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O escritor sem rosto

Como um misterioso autor brasileiro que publicava textos no Orkut conquistou fãs na Inglaterra e acabou apadrinhado pelo editor de Harry Potter

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 6 abr 2014, 22h00

Por Gabriel Castaldini

Ninguém sabe se é homem ou mulher, tampouco sua idade nem de onde veio. Só o conhecem como Dark Writer, um misterioso e mascarado escritor brasileiro que ficou conhecido internacionalmente – mesmo sem ter publicado um livro sequer.

Tudo começou em 2010, quando surgiu o projeto literário chamado DarkWriterProject. Usando Twitter e Orkut, ele pesquisava pessoas que gostavam de ler e estudava seus gostos antes de enviar um pedido de amizade instigando: “Gostaria de acompanhar a criação de um livro?”. Esse crivo no início foi importante para o projeto chegar a pessoas que realmente pudessem se interessar – e divulgar a obra. Quem não apagou a mensagem e resolveu ver do que se tratava descobriu a história de Mary Prince, jovem de Londres que sai em viagem com a família, mas cuja vida toma rumos inesperados após um meteorito destruir o Big Ben.

Por dois anos, os seguidores acompanharam a evolução da história, com direito a dar pitacos ao autor, que alterou o fim de um dos capítulos ao ouvir a opinião deles. A cada três ou quatro meses, Dark Writer liberava um novo capítulo para download. Ao longo do processo, o autor montou uma equipe para fazer ilustrações, diagramar e divulgar a obra – sem que ninguém soubesse sua identidade. “Sou muito tímido. Além disso, queria brincar com a imaginação do leitor”, diz em entrevista via Facebook. Por isso, o anonimato sempre fez parte do projeto.

Na Bienal do Livro de 2012, em São Paulo, o escritor apareceu com sua máscara junto da ilustradora Nahamut, que retrata o mundo de Mary Prince e integra a equipe editorial. Não bastasse o sujeito estar mascarado, ele só se comunicava por mímica, com Nahamut (que também não revela seu nome verdadeiro) bancando a intérprete. A dupla queria divulgar a obra às editoras brasileiras, mas, mesmo chamando atenção com a abordagem inusitada, não conseguiu nada. De qualquer forma, a Bienal teve um papel importante para eles, pois deixou Dark Writer mais próximo de pessoas que só o conheciam na internet. “Entrar em contato com leitores que enfrentaram horas de viagem para nos conhecer mostrou que não podíamos desistir”, lembra Nahamut.

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A saga de Mary Prince parecia destinada a esse relativamente pequeno nicho de cerca de 10 mil seguidores online até que a professora de inglês Alice Fagiolo, outro membro da equipe, traduziu o primeiro dos nove capítulos, em 2012. “Já se pensava em levar a história a outros países, especialmente a Inglaterra, onde ela se passa”, lembra Alice, que foi convidada a conhecer o mundo de Mary Prince por sua experiência como tradutora no Oclumência, um fã-clube brasileiro da saga Harry Potter.

Dark Writer passou a ser conhecido entre ingleses. Uma dessas novas leitoras, Alice McCall, 14 anos à época, tuitou o capítulo traduzido pela xará brasileira, chamado A Luz na Estrada, sugerindo-o a um figurão do mercado de livros britânico: Barry Cunningham, editor que lançou J.K. Rowling e seu Harry Potter. Cunningham já havia visto comentários de fãs de Dark em um fórum da série Túneis, publicada no Reino Unido pela editora onde ele trabalha. O barulho funcionou, ele resolveu ler e então veio a grande guinada. “Logo vi que o trabalho era interessante, mas precisava de organização. Foi por isso que fiz questão de contatá-lo”, diz Cunningham. O brasileiro, que até então teve como editores seus próprios leitores na internet, de repente trabalharia com o homem que deu a chance a um fenômeno que vendeu cerca de meio bilhão de livros nas últimas duas décadas. Escritor e editor passaram a trocar e-mails, e em janeiro Dark Writer se mudou para Londres.

Cunningham sugeriu retirar quase toda a obra da internet, já pensando em algo maior (embora alguns fãs mantenham esses trechos retirados). O autor concordou, feliz da vida. “Demorou para a ficha cair. Ao ver o Barry descendo as escadas do café, fiquei sem reação”, lembra. Na Inglaterra, Dark Writer contou com o apoio dos leitores para financiar 200 cópias do primeiro capítulo, que foram distribuídas em Londres e Oxford. Uma tática de guerrilha antes de lançá-lo no mercado de vez. Até hoje, só Cunningham sabe quem está por trás da máscara. É só um autor ou são vários? É realmente alguém anônimo ou um escritor conhecido se escondendo? O mistério só deve ser revelado em breve, quando o livro sair com um título decidido, possivelmente, pelos leitores.

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Máscara de Lady Gaga

Antes de publicar, Dark Writer já se cerca de um marketing poderoso.

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Em junho de 2011, Dark Writer ganhou a máscara que se tornou sua marca (essa aí da página ao lado). Presente de um fã que o autor ganhou por meio do Twitter: o designer americano Joji Kojima, conhecido por já ter colaborado com o figurino de Lady Gaga. “Kojima ficou curioso sobre a minha identidade e a maneira como eu me apresentava nas redes sociais. Então decidiu me apoiar criando uma máscara exclusiva”, diz Dark. Kojima se inspirou nas próprias ilustrações da obra na internet, criadas por Nahamut. Mais um belo golpe de marketing do autor.
Leia o primeiro capítulo na íntegra abr.ai/dark-writer

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