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A vida de Antonio Candido em 7 momentos históricos

O crítico literário morreu hoje, aos 98 anos – e viu tudo o que aconteceu no mundo desde a 1º Guerra. Entenda a vida de Candido no conturbado século 20

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 Maio 2017, 19h11 - Publicado em 12 Maio 2017, 19h05

O crítico literário e sociólogo Antonio Candido morreu na manhã desta sexta-feira (12) no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, aos 98 anos. Ao portal G1, sua filha, a professora de História da USP Marina de Mello e Souza, afirmou que o acadêmico foi internado no sábado após ter problemas com uma hérnia de hiato no estômago. “Ele estava muito triste. Ele estava assustado com o mundo (…) Preocupado que tínhamos perdido conquistas e direitos.”

Ouvir o que o um dos velhinhos mais inteligentes do Brasil tem a dizer é uma ótima ideia. Afinal, ele viveu quase um século, e nesse tempo não precisou de livros didáticos – viu a história de nossa época acontecer ao vivo nas capas dos jornais, no rádio e, só muito depois, na televisão.

A SUPER fez uma linha do tempo com os principais fatos da vida de Antonio Candido – de seu nascimento, na época da Revolução Russa, até sua aposentadoria ao som do movimento punk e David Bowie, em 1978 (!).

1. Em 24 de julho de 1918, quando nasceu na cidade do Rio de Janeiro, Antonio Candido talvez não soubesse, mas a 1º Guerra Mundial chegava a seus últimos meses. Quando ela começou, itens que hoje são básicos em qualquer campo de batalha – como aviões, tanques de guerra, metralhadoras e fardas camufladas – ainda eram novidade. A maior parte dos atuais países africanos estava sob domínio europeu, e a Austrália havia declarado sua independência há meros 17 anos.

Poucas casas tinham telefone, a TV não estava nem próxima de existir e a escravidão havia sido proibida por lei no Brasil há só 30 anos – negros que haviam passado parte de suas vidas nas senzalas ainda estavam vivos.

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2. Em 1929, Antonio Candido se mudou com a família para a cidade de Poços de Caldas, no interior de Minas Gerais, para fazer o ginásio. Até esse ponto, ele não sabia como era uma sala de aula – cursou o ensino básico em casa, com a mãe.

Na época, ele era uma criança de 11 anos, e pode ter se assustado com as conversas de adulto que ouvia do quarto: em 29 de outubro ocorreu o famoso crash da bolsa de valores de Nova York, e os EUA afundaram na maior crise da história. Menos de um ano depois, no Brasil, a Revolução de 1930 levou Getúlio Vargas ao poder.

3. Em 1939, o futuro crítico literário já estava na cidade de São Paulo há dois anos, fazendo um curso preparatório para entrar na recém-fundada Universidade de São Paulo, a USP – que data de 1934. Ele queria fazer Filosofia, mas seu pai, um médico chamado Aristides, achou a carreira arriscada demais, e forçou seu filho a prestar Direito.

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Na época, era possível cursar duas graduações simultâneas em uma universidade pública, o que hoje é proibido por lei. Segundo a Folha de S. Paulo, o filho rebelde não teve dúvida – para evitar amolação, entrou nos dois cursos e começou a estudar. Em seu segundo semestre de aula, a Alemanha de Hitler invadiu a Polônia, dando início à 2º Guerra Mundial – e, para aliviar o tom trágico, estreou a primeira versão do filme O Mágico de Oz.

4. Em 1942, com apenas 24 anos, Candido já era um sucesso nas ciências humanas e virou professor assistente de Sociologia na própria USP. Nos jornais Folha da Manhã e Diário de São Paulo, fez as resenhas de alguns dos primeiros livros das lendas Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto.

Esse também foi o ano da virada no front soviético – os russos retomaram a cidade de Stalingrado na batalha mais letal da história da humanidade, com quase 2 milhões de mortos e feridos. Em 1944, de saco cheio do Direito, o crítico literário largou a graduação escolhida pelo pai conforme os aliados desembarcavam na costa da Normandia para libertar a França.

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Em 1945, com o fim da guerra, se tornou livre-docente em Literatura Brasileira pela USP – em seis anos, foi de calouro ao título mais alto da carreira acadêmica.

5. Em 1958, aos 40 anos, Antonio Candido se mudou para a pequena cidade de Assis, no extremo oeste do estado de São Paulo, para fazer parte da primeira equipe de professores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis – que depois se tornaria uma das primeiras unidades da Universidade Estadual Paulista, a UNESP.

Na época, de seu refúgio distante, o crítico assistiu à construção de Brasília e à chegada das montadoras de automóveis ao país. A Guerra Fria estava no auge, e pouco tempo depois, em 1961, o soviético Yuri Gagarin se tornava o primeiro ser humano a chegar no espaço.

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6. Acredite se quiser: quando Antonio Candido se aposentou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em 1978, o movimento punk estava no auge e David Bowie fazia a turnê de um de seus últimos discos, Heroes. A Ditadura Militar brasileira começava sua lenta decadência, mas o país ainda tinha oito anos de opressão pela frente.

Na carreira universitária, é comum que os professores, após a aposentadoria, só se retirem das aulas de graduação normais, mas continuem aceitando alunos de mestrado e doutorado. Foi isso que ele fez – Candido orientaria sua última tese só em 1992, aos 74 anos.

7. Como se já não tivesse feito e visto história suficiente nessa altura do campeonato, em 1980, com 62 anos, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT. Assistiu ao governo da conservadora Margaret Thatcher no Reino Unido, e, quase uma década depois, veria o fim da União Soviética e a queda do Muro de Berlim. Haja história!

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