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Antiga teoria achava que a Pedra da Gávea era uma criação dos fenícios

Hipóteses defendiam que as marcas na Pedra seriam inscrições de povos europeus que teriam passado pelo Brasil milhares de anos antes da colonização portuguesa.

Por Bela Lobato
4 jan 2025, 10h00

A Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, é um dos cartões postais mais antigos do Brasil. Com 842 metros de altura, é uma das maiores montanhas do mundo próximas do litoral. Ela é rodeada pela rica biodiversidade da Floresta da Tijuca e, hoje em dia, chama a atenção de turistas por suas trilhas e esportes radicais. 

No passado, a Pedra da Gávea foi central em uma discussão sobre a colonização das Américas e alimentou diversas teorias da conspiração. Isso porque uma das faces da montanha é de pedra exposta, marcada por sulcos e relevos. Há quem veja um rosto humano na pedra, e muitos suspeitaram que os sulcos fossem algum tipo de escrita desconhecida.

Foto da Pedra da Gávea.
O “rosto” da Pedra da Gávea. (Gabriel Sperandio/Getty Images)

Esse papo começou no século XIX, quando missionários cristãos reportaram a existência das marcas ao rei de Portugal, Dom João VI. Esses missionários acreditavam que as inscrições na montanha eram obra de “algum povo americano pré-histórico desconhecido”. Tanto Dom Pedro I quando Dom Pedro II se interessaram por essas teorias e incentivaram pesquisas que interpretassem as marcas da Pedra da Gávea.

Em 1839, o recém fundado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro realizou uma expedição à Pedra da Gávea e concluiu que as marcas eram resultado de mero acaso. Mas a teoria quase conspiratória de que as marcas haviam sido feitas por humanos não parou de circular. 

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Quase cem anos depois, na década de 1930, o arqueólogo brasileiro Bernardo de Azevedo da Silva Ramos desenvolveu profundamente a teoria e chegou a traduzir o que os supostos inscritos dizem, em fenício. Ele registrou os sulcos e comparou com caracteres do alfabeto fenício, concluindo que a pedra dizia “Tyro Phenicia, Badezir primogênito de Jethbaal”. (Veja na imagem abaixo).

Interpretação das marcas da Pedra da Gávea de Bernardo de Azevedo da Silva Ramos, do livro Tradiçoes da America Pré-Histórica, Especialmente do Brasil.
Interpretação das marcas na Pedra da Gávea por Bernardo de Azevedo da Silva Ramos, de seu livro “Tradiçoes da America Pré-Histórica, Especialmente do Brasil”. A primeira linha é a suposta inscrição copiada da Pedra da Gávea; a segunda linha é uma representação aproximada dos caracteres fenícios; a terceira é uma transliteração para o hebraico; a quarta é uma representação das letras do alfabeto latino; e a quinta linha é a suposta mensagem em português. (Wikimedia Commons/Reprodução)

Tyro, ou Tiro, é o nome de uma metrópole fenícia que se tornou a cidade que existe até hoje no Líbano, um dos assentamentos humanos mais antigos a ser continuamente habitado. Já Badezir seria uma referência à Baal-Eser II, filho do rei Etbaal I (que seria o tal do Jethbaal), que é citado no Antigo Testamento da Bíblia e que governou Tiro entre 846 e 841 a.C.

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Algumas pessoas chegaram a argumentar que o tal rosto visível na pedra seria a face do rei Badezir, e que a montanha teria túneis e tumbas fenícias escondidas em seu interior. Segundo essa teoria, as marcas teriam sido feitas pelos fenícios em uma colonização muito antiga, antes mesmo da Era Comum (cujo início é marcado pelo nascimento de Cristo).

A teoria argumenta que haveriam outros registros fenícios espalhados pelas Américas. As supostas “provas” seriam uma pedra com escritos fenícios encontrada na Paraíba e pedras com escritos em hebraico encontradas no sul dos EUA. Em todos os casos, eventualmente provou-se que as pedras e as inscrições haviam sido forjadas.

Se já parece loucura, saiba que muitas outras interpretações existiram ao longo do tempo: pelo menos uma expedição mórmon foi feita para procurar alguma relação entre as inscrições na Gávea e o Livro de Mórmon, publicado em 1830. 

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Por outro lado, havia quem acreditasse que as marcas eram, na verdade, runas nórdicas. A Pedra da Gávea seria, portanto, um local de adoração dos vikings, que viam o rosto do deus Odin na montanha. 

Para as historiadoras Lucia Maria Pascoal Guimarães e Birgitte Holten, as tentativas de encontrar leituras de alfabetos antigos europeus na Pedra da Gávea faziam parte de uma estratégia imperial. Em um texto de 1997, elas explicam que a família real, recém chegada ao Brasil, tentava construir uma identidade brasileira, e era importante que essa identidade fosse ancorada em valores e marcos históricos europeus.

Desde a década de 1950, o consenso entre os cientistas é de que a Pedra da Gávea não é um sítio arqueológico. Pelo contrário: as marcas teriam sido causadas por fenômenos naturais de intemperismo e desgaste. Além disso, estudos já mostraram que a montanha é feita de rocha sólida, e não abriga túneis ou tumbas.

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Já o “rosto” da montanha é explicado pela pareidolia, um fenômeno psicológico que nos faz associar formas abstratas com imagens conhecidas. É isso que nos faz ver desenhos em nuvens ou em manchas, por exemplo. 

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