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Arqueólogos encontram as pontas de lança mais antigas da América do Norte

As armas, datadas de 15,5 mil anos atrás, abrem novamente uma questão polêmica na arqueologia: quando o ser humano chegou à América?

Por Ingrid Luisa
26 out 2018, 18h01

Arqueólogos da Universidade Texas A&M estão dando o que falar com uma nova descoberta: o que se acredita serem as armas mais antigas já encontradas na América do Norte. As pontas de lança feitas de sílex (uma espécie de rocha), segundo os pesquisadores, têm 15,5 mil anos de idade.

As ferramentas, que tem entre 7,5 cm e 10 cm de comprimento, foram encontradas no sítio arqueológico Debra L. Friedkin, no Texas. O local passa por extenso trabalho arqueológico há 12 anos. Se a datação estiver correta, esses artefatos datam de antes do povo de Clóvis – uma cultura pré-histórica que viveu há 13 mil anos e por décadas foi considerada a primeira a habitar as Américas.

A teoria Clovis first é contestada há anos (a própria Luzia, o crânio mais famoso das Américas, é anterior ao bonde de Clóvis), mas ainda é bastante respeitada. A cultura de Clóvis é identificada por ferramentas distintivas – como o Clovis point, uma arma em forma de lança feita de pedra que é encontrada abundantemente no Novo México e serviu para caçar animais como mamutes e mastodontes há algo entre 13 mil a 12,7 mil anos. São eles que teriam chegado à América pelo Estreito de Bering. As armas encontradas, além de mais antigas (14 e 15 mil anos atrás), têm características que tornam possível atribui-las a um povo originado por outra onda migratória.

“A descoberta é significativa porque quase todos os sítios pré-Clovis possuem ferramentas de pedra, mas pontas de lança ainda não tinham sido encontradas. O sonho sempre foi achar artefatos – como pontas de projéteis – que podem ser reconhecidos como mais antigos do que Clóvis, e é isso que temos no sítio de Friedkin”, disse Michael Waters, renomado professor de antropologia e diretor do Centro para o Estudo dos Primeiros Americanos da Texas A&M. “O povoamento das Américas durante o final da última Idade do Gelo foi um processo complexo, e essa complexidade é vista em seu registro genético. Agora estamos começando a ver essa complexidade espelhada no registro arqueológico.”

Mais hipóteses

Essa disputa remete a um problema maior e mais antigo: afinal, quando o homem chegou a América? É consenso entre boa parte dos cientistas que o povoamento do Novo Mundo se deu pelo Estreito de Bering. No período Pleistoceno, época em que a Terra passou por grandes variações climáticas, uma ponte de gelo teria se formado sobre o mar que separa a Rússia e o Alasca – e conectado a Ásia a nós.

Permanece incerto, porém, quando e como isso realmente aconteceu. Outras teorias, apesar de menos aceitas, também apresentam evidências, como a da arqueóloga brasileira Niede Guidon. Ela catalogou, no Parque Nacional Serra da Capivara (PI), pinturas rupestres com cerca de 35 mil anos e dentes humanos de 15 mil. Datações feitas com carvão vegetal encontrado na região, que a arqueóloga associa a fogueiras antigas, indicam a presença humana há cerca de 48 mil anos – o que é fortemente negado por outros pesquisadores, que acreditam que esse carvão pode ter sido resultado de um incêndio natural. Segundo Niede, é muito pouco provável que a América tenha sido povoada apenas através do Estreito de Bering – e os oceanos também tenham servido de porta de entrada.

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