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A Mona Lisa possui uma substância tóxica em sua composição

Uma análise revela que a base do quadro foi feita com uma mistura de óleo e monóxido de chumbo, resultando na plumbonacrita.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 23 out 2023, 11h26 - Publicado em 19 out 2023, 16h39

Da Vinci gostava de inovar. O renascentista passeava constantemente entre a ciência e da arte, e deixou sua marca (e alguns segredos) em muitas delas.

Mas nada de Código Da Vinci. Dessa vez, pesquisadores descobriram que Leonardo usou óxido de chumbo (II) (PbO), uma substância tóxica, na base de seu retrato mais famoso, a Mona Lisa.

Cientistas da Escola Nacional Superior de Química de Paris conseguiram um pedacinho da inestimável obra para analisar em laboratório. Não se preocupe, é só um pedacinho mesmo – a microamostra mal é visível a olho nu, sendo menor que o diâmetro de um fio de cabelo.

Analise microscopia de uma parte do quadro da Monalisa.
O fragmento de tinta da Mona Lisa pode ser extremamente minúsculo, mas foi o suficiente para que os pesquisadores pudessem analisar a estrutura química da base da obra. (Gonzalez et al., Journal of the American Chemical Society, 2023/Reprodução)

O fragmento de tinta, tirado da camada de base no canto superior direito do quadro, foi levado para análise. Lá, ele passou por raios-X e espectroscopias de infravermelho, que permitiram aos cientistas ter noção da estrutura atômica e formação química do pedacinho.

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Os pesquisadores encontraram compostos já recorrentes nas obras de Da Vinci, mas também um material raro: a plumbonacrita (Pb5(CO3)3O(OH)2). Ela é formada a partir da mistura de um óleo com óxido de chumbo (II), também chamado de monóxido de chumbo. Isso sugere que, além do óleo, Da Vinci também usou esse último composto na obra. Mas por quê?

De acordo com o artigo, publicado no periódico Journal of the American Chemical Society, Da Vinci “provavelmente se esforçou para preparar uma tinta espessa adequada para cobrir o painel de madeira da Mona Lisa, tratando um óleo com uma alta carga de PbO”.

Da Vinci teria dissolvido monóxido de chumbo em pó, que tem uma cor alaranjada, em um óleo de linhaça ou de noz. Ao aquecer a mistura, ele gerou um óleo dourado, com viscosidade e aparência de mel. A substância é mais grossa e seca mais rápido do que tintas a óleo tradicionais – ideal para quem tem pressa de começar logo um retrato.

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A receita em questão foi replicada por Da Vinci em outra obra famosa: A Última Ceia. Apesar da aparição do monóxido de chumbo em ambas as pinturas, o renascentista não menciona esse composto em seus registros escritos. Se antes os cientistas apenas suspeitavam de seu uso pelo pintor, agora eles têm certeza.

“Plumbonacrita é realmente uma impressão digital de sua receita”, afirma Victor Gonzalez, principal autor do estudo. “É a primeira vez que podemos confirmar isso quimicamente.”

Esse é um dos exemplos de como a ciência pode ajudar a história da arte a descobrir mais sobre as obras e os artistas do passado. Também é uma mostra da diversidade de técnicas empregadas por Da Vinci, cujas obras podem esconder mais segredos.

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“Há muito, muito mais coisas para descobrir, com certeza. Mal estamos arranhando a superfície”, afirma Gonzalez. “O que descobrimos agora é apenas mais um tijolo de conhecimento.”

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