 1945, três semanas antes da libertação da Holanda, Hannie morreu fuzilada.

Virginia Hall Goillot

A POLIGLOTA
País natal: EUA
País pelo qual lutou: Grã-Bretanha/França
Nascimento: 06/04/1906
Morte: 08/07/1982

Virginia Hall trabalhava na embaixada americana na Turquia em 1932, quando, durante uma caçada, tomou um tiro no pé. A ferida gangrenou e metade da sua perna precisou ser amputada. Mesmo de prótese, ela foi demitida por ser considerada “inválida”. Assim, partiu para a Europa e, no início da 2a Guerra, decidiu lutar contra os nazistas. Alistou-se no exército francês como motorista de ambulância, chamando a atenção dos oficiais britânicos por falar francês, italiano e alemão. Assim, virou mensageira, colaborou na fuga de prisioneiros e trabalhou como espiã – costumava se disfarçar de idosa para atravessar as fronteiras francesas. Em uma dessas missões, acabou identificada por soldados alemães, e precisou fugir. Parte da fuga incluiu uma caminhada de 50 km, através das regiões gélidas e montanhosas entre a França e a Espanha, na companhia de um guia. Virginia despistou os nazistas, mas precisou esconder sua prótese durante todo o processo – demonstrar dor e fraqueza diante do guia poderia fazer com que fosse abandonada no meio do caminho.

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Lyudmila Pavlichenko

A MÁQUINA MORTÍFERA
País natal: Ucrânia
País pelo qual lutou: União Soviética
Nascimento: 12/07/1916
Morte: 10/10/1974

Quando soube que a Alemanha havia invadido a União Soviética, em 1941, a ucraniana Lyudmila Pavlichenko não hesitou: apresentou-se imediatamente no escritório de recrutamento militar de Kiev. O oficial a encarou com desdém – Lyudmila estava com as unhas bem pintadas, de batom vermelho e penteado da moda. Ela, porém, não se abalou: disse que queria um rifle para lutar na primeira frente de batalha, a mais perigosa de todas. Os presentes caíram na gargalhada – mas Lyudmila não estava brincando. Já na primeira missão como franco-atiradora, acertou dois tiros fatais, defendendo uma colina de extrema importância para os soviéticos. Nos 75 dias seguintes, Lyudmila matou 187 nazistas, uma média de cinco acertos a cada dois dias – feito que lhe rendeu o apelido de “Madame Morte”. Para acertar os alvos, ficava até 15 horas completamente imóvel, escondida nos campos de batalha. Numa dessas tocaias, Lyudmila acabou ferida na cabeça por um morteiro, e afastada da guerra. Oficialmente, ela teria feito 309 disparos fatais em menos de um ano de guerra, mas há estimativas realistas de que tenha matado mais de 500.

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