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Ancestrais humanos teriam chegado à América do Norte bem antes do que se imaginava

Arqueólogos sugerem que artefatos de 33 mil anos encontrados em uma caverna no México pertenciam aos primeiros americanos. A teoria, porém, é contestada.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 31 jul 2020, 10h47 - Publicado em 23 jul 2020, 19h13

A data de chegada dos primeiros ancestrais humanos às Américas está longe de ser um consenso entre os cientistas. Por décadas, a hipótese mais aceita era a de que o povo Clóvis, grupo pré-histórico vindo do leste da Ásia, foi o primeiro a atravessar o estreito de Bering – que conecta a Rússia e o Alasca – e pisar no continente americano, há 13 mil anos.

Essa teoria, porém, é contestada há algum tempo: descobertas mais recentes propõem que outros povos passaram por essas terras há pelo menos 15,5 mil anos – antes, portanto, da chegada dos Clóvis.

Agora, uma pesquisa publicada na revista científica Nature sugere que essa ocupação é ainda mais antiga. Pesquisadores da Universidade Autônoma de Zacatecas, no México, declaram ter evidências de que, há 33 mil anos, humanos primitivos já passeavam pelo continente. 

A tese é baseada em oito anos de investigações feitas na Caverna Chiquihuite, no México. O local fica no estado mexicano Zacatecas, e está 2,740 metros acima do nível do mar. Lá, entre 2016 e 2017, arqueólogos encontraram cerca de 1,900 artefatos de pedra entalhada, que podem ter sido usados como ferramentas por povos antigos.

Humanos podem ter vivido em caverna mexicana durante a última era glacial
Artefatos encontrados na caverna Chiquihuite, no México. (Universidade Autônoma de Zacatecas/Nature Research/Reprodução)
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Usando técnicas de datação por carbono, os arqueólogos analisaram evidências como restos de carvão, ossos de animais e outros detritos encontrados na caverna. Assim, puderam estimar que cerca de 200 ferramentas que estavam por ali foram feitas entre 33,1 mil e 31,4 mil anos atrás. Outros artefatos encontrados no mesmo local eram menos antigos, tendo por volta de 13 mil anos.

Segundo os arqueólogos, isso indica que diversos povos, durante um longo período, chegaram e foram embora da caverna – provavelmente usando-a como abrigo. De acordo com os pesquisadores, a isolada caverna Chiquihuite se mostrava um ótimo refúgio durante tempestades de neve e granizo, comuns durante o auge da última era glacial, há 26 mil anos.

Vale lembrar que, durante a última era glacial, o gelo cobria grande parte do atual território do Canadá, e o nível do mar era muito mais baixo. Nessa época, teria sido impossível chegar até o México (ou acessar o próprio continente americano), o que leva os cientistas a acreditarem que as pessoas entraram no continente antes que o gelo dominasse tudo, há 32 mil anos ou mais. O caminho exato que esses povos pioneiros poderiam ter seguido, porém, ainda é desconhecido.

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A falta de explicações sobre a potencial rota de entrada na América há mais de 30 mil anos é dos motivos para o ceticismo da comunidade científica quanto ao estudo. Como destaca a revista Science News, cientistas argumentam que os arqueólogos não encontraram indícios de DNA humano ou mesmo marcas em ossos de animais indicando que foram mortos para virar alimento – sinais da ocupação humana no local. Não é possível cravar, também, se os restos de madeira queimada presentes ali foram levados por incêndios ou se eram consequência da atividade humana. Apesar de as pedras utilizadas nas ferramentas não serem encontradas em outras regiões, pesquisadores argumentam que elas são rudimentares demais – e podem ter sido lapidadas não por mãos humanas, mas pela ação do tempo.

Para convencer a comunidade científica de que a teoria atual sobre a ocupação das Américas está errada, só reunindo um número maior de provas consistentes de ocupações anteriores. Redesenhar as origens dos primeiros americanos é uma tarefa complexa: há quem defenda há décadas que humanos antigos teriam alcançado a América do Sul – mais precisamente o nordeste do Brasil – há pelo menos 32 mil anos. Mas isso é papo para outra hora.

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