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A guerra dos cartuns

Como uma tirinha em um jornal obscuro da Dinamarca quase colocou o mundo inteiro em pé de guerra.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h26 - Publicado em 28 fev 2006, 22h00

Eduardo Szklarz

Nas últimas semanas, você deve ter se perguntado como um país tão certinho como a Dinamarca de repente se viu no meio de uma polêmica que inflamou o mundo islâmico. Mas longe de ser uma reação puramente espontânea, a polêmica em torno das caricaturas de Maomé foi arquitetada – de ambos os lados – por líderes que buscam objetivos mais políticos que religiosos.

O desenho – 30 de setembro de 2005

O jornal dinamarquês Jyllands-Posten publica 12 caricaturas de Maomé. Muçulmanos fazem uma manifestação pacífica nas ruas de Copenhague, exigindo desculpas.

Contexto: Teólogos islâmicos consideram qualquer retrato de Maomé uma blasfêmia, apesar de várias imagens já terem sido feitas sem gerar protestos. A própria Super publicou uma em agosto de 2000.

O polemista – Novembro-dezembro de 2005

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Abu Laban, clérigo muçulmano influente na Dinamarca, se reúne com líderes islâmicos no Oriente Médio. Além das 12 charges, ele inclui outras 3 muito mais fortes.

Contexto: Laban quis levar a pendenga para o resto do mundo. E conseguiu. Os 57 líderes de países membros da Organização da Conferência Islâmica se reuniram em Meca para organizar os protestos mundo afora.

Os protestos – 26 de janeiro de 2006

Países muçulmanos fecham embaixadas na Dinamarca e boicotam produtos dinamarqueses, como o Lego.

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Contexto: Interessa aos líderes autoritários muçulmanos dizer que o Ocidente é a única causa de seus males. Mas os governos europeus são responsáveis pelo que os jornais publicam? A tradição ditatorial de alguns governos muçulmanos pode ter diluído o limite entre governo e imprensa.

A reação – 2 de fevereiro de 2006

Jornais europeus reproduzem os desenhos. “Sim, temos o direito de caricaturar Deus”, diz o diário francês France Soir. Vários editores são ameaçados.

Contexto: Foi um protesto geral. A separação entre Estado e Igreja é sagrada para os europeus desde a Revolução Francesa, em 1789. Além disso, alguns intelectuais propõem controles para a mídia, alegando que a notícia é o único produto vendido sem regulação.

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Guerra autorizada – 4 de fevereiro de 2006

Na Síria, as embaixadas da Dinamarca e da Noruega são incendiadas. Os dois países acusam o ditador Bashar Assad de permitir os protestos.

Contexto: Assad nunca ligou para a religião. É membro do clã que governa a Síria há décadas e que já matou milhares de membros da Irmandade Muçulmana, berço do Hamas. Ameaçado de golpe, agora busca o apoio de fundamentalistas para manter o poder.

O contra-ataque – 13 de fevereiro de 2006

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O jornal iraniano Hamshahri Daily, controlado pelo Conselho da Cidade de Teerã, realiza um concurso de charges sobre o Holocausto.

Contexto: Segundo o editor do jornal, a idéia é testar a liberdade de expressão dos ocidentais. A ironia é que, ao fazer isso, ele confirma que o Holocausto existiu, o que contradiz o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que nega o extermínio dos judeus.

Tiro no pé – 14 de fevereiro de 2006

Num programa de TV, o ministro italiano Roberto Calderoli usa camiseta com as caricaturas de Maomé. Após violentos protestos no Consulado da Itália na Líbia, ele renuncia.

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Contexto: Assim como os líderes islâmicos, a extrema direita européia ganha muito ao dar munição para a guerra das charges. Ela é um prato cheio para a tese de que imigrantes islâmicos não devem ser aceitos na Europa.

Paz e amor – Até agora

George W. Bush não quis se meter. Apenas pediu o fim da violência como meio de expressar insatisfação com o que é publicado.

Contexto: Com a popularidade em queda dentro e fora de casa, Bush encontrou uma boa chance para mostrar que a luta contra o terrorismo não é o mesmo que luta contra o islamismo. Sua atitude também faz parte do delicado equilíbrio que mantém com os ditadores árabes aliados.

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