O que acontece quando humanos chegam a um mundo habitado?
A experiência da expansão colonial europeia durante as grandes navegações dá uma dica: não é muito bonito de ver
Se existir mesmo vida inteligente em outros lugares do Universo, é provável que vários séculos se passem antes que a humanidade tenha chance de encontrá-la cara a cara. Por isso, o único guia para especular sobre como seria esse encontro é a própria história da Terra. Pois é, você adivinhou: pelo menos no começo, é bem possível que o principal legado desse primeiro contato seja uma vasta contagem de corpos.
E não precisa nem ser por causa de violência de parte a parte. A julgar pelo que aconteceu quando regiões desconhecidas por terráqueos ocidentais foram visitadas pela primeira vez, o buraco é mais embaixo e atende pelo nome de imperialismo ecológico. É o fenômeno responsável pelo fato de o Brasil estar infestado de espécies africanas de gramíneas, ter o mosquito da dengue (um “produto de importação” asiático) entre sua fauna e, principalmente, pelas epidemias de doenças “bobas” – sarampo, catapora, caxumba – que mataram muito mais indígenas nas Américas, na Austrália e na Polinésia do que as armas do “homem branco”.
Sem competição
Aqui na Terra, o imperialismo ecológico acontece porque as espécies de plantas, animais e micróbios de um continente não possuem inimigos naturais nem predadores em outro continente. Por isso, proliferam insanamente. No caso de doenças infecciosas, a falta de imunidade natural, desenvolvida ao longo de gerações de pessoas que, digamos, pegaram catapora na infância, fez os povos nativos morrer feito moscas a um mero espirro dos europeus.
É claro que há vários senões quando a situação deixa de ser transcontinental e vira transplanetária. Um ambiente alienígena é tão, bem, alienígena que espécies da Terra teriam muito mais dificuldade em saltar com sucesso para ele. Aliás, o próprio organismo ET seria tão esquisito que só os micróbios terráqueos mais ninjas dariam um jeito de explorá-lo. Por outro lado, as oportunidades do ponto de vista da seleção natural seriam tão grandes que conseguir dar o salto acabaria sendo, talvez, questão de tempo.
Caso você não tenha notado, a faca corta dos dois lados. Parasitas ETs também estariam loucos de vontade de nos atacar. Decerto os viajantes espaciais terão uma política de esterilização radical, mas o que já se sabe sobre a resistência de microrganismos sugere que não dá pra fazer mágica – algum vai acabar escapando.
A questão de um conflito armado entre aliens e nós é mais delicada. A sociedade moderna tenta cada vez mais ser tolerante em relação a outras culturas. Mas, se toparmos com uma civilização tecnologicamente inferior, sentada em cima de recursos naturais valiosos, tudo o que sabemos sobre a história humana sugere que, se eles não liberarem a mixaria por bem, nós vamos acabar querendo pegá-la por mal.