9 mortes que marcaram 2016
Bowie, Prince, Fidel, Muhammad Ali: não foi um bom ano para se estar vivo.
1. David Bowie (janeiro)
Bowie foi um artista que fez o que quis da vida – e da sua morte também. Ícone musical e de estilo durante décadas (quem não tem uma fase do Bowie favorita?), o cantor resolveu arquitetar sua despedida artística quando descobriu que estava com um câncer incurável. Assim, divulgou o clipe da música Lazarus no dia 7 de janeiro de 2016 e, em seguida, lançou seu 25º e último álbum, Blackstar, no dia 8 de janeiro. O mundo inteiro ainda admirava e ouvia curioso as novas criações do cantor, quando a notícia de sua morte chegou às redes sociais, no dia 10 de janeiro. Ninguém sabia que Bowie estava doente há 18 meses – e que ele estava compondo seu próprio réquiem, escondidinho, maravilhoso.
2. Fidel Castro (novembro)
Poucas pessoas participaram tanto da história do século 20 quanto Fidel. De líder revolucionário que derrubou um ditador com um punhado de amigos, a político que acabou décadas no poder e foi rejeitado por parte de sua própria população, Fidel foi figura central da Guerra Fria. Desafiou os EUA com sua ilha comunista no quintal americano. Sofreu décadas de embargo. Escapou de dezenas de tentativas de assassinato. Sobreviveu ao fim da União Soviética. E morreu de velhice.
3. George Martin (março)
(Não confundir com George R.R. Martin, o autor de Guerra dos Tronos.) Muitas pessoas disputaram o título de “o quinto Beatle”, mas foi Martin que o levou. O produtor musical inglês foi responsável por alguns dos arranjos mais inovadores da maior banda de todos os tempos – além de propor que Pete Best fosse substituído por Ringo Starr na bateria. Em Yesterday, foi ele que sugeriu o quarteto de cordas que começa na segunda estrofe. Inventou uma orquestra também em Eleanor Rigby. Já em In My Life, Martin criou um piano barroco no meio da canção. “George Martin nos criou no estúdio”, disse John Lennon em 1971. Martin morreu dormindo, aos 90. Só sobraram Paul e Ringo agora.
4. Dom Paulo Evaristo Arns (dezembro)
Quando o jornalista Vladimir Herzog foi morto pela ditadura militar em 1975, a versão oficial dizia que ele havia se suicidado na cadeia. Dom Paulo Evaristo Arns não acreditou – e resolveu deixar seu protesto público. Celebrou uma missa ecumênica em memória ao jornalista na Igreja da Sé, em São Paulo, e reuniu 8 mil pessoas para assisti-la, no maior ato contra o governo que se havia visto até então. O episódio resume quem foi Dom Paulo. Presidiários, pobres, vítimas de tragédias, crianças com fome: o ex-arcebispo de São Paulo lutou por todos eles – e ainda foi participou da redemocratização do Brasil.
5. Prince (abril)
O artista conhecido por Prince, depois conhecido por um símbolo, depois conhecido novamente por Prince foi mais um que fez fama por seu estilo exagerado. Maquiado e montado, ele entrou no hall dos grandes tocando guitarra e compondo hit atrás de hit – ora de soul, ora de rock, ora de new wave, ora de pop. Ele vendeu mais de 100 milhões de discos ao redor do mundo. De tanto requebrar ao som de Purple Rain e When Doves Cry, Prince acabou com uma dor constante no quadril – e um subsequente vício em analgésicos. Foi o que o matou: Prince teve uma overdose de opióides, em abril, e não resistiu.
6. Ferreira Gullar (dezembro)
“Você é mais bonita que uma bola prateada de papel de cigarro/(…)Você é mais bonita que uma zebra/que um filhote de onça/que um Boeing 707 em pleno ar/Você é mais bonita que uma refinaria da Petrobras/(…) Olha/ Você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro em maio/ e quase tão bonita quanto a Revolução Cubana.” Ferreira Gullar foi um dos mais importantes poetas brasileiros, criador do neoconcretismo e vencedor de todos os prêmios de literatura em português que você conseguir se lembrar (Jabuti, Camões, Machado de Assis, por aí vai). Comunista, durante a nossa ditadura militar, se exilou na União Soviética, na Argentina e no Chile – embora tenha se afastado da ideologia com o fim da Guerra Fria. Escreveu, veja só, roteiros para o Carga Pesada, da TV Globo, e compôs com Fagner a versão brasileira do hit Borbulhas de Amor (cujo famoso peixe é um objeto… mais fálico do que você imaginava). Nos anos 1970, escreveu Cantada, o poema aí de cima, resuminho didático de um pedaço de sua vida.
7. Muhammad Ali (junho)
Quem não se emocionou ao ver Muhammad Ali acendendo, trêmulo, a pira Olímpica dos Jogos de Atlanta, de 1996, tem um coração peludo. Ali – ícone do box e três vezes campeão mundial – já vivia há mais de uma década com o Mal de Parkinson quando participou da cerimônia. Além de ídolo do esporte, Ali foi líder do movimento negro americano. Nascido como Cassius Clay, em 1964 ele se converteu ao islamismo, negou seu “nome de escravo” (Cassius) e começou a lutar contra a segregação racial. Em 1966, se recusou a lutar na Guerra do Vietnã e disse a famosa frase: “Por que vão me botar num uniforme e me mandar a 10 mil milhas de casa para jogar bombas sobre pessoas de pele escura no Vietnã, se negros em Louisville (no Kentucky) são tratados como cachorros e têm seus direitos humanos negados?”
8. Johan Cruijff (março) e Carlos Alberto Torres (outubro)
Eu não sei nada de futebol, mas sei quem foi Johan Cruijff. O atacante foi o responsável por tirar a seleção holandesa do anonimato e transformá-la na sensação da Copa de 1974, onde foi eleito o melhor jogador da competição. Já o futebol nacional perdeu Carlos Alberto Torres, capitão do Tri, lateral-direito amado, e técnico que deu ao Flamengo o Campeonato Brasileiro de 1983. Carlos Alberto era famoso pela liderança dentro e fora de campo – e morreu de infarto fulminante, aos 72.
9. Os passageiros do voo LaMia 2933
Por motivos óbvios. : (