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Por que “A Felicidade Não Se Compra” é o filme mais inspirador da história

Maior clássico de Natal do cinema tem um enredo sombrio, mas passa uma mensagem de bons valores numa sociedade corrompida.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 23 dez 2022, 18h39 - Publicado em 23 dez 2022, 18h00

Segundo o American Film Institute, que faz uma curadoria de diversas listas de melhores da história do cinema, A Felicidade Não Se Compra (“It’s a Wonderful Life”, 1946), do diretor Frank Capra, é o filme mais inspirador de todos os tempos. E se tornou um clássico entre os filmes de Natal – embora a intenção do diretor não fosse essa no início. Até porque a obra parte de um argumento bem sombrio antes do incontornável final feliz. 

Resumindo aqui a história: George Bailey (interpretado por James Stewart, o ator preferido de Hitchcock) é um sujeito que constantemente deixa suas ambições profissionais em segundo plano para poder ajudar as pessoas mais necessitadas de sua comunidade. Ele administra uma financeira que dá empréstimos bem camaradas e estabelece um conjunto habitacional para pessoas pobres. Até que, acidentalmente, perde um dinheiro grande do seu negócio, bem na véspera de Natal, e cogita se suicidar. Mas aí a fantasia entra em cena.

Um anjo aparece bem na hora em que o protagonista está prestes a se jogar de uma ponte. E o leva a uma realidade paralela: a de como a vida das pessoas ao seu redor seria uma desgraça se ele não existisse. De como George Bailey é importante demais para achar que vale mais vivo do que morto (um seguro de vida em seu nome faz parte dos pensamentos suicidas do homem).

Demorou para cair nas graças do público

Quando o filme foi lançado, porém, a recepção não foi das mais calorosas. Os Estados Unidos haviam acabado de sair da Segunda Guerra Mundial, e o tom deprimente da maior parte do enredo não era bem o que os americanos estavam dispostos a ver nas telas. Depois do conflito internacional mais terrível da história, eles queriam assistir a comédias românticas leves e obras mais otimistas. 

O próprio diretor do filme e seu ator principal tiveram participação direta na guerra antes de voltar a Hollywood. Frank Capra trabalhou como documentarista de propaganda para o governo dos EUA e viu os horrores de perto. Stewart foi piloto de bombardeiro na Europa e voltou a seu país com transtorno de estresse pós-traumático. 

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Também não ajudou na popularidade do filme, à época, o fato de ter sido acusado pelo FBI de ter “conteúdo comunista”. Isso porque o roteiro teria demonizado a imagem dos banqueiros ao colocar como vilão da história um dono de banco malvado, que rivaliza com o bonzinho Bailey.

Um clássico, afinal

Mas como esse filme deprê e “comunista” viraria um clássico de Natal nos Estados Unidos? Em 1974, um erro administrativo fez com que os direitos autorais da obra não fossem renovados. E isso teve uma consequência: as emissoras de TV podiam exibi-lo sem ter de pagar nada. 

Resultado: nas duas décadas seguintes, acabou sendo transmitido direto nos lares americanos, especialmente no período de festas de fim de ano, já que seu clímax acontece bem numa véspera de Natal. E assim A Felicidade Não Se Compra consolidou seu lugar na consciência do público como um filme que promovia bons valores dos velhos tempos em uma sociedade cada vez mais voltada para o dinheiro.

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Em 1993, a Republic Pictures até conseguiu os direitos do filme num processo judicial, mas aí o longa-metragem já tinha passado quase 20 anos pelas TVs americanas. Já tinha virado um clássico. 

Ficou tão popular que rendeu até um novo conceito para a psicologia: o “Efeito George Bailey”, a condição de quem imagina um mundo no qual nossas vidas são piores. Estudos sugerem que as pessoas pensam melhor em suas circunstâncias atuais se imaginarem que coisas ruins poderiam ter acontecido com elas se tudo fosse diferente.

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