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A receita dos europeus medievais para tratar doenças: comer múmias

As múmias eram indicadas para males desde dores de cabeça até dores no coração. E o início desse hábito macabro começou com um erro de tradução.

Por Manuela Mourão
9 ago 2025, 19h00

Em uma farmácia de Paris do século 17, frascos escuros ficavam à mostra nas prateleiras, cada um contendo um pó marrom-avermelhado. O aroma não denunciava sua origem. O pó era rotulado como cura para dores de cabeça, estômago e coração. O paciente, confiando no médico, tomava aquele remédio que vinha diretamente de um túmulo egípcio.

Durante séculos, a Europa consumiu o Egito. Túmulos foram violados, corpos milenares viajaram pelos mares, e as múmias tornaram-se mercadoria. Disseminou-se a ideia de que comer os restos mortais egípcios era a cura para todos os males do corpo.

A história dessa “medicina de cadáver” começa no século 16. Segundo o historiador Karl Dannenfelt, ela começa com uma série de erros de tradução. No centro de tudo estava a palavra “mumia”. Na Pérsia, mumia era o nome de uma substância negra e pegajosa que escorria de rochas, usada na medicina islâmica e considerada eficaz.

Quando textos árabes foram traduzidos para o latim, tradutores europeus confundiram mumia com secreções de corpos preservados no Egito Antigo. A coincidência linguística com “mummy” — e o fato de algumas múmias terem sido embalsamadas com betume — consolidou a associação.

Essa falha de tradução plantou uma crença que floresceu em rituais médicos de gosto duvidosos: fascinados pelo Egito, europeus não hesitaram em transformar mortos milenares em medicamentos.

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“Para a elite real e social, comer múmias parecia um remédio apropriado para a realeza, já que os médicos afirmavam que a múmia era feita por faraós”, explica Marcus Harmes, professor na Universidade do Sul de Queensland, para o The Conversation. “A realeza comia a realeza”.

A crença não era isolada. Durante a Idade Média, o corpo humano era visto como depósito de forças vitais capazes de curar outros corpos. Gladiadores mortos davam sangue contra epilepsia; a gordura humana servia de bálsamo. Carlos II da Inglaterra tomava, dizem, um elixir feito com crânio pulverizado. Nada disso, como é de se imaginar, funcionava contra doença alguma.

Com a múmia, veio a febre em busca da panaceia. Túmulos foram violados, múmias arrancadas de seus sarcófagos e transportadas por mares e desertos. Quando o Egito não bastou, surgiu o comércio de “múmias falsas”: cadáveres frescos, de criminosos executados ou pessoas escravizadas. Eles eram tratados com sal e drogas, secos em fornos e transformados em pó vendido nas farmácias.

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O século 19 trouxe um fascínio diferente: a egiptomania. Na Era Vitoriana, a egiptomania levou a “festas de desenfaixamento” de múmias em auditórios, hospitais e até casas particulares. 

Apesar das restrições à exportação de antiguidades, múmias continuaram a atravessar fronteiras. Só no fim do século 19 que o consumo de múmia desapareceu. “A inevitável destruição de vestígios arqueológicos parecia lamentável”, sugere Harmes.

Além disso, o professor diz que a descoberta da tumba de Tutancâmon desbloqueou um outro tipo de misticismo sobre as múmias egípcias. “A morte repentina de Lord Carnarvon, patrocinador da expedição de Tutancâmon em 1923, foi de causas naturais, mas logo foi atribuída a uma nova superstição – ‘a maldição da múmia’”, escreve.

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