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O que o cabelo da Princesa Leia tem a ver com sua memória?

O penteado da personagem de Star Wars interpretada por Carrie Fisher sempre gera discussão. Ele até invadiu a ciência para nos ajudar a entender as memórias

Por Mayla Tanferri, de Saúde
Atualizado em 23 out 2020, 19h57 - Publicado em 10 jan 2017, 17h10

Desde o falecimento da atriz Carrie Fisher — conhecida por seu papel como Princesa Leia Organa, na saga Star Wars —, uma discussão voltou a se espalhar pela internet. Qual a real história por trás do icônico penteado com coques laterais?

Em entrevistas, George Lucas — o criador de uma galáxia muito, muito distante — disse ter se inspirado em mexicanas revolucionárias do início do século 20. Elas eram chamadas de las soldaderas e, sob o comando do general Pancho Villa, lutaram contra o ditador Porfírio Dias na conhecida primeira revolução social do século passado.

As referências por trás de Star Wars

A declaração de George Lucas sobre las soldaderas sustenta o próprio papel exercido por Leia (líder da Aliança contra o Império nos aclamados filmes da série) e, de quebra, aquece o coração das nerds rebeldes. Mas vale ressaltar que o criador de Star Wars sempre fez questão de declarar que suas maiores inspirações foram Flash Gordon, herói dos quadrinhos de aventura que popularizou o gênero da ópera espacial*, e os trabalhos do diretor Akira Kurosawa, um dos maiores cineastas do Japão e mestre dos filmes históricos de samurai.

Não é tão difícil notar essas referências ao observar a personagem Queen Fria (Rainha Fria) em “The Ice Kingdom of Mongo”, um quadrinho de Flash Gordon, ou perceber as similaridades entre Darth Vader e quaisquer sabre de luz com capacetes e espadas de samurais.

O que George Lucas e nem os fãs que fomentam a discussão sobre o cabelo de Leia desconfiam é que ondas elétricas emitidas pelo cérebro desenham elipses em nossa cabeça com o formato do famigerado penteado da Princesa Rebelde. E isso tem tudo a ver com suas lembranças.

Cientistas do The Salk Institute, na Califórnia (EUA), descobriram que, enquanto dormimos, ondas elétricas de atividade cerebral circulam em torno de cada lado do cérebro. Esses padrões, se surgissem na superfície da nossa cabeça, ficariam parecidos com os coques duplos de Leia.

Os pesquisadores carinhosamente apelidaram essas oscilações de “Princess Leia brainwaves”, ou ondas cerebrais da Princesa Leia. E olha que interessante: essas descargas podem ser responsáveis pela associação entre diferentes aspectos das memórias que criamos ao longo do dia.

Já é sabido que a consolidação das lembranças acontece nos primeiros estágios do sono, em um padrão de onda cerebral conhecido como sleep spindles, ou fusos de sono. Quanto mais fusos de sono o cérebro humano exibe durante a noite, mais a pessoa se lembraria no dia seguinte. Aliás, está aí mais um argumento para valorizar o sono e não ver suas séries favoritas na madrugada.

Todavia, não estava claro como esses fusos de sono estavam relacionados com a memória. Em busca de uma análise mais ampla, Lyle Muller e Terrence Sejnowski, autores do trabalho, recorreram aos chamados eletrocorticogramas intracranianos (ECoGs), gravações em grande escala que medem a atividade elétrica em várias áreas do cérebro de uma só vez.

Para a surpresa dos experts, os dados dos ECoGs revelaram que os fusos do sono avançavam em padrões circulares ao redor das áreas mais evoluídas do cérebro. Após atingir um pico, eles passavam, em milésimos de segundos, a uma área adjacente. Ao longo da noite, esses padrões de rotação se repetiam centenas e centenas de vezes em questão de horas.

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Os cientistas acreditam que essa organização de atividade do cérebro permite que neurônios de uma área se comuniquem com os de outra. Aí que está: uma memória é feita de diferentes componentes (cheiro, sons, imagens), que são armazenados em várias regiões da cabeça. Os cientistas acreditam que, enquanto uma memória é consolidada, as “Princess Leia brainwaves” ajudam a formar as ligações entre essas diferentes partes de uma única recordação.

Com o entendimento de como as lembranças são firmadas no cérebro, talvez seja possível desenvolver métodos para quebrar memórias extremamente traumáticas. Ou, quem sabe, desfazer emoções negativas vinculadas a elas. Além disso, a descoberta fomenta mais estudos sobre distúrbios como a esquizofrenia, que afeta os fusos do sono.

Que a Princesa Leia — ou melhor, Carrie Fisher — está consolidada em nossa memória não há dúvidas. A surpresa é saber que, de certa forma, seus cabelos estão enraizados em todas as nossas lembranças. As oscilações da Força permanecem um mistério a ser estudado até em suas formas mais simples. Como as espirais de dois coques revolucionários.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Veja Saúde

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