Qual é o psicopata mais realista da história do cinema?
Depois de assistir a centenas de filmes, cientistas encontraram o personagem que mais se assemelha aos psicopatas da vida real.
Não dá para negar que é graças ao cinema (e, mais recentemente, à televisão) que psicopatas se tornaram um motivo tão grande de fascínio entre as pessoas. Mas, dos personagens assustadores que estamos acostumados a ver nas telas, quem realmente se assemelha aos psicopatas da vida real?
Essa pergunta foi respondida por psicólogos forenses da Bélgica – e eles garantem que filmes são, sim, úteis para que o público em geral entenda melhor os psicopatas. Mas nem todos: alguns dos psicopatas mais clássicos do cinema não passam no testes de verossimilhança.
Psico sim, mas não patas
Existe um estereótipo tradicional chamado de “psicopata de Hollywood”: esse tipo de personagem é muito inteligente, gosta de “estímulos intelectuais” como música clássica e arte, tem uma carreira de prestígio e é calmo e calculista. Ele é tão ardiloso que é capaz de prever o que suas vítimas vão fazer antes mesmo que elas o façam, e é muito habilidoso na arte de matar sem deixar rastros.
Se seu psicopata cinematográfico favorito se enquadra em alguns desses fatores, lamento: eles não tem nada a ver com o diagnóstico de psicopatia da vida real. Já cai fora, por exemplo, o Patrick Bateman, de Psicopata Americano.
Aliás, Bateman e outros renomados personagem como Travis Bickel de Taxi Driver e Norman Bates de Psicose seriam melhor enquadrados, segundo os pesquisadores, como psicóticos, e não psicopatas, já que tem experiências de desconexão com a realidade e delírios (ou melhor, “ideações delirantes”).
Sem superpoderes
Para chegar às suas conclusões, mais de 400 filmes foram assistidos e avaliados por psicólogos e psiquiatras forenses. Descontando os personagens exageradamente caricatos ou com poderes mágicos, sobraram 126 potenciais psicopatas para serem classificados.
Vintage exagerado
Os filmes mais antigos eram, na maioria, os que retratavam os psicopatas menos realistas. Na época, os personagens acabavam sendo classificados como “supervilões de gênero”, como mafiosos ou cientistas malucos. Ou então sádicos e sexualmente depravados, com compulsão por violência aleatória, tiques nervosos e maneirismos exagerados (ou delirantes).
A coisa melhora depois dos anos 1950 – mas aí esse tipo de personagem é substituído pelos “slashers”, os maníacos responsáveis por massacres de filmes de terror como Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo), Leatherface (O Massacre da Serra Elétrica) e o Jason (Sexta-feira 13).
Só nos anos 1980 que começamos a ter a era dos “psicopatas funcionais”, que conseguem se encaixar razoavelmente na sociedade, mas escondem uma dimensão assustadora da própria personalidade. O curioso é que os pesquisadores notaram que esses personagens começam a aparecer no cinema depois que criminosos psicopatas da vida real ganharam projeção (como Ted Bundy e John Wayne).
Mas isso também reforçou a ideia de que psicopatas são gênios invulneráveis, astuciosos e calculistas impossíveis de parar – o que não se classifica, para os psiquiatras belgas, como um retrato realista. Cai fora do páreo, então, personagens do tipo do Doutor Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes).
Hall da fama do realismo
Nos anos 1990 e 2000, o cinema começa a ficar mais pé no chão quanto aos seus psicopatas (e a ciência e a medicina também passa a entender melhor o diagnóstico). Eles se tornaram mais vulneráveis, menos maníacos. Há uma grande chance, portanto, de que você consiga um retrato mais preciso do distúrbio em filmes mais recentes.
Os pesquisadores acham Gordon Gekko, de Wall Street, um personagem verossímil: ele representa o grupo de psicopatas funcionais que conseguem se adaptar e tirar vantagem de seus déficits emocionais para ter sucesso no mercado financeiro.
Nenhum deles, no entanto, ganha o troféu de psicopata do cinema mais realista, do ponto de vista clínico. Esse título ficou com Anton Chigurh, personagem de Javier Barden em Onde os Fracos Não Têm Vez. “Ele é o típico psicopata primário e idiopático”, diz o estudo – o que quer dizer que a causa para seu comportamento não é óbvia, nem parece estar associada a nenhum trauma ou experiências na infância, por exemplo.
Além disso, Chigurh se mostra incapaz de demonstrar amor, vergonha ou remorso – e não consegue perceber suas peculiaridades emocionais. Ele não aprende com os erros do passado, é completamente desprovido de empatia, mas cheio de sangue-frio, crueldade e determinação.
Segundo os autores do estudo, dá para traçar paralelos entre várias dessas características do personagem de Barden com um psicopata da vida real, no caso, Richard Kuklinski, um assassino de aluguel que afirma ter matado mais de 100 pessoas.
A conclusão final dos pesquisadores é que a maioria dos psicopatas de filme não são nada realistas: são ficcionais quanto o bicho-papão. Daqueles que escapam a essa regra, no entanto, está liberado ter medo: os distúrbios que eles mostram chegam bem perto do que os psiquiatras conhecem no mundo real.